"Quando tudo isso vai acabar?", essa é a pergunta que mais se ouve no consultório e na sala de aula do epidemiologista canadense David Fishman, que atua como médico e professor na Weill Cornell Medicine. "Adoraria ter a resposta para essa pergunta, mas tudo o que posso dizer é 'espero que acabe logo'. No mais, estou otimista com os avanços nas pesquisas e testes que estamos vendo", contou ao NeoFeed.

O médico se refere às diversas iniciativas que ganharam força simultaneamente em diferentes países, num esforço coletivo para abreviar, ou talvez "aliviar", a maior pandemia deste século. 

A pressa das mais variadas instituições tem fundamento: todos os continentes do mundo já registraram casos do novo coronavírus, que infectou mais de 200 mil pessoas em todo mundo, levando a óbito mais de 7 mil. No Canadá, onde o Dr. Fishman vive e trabalha, são 621 casos confirmados e 35 suspeitos. 

E é "perto" de casa que o médico acompanha uma das pesquisas mais promissoras. O laboratório de biotecnologia Moderna Inc., com sede em Massachusetts, contou com o apoio dos cientistas do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NAID, na sigla em inglês) para chegar à vacina mRNA-1273, uma possível arma contra o coronavírus. 

A droga está sendo testada no hospital Kaiser Permanente, de Seattle, no estado de Washington, e está em sua primeira fase. Nesta etapa, 45 adultos saudáveis, entre 18 e 55 anos, se voluntariaram para participar do estudo.

Os participantes serão divididos em três grupos de 15 pessoas e uma dosagem específica (de 25 mcg, 100 mcg ou 250 mcg) será será aplicada em cada um dos agrupamentos. 

Todos os voluntários receberão duas vezes a mesma dose da vacina por meio de injeções intramusculares no braço, com aproximadamente 28 dias de intervalo. 

A cada um dos participantes é solicitado visitar presencialmente o consultório médico para fins de acompanhamento e monitoramento clínico pelo período de até um ano após a segunda injeção. 

"Historicamente, as vacinas levam de dois a cinco anos para chegar ao mercado. Mas, com esse esforço global, acredito que teremos uma resposta num tempo recorde", afirma Dr. Fishman. "Ainda assim, acho pouquíssimo provável que tenhamos a injeção pronta antes de meados de 2021". 

"Historicamente, as vacinas levam de dois a cinco anos para chegar ao mercado. Mas, com esse esforço global, acredito que teremos uma resposta num tempo recorde", afirma Dr. Fishman

Parte da "demora" tem a ver com protocolos obrigatórios, uma vez que o desenvolvimento clínico é trifásico. Durante a Fase I, pequenos grupos de pessoas recebem a vacina experimental. Na Fase II, o estudo clínico é ampliado e a vacina é administrada a pessoas com características (como idade e saúde física) semelhantes àquelas para as quais a nova vacina é destinada. Na fase III, a vacina é administrada a milhares de pessoas e testada quanto à eficácia e segurança.

Enquanto esses estudos seguem seu curso natural e obrigatório, o médico relembra que é uma confusão corriqueira presumir que a vacina seja a cura. "Vacinas não instrumentos preventivos; elas 'blindam' o organismo contra o vírus", diz.

Nasce um remédio?

Neste sentido, de tratamento do Covid-19, o Japão talvez esteja mais perto de "matar a charada". Vem do laboratório Fujifilm Toyama Chemical a droga Favipiravir, conhecida localmente como Avigan, que foi usada com sucesso em pacientes chineses. 

Em entrevista à imprensa de seu país, Zhang Xinmin, um dos membros da equipe do Ministério da Ciência e Tecnologia da China, afirmou que o remédio teve resultados encorajadores em 340 pessoas contaminadas nas províncias de Wuhan e Shenzhen. 

Segundo o oficial chinês, exames de raio-x confirmaram melhorias de até 91% dos pulmões de quem recebeu a droga, contra 62% dos que foram tratados sem esse medicamento.

Desde que a notícia veio à tona, a Fujifilm ainda não se pronunciou sobre o caso – e esse silêncio parece ter atraído ainda mais os investidores. Na bolsa, a companhia japonesa viu seus papéis subirem 28,6% nos últimos dois dias, saltando de US$ 40,08 para US$ 56,16. O valor de mercado atual da empresa é de US$ 19,9 bilhões.

Ascensão semelhante é experimentada pelo laboratório Gilead Sciences, cuja droga Remdesivir já está na terceira fase de testes e, se aprovada, pode combater o Covid-19. "O remédio demonstrou atividade in vitro e in vivo em modelos animais contra os patógenos virais MERS e SARS, que também são coronavírus e são estruturalmente semelhantes ao novo coronavírus", disse a empresa em comunicado oficial.

Administrada por via intravenosa, a droga é agora testada em um grupo de mil pacientes em centros médicos de diferentes países. Embora ainda não tenha ainda nenhum tipo de aval, a farmacêutica já colhe os frutos dessa pesquisa no mercado de ações. Nos últimos cinco dias, a Gilead viu seus papéis decolarem 13,3%, e seu valor de mercado chegar a US$ 100 bilhões. 

Paralelo a essas apostas, cientistas de universidades também estão cheios de munição para combater a doença. Os pesquisadores da Universidade de Columbia, por exemplo, têm recebido doações de diversos empresários e fundações. O plano é dividir os estudiosos em quatro times e a cada grupo designar um approach diferente rumo a uma vacina. 

Já a Universidade de Tulane, em New Orleans, vai utilizar os fundos doados pela Brown Foundation – iniciativa criada pelo magnata Herman Brown, do ramo de construção – para fomentar o programa de pesquisa que tem também, como missão, encontrar uma possível vacina para o vírus.  

Outras dezenas de empresas, em vários países, fazem suas apostas e investimentos neste sentido – mas só algumas se debruçam na tentativa de criar um remédio. Isso porque, de acordo com o Dr. Fishman, o processo de aprovação de uma nova droga é longo demais, e faz mais sentido pensar em vacinas, que nos deixam imunes ao vírus.

"Já ouviu aquela velha frase de que, às vezes, o melhor ataque é uma boa defesa? Acho que ele se aplica a esse caso do novo coronavírus. Uma vacina permitiria que as pessoas não sejam transmissoras, cortando o mal pela raiz", diz Fishman. 

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