Durante uma crise, pagar o aluguel é um desafio por vezes homérico para famílias... e empresas. A startup de coliving Bungalow que o diga.

A plataforma de moradia compartilhada, que captou US$ 96 milhões com investidores como Founders Fund, Atomic e Khosla Ventures, está avisando os proprietários dos imóveis que aluga que talvez não consiga honrar seus acordos financeiros a partir do mês de outubro.

A informação foi revelada pelo site americano The Information, que teve acesso ao e-mail encaminhado aos donos das casas e apartamentos alugados pela startup. "Nossa capacidade de fazer os pagamentos daqui para frente está seriamente comprometida", escreveu a empresa na mensagem.

Fundada em 2016 pelo jovem Andrew Collins, a companhia tem como modelo de negócios alugar casas e apartamentos para depois sublocar quartos individuais por um valor fixo. Quem pode levar o calote são os donos dos imóveis.

A plataforma administra e subloca entre 500 e 1.000 imóveis, todos com contratos vigentes por dois ou três anos. As unidades ficam em cidades de grande procura, como Los Angeles, San Diego, São Francisco, Nova York, Seattle, Portland, Philadelphia Baltimore, Boston e mais.

A Bungalow fica responsável por toda a interação com os locatários. Ela também cuida da decoração das áreas comuns, do Wi-Fi, dos serviços de jardinagem e também das manutenções.

Aos inquilinos cabe apenas pagar um valor fixo por mês à startup, que, por sua vez, desembolsa uma parte desse montante para pagar os proprietários dos imóveis. A startup ganhou tração com um público jovem, seduzido pelo seu apelo tecnológico e social e que facilita o "match" com um roommate.

No começo deste ano, a companhia revelou em nota enviada a investidores potenciais que estava faturando US$ 55 milhões de receita anual recorrente, mas não deixou claro como define sua métrica.

A Bungalow, no entanto, não atravessou ilesa o declínio do mercado imobiliário de metrópoles como San Francisco, Nova York e Seattle. "O resultado é uma pressão insustentável sobre nossa empresa e todo o setor de locação imobiliária", escreveu a plataforma na mensagem endereçada aos proprietários.

Collins, que também é o CEO da empresa, confirmou o "aperto" ao The Information e disse que a startup está buscando renegociar os acordos de locação com alguns proprietários e encerrar contratos com outros.

"Ficou evidente que o mercado de aluguel não está se recuperando com rapidez. Então, estamos tentando conversar com os donos dos imóveis para que possamos nos ajustar a essa nova realidade", disse o empreendedor.

A agência Datex apurou que, no mês de maio, 41% dos aluguéis assinados por varejistas não foram pagos, enquanto um terço dos aluguéis residenciais trilharam o mesmo caminho nos Estados Unidos.

Por conta da pandemia, algumas regras do setor imobiliário foram flexibilizadas. Os despejos, por exemplo, foram suspensos em muitos estados americanos. Aqueles inquilinos que não conseguiram pagar seus aluguéis e contas terão um prazo maior para quitar, de forma fracionada, essa dívida. O número máximo de parcelas varia de acordo com as diretrizes de cada governo.

Além da crise, a Bungalow estava "subsidiando" seus negócios para ganhar mercado e clientes. Em Seattle, por exemplo, uma casa alugada pela companhia por US$ 4 mil, era sublocada a outros três inquilinos que, juntos, pagavam US$ 3,2 mil.

Todo esse drama em curso na Bungalow não é exatamente inédito. Sua principal concorrente, a HubHaus, que atuava sob o mesmo modelo de negócio, não aguentou o tranco da pandemia e encerrou oficialmente sua operação na quarta-feira, 30 de setembro.

Há meses, a HubHaus dava sinais de desgaste e chegou a mandar uma carta, em 23 de setembro, aos proprietários e inquilinos para informar sobre a dispensa de toda a equipe da startup. Com isso, os donos dos imóveis passaram a operar de maneira "convencional", cobrando diretamente os locatários.

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