O empresário Alexandre Lafer Frankel criou a Housi, plataforma que operava moradia corporativa em curta temporada, inicialmente para gerenciar os imóveis que eram da Vitacon ou de investidores que compravam os apartamentos da incorporadora.
Mas a dura realidade da pandemia obrigou Frankel a mudar o seu modelo de negócio. “Por necessidade, criamos a moradia por assinatura por períodos maiores. Fizemos isso para a gente e vimos que poderia ser poderoso para o mercado”, diz ele ao NeoFeed.
E isso fez a startup levar a marca Housi para outras cidades, trabalhar com outras incorporadoras espalhadas pelo Brasil como uma espécie de franquia e colocar na sua plataforma tanto quartos de hotéis e pousadas como apartamentos antes disponíveis só em Airbnb.
Os números revelados por Frankel impressionam. Um ano atrás, a empresa estava somente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Hoje, sua bandeira está fincada em 80 cidades do País, onde tem parceria com incorporadoras. “Estamos com R$ 8 bilhões em VGV nos próximos 12 meses sem ter um terreno ou um tijolo”, afirma o empresário.
Diante disso, a companha está lançando outro braço: a Housi Vendas, para comercializar esses ativos com investidores de todo o Brasil. “Antes, o incorporador de Maringá só vendia para investidores locais. Agora, pode vender para pessoas de qualquer lugar”, afirma.
A ideia é ganhar uma comissão sobre as vendas e, além disso, disponibilizar o imóvel comprado pelo investidor para a locação por assinatura. O potencial é grande. Nos próximos 12 meses, 19,2 mil unidades que ficarão prontas para serem vendidas e a Housi espera vender entre 10% e 20% desse total.
“Isso tudo foi fruto da crise e da turbulência. Demorariam anos para chegarmos aonde estamos hoje”, diz Frankel. Outro número ajuda a entender o avanço da plataforma em novas frentes. Há três meses, a Housi passou a fazer acordos com redes hoteleiras para oferecer quartos ociosos para que os usuários aluguem por até seis meses.
Estão nesse bolo redes como Atlântica, Blue Tree, Hilton São Paulo, Staybridge, Transamérica Comandatuba, Selina Hotels, entre outras. “Temos quase 100 mil unidades disponíveis na nossa plataforma”, diz ele. E prossegue. “Se o Airbnb levou os turistas para as residências fazendo com que elas se tornassem “hotéis”, estamos levando moradia para ativos de hospedagem que estão ociosos.”
As pessoas que trabalhavam com hospedagem, host de Airbnb, e os hotéis e pousadas que estavam vazios, passaram a se plugar na plataforma. “Com o home office, as pessoas perceberam que podem morar em Porto de Galinhas (PE), em Balneário Camburiú (SC), num hotel resort pagando menos, com infraestrutura de frente para a praia.”
Ao levar um usuário a “alugar” um quarto de hotel por 180 dias, a Housi ganha uma comissão de 10%. Para os hotéis, ao que parece, é um bom negócio. “Mesmo na pré-pandemia, os hotéis urbanos tinham uma média de 40% de ociosidade”, afirma Frankel. “É vantajoso alugar esses quartos vazios, mesmo pela metade do que cobrariam.”
A rede de hotéis Selina, com sede no Reino Unido e presença em 18 países, foi uma das que entrou na plataforma da Housi. A companhia, que desembarcou no Brasil em 2018, tem um modelo que mescla hotelaria, coworking e cozinha compartilhada nos empreendimentos.
“Nossa rede nasceu mirando os nômades digitais”, diz Flávia Lorenzetti, diretora-executiva de expansão da Selina no Brasil. Fundada em 2015, a rede recebeu aportes que totalizam US$ 395 milhões. Por aqui, ela conta com seis hotéis: dois em São Paulo, dois no Rio de Janeiro, um em Paraty e outro em Florianópolis. O sétimo será inaugurado em Foz do Iguaçu.
“Estávamos sofrendo para explicar o nosso modelo de negócios”, diz Lorenzetti. Se, por um lado, a pandemia fez a ocupação desabar, por outro, ajudou a difundir o estilo de vida dos nômades digitais, do anywhere office. Antes da pandemia, a ocupação ficava entre 55% e 60% de ocupação. Hoje, está entre 40% e 45%.
A rede, que também está plugada em Booking.com, Hotels.com, Airbnb e outras plataformas, entrou na Housi pelo modelo de negócio parecido, voltado ao público digitalizado, e, sobretudo, para preencher a ociosidade. “Fazemos o controle diário para ver quais unidades podem ser alugadas tanto para long stay como short stay”, diz Lorenzetti.
Frankel, da Housi, diz que esse modelo pode ser replicado em qualquer lugar do mundo e pretende levar a Housi para outros países. Com um cap table formado pelos sócios fundadores e o fundo de venture capital Redpoint eventures, que investiu R$ 50 milhões na startup no fim de 2019, ele diz que pretende buscar uma nova captação no ano que vem.
No ano passado, a Housi tentou abrir capital na B3, mas não teve aderência no mercado e o empreendedor resolveu tirar o time de campo. Não é, definitivamente, um modelo fácil de ser compreendido e os números da Housi eram pequenos.
A Housi também tem pela frente um batalhão de concorrentes disputando esse mercado, empresas que também fazem uso intensivo de tecnologia no mercado imobiliário/hoteleiro.
A Loft, que avaliada em US$ 2,9 bilhões, é dona da Nomah. A mexicana Casai, que chegou ao Brasil em maio deste ano, já recebeu aportes de US$ 53 milhões. Há ainda a JFL Living, da incorporadora JFL, e uma nova empresa da Cyrela em sociedade com a americana Greystar Real Estate Partners e o fundo de pensão canadense CPP Investments.
Indagado sobre esse espaço cada vez mais cheio, Frankel diz que a Housi poderá trabalhar com todos eles. “A pessoa que busca turismo de curta temporada aluga no Airbnb. Quando quer fazer contrato mais tradicional, com a ajuda de um broker, visitando a residência, vai no QuintoAndar. Mas se busca algo flexível, nesse meio termo, é com a gente.”