A HP e a Xerox foram duas das companhias mais inovadoras do mundo. A garagem onde a HP foi fundada, em 1939, por Bill Hewlett e David Packard, é a mãe de todas as garagens do Vale do Silício. Do PARC, laboratório de inovação da Xerox, em Palo Alto, saíram alguns produtos que revolucionaram o mundo, como o mouse, copiado por Steve Jobs no projeto do Macintosh.

Mas o tempo passou e as duas companhias estão longe, muito longe da velha forma, atuando em mercados que não tem mais o glamour do passado, como impressoras e computadores pessoais.

Agora, a Xerox, que virou sinônimo de copiadoras, acredita ter encontrado a solução para copiar o brilho do passado: comprar a HP. O principal aliado dessa empreitada é investidor ativista Carl Icahn, que tem uma posição de 10,6% na Xerox e de 4,6% na HP.

"Acho que é uma combinação fácil", disse Icahn, em uma entrevista ao jornal americano The Wall Street Journal, no ano passado, quando começaram as investidas da Xerox à HP. "Acredito muito nas sinergias."

O problema é que a maioria dos acionistas da HP não estão topando o negócio e estão se armando para uma briga contra a oferta.

No começo dessa semana, a Xerox, que vale US$ 7 bilhões, aumentou outra vez sua proposta, avaliando a HP em US$ 35 bilhões, um prêmio de quase 20% sobre o valor de mercado da empresa na terça-feira, 3 de março.

“Os benefícios potenciais de uma combinação entre HP e Xerox são evidentes. Juntos, poderíamos criar um líder do setor – com escala aprimorada e as melhores ofertas da categoria em um portfólio completo de produtos – que estará posicionado para investir mais em inovação e gerar maiores retornos para os acionistas”, escreveu John Visentin, presidente da Xerox, em uma das ofertas, ao defender a união.

Mas nada disso tem adiantado. Agora, as duas companhias estão trocando farpas pela imprensa. A HP acusa a Xerox de não ser transparente em relação a alguns dados sensíveis, fundamentais para a consideração da oferta. Enquanto isso, a Xerox alega que a HP não deseja uma fusão, ainda que seja do interesse de alguns de seus acionistas.

Apesar das animosidades, há um problema maior a ser enfrentado. A Xerox, que fabrica grandes impressoras e copiadoras e faz dinheiro alugando-as para empresas, e HP, que produz pequenas impressoras e PCs, atuam em mercados que enfrentam declínios de vendas.

O mercado de impressão deve encolher 1,3% em 2020, chegando a US$ 79,3 bilhões, segundo dados da agência IBISworld. Em 2019, o mercado de PCs cresceu pela primeira vez desde 2011. Mas foram apenas 2,7%, com vendas de 266,7 milhões de equipamentos, segundo a empresa de pesquisa especializada em tecnologia IDC. A HP é a vice-líder, atrás da chinesa Lenovo.

Apesar disso, o analista Robert Schiffman, da Bloomberg, revelou em um artigo publicado em novembro do ano passado que "a fusão entre as companhias poderia criar um negócio capaz de valer US$ 70 bilhões.”

A Xerox estima que a combinação das duas empresas poderia poupar US$ 2 bilhões anuais aos cofres das organizações. A HP contesta essa equação, alegando que a cifra é alta por demais.

Ao NeoFeed, o professor Christopher Kummer, presidente do Instituto para Fusões, Aquisições e Alianças (IMAA, na sigla em inglês), afirma que, na maioria dos casos, a combinação de duas empresas que estão enfrentando dificuldades não funciona.

“E o cenário é ainda mais desafiador para marcas que atuam em setores que pedem mudanças e inovações rápidas", diz Kummer.

As duas companhias viveram seus auges há muito tempo. A Xerox teve seu melhor momento em abril de 1999, quando suas ações eram negociadas a US$ 155,63. Hoje, seus papéis são vendidos a US$ 31,87, numa queda de 79,52%.

O apogeu da HP aconteceu em janeiro dos anos 2000, com cada ação valendo US$ 30,10. A queda para o patamar atual, de US$ 20,75, foi de mais de 30%.

O risco de uma união Xerox e HP não é muito diferente do da compra da Nokia pela Microsoft. Em 2013, a companhia de Bill Gates pagou US$ 7,2 bilhões pela fabricante de celulares finlandesa.

A Microsoft patinava no setor móvel e viu na Nokia, que já tinha sido líder mundial, mas havia ficado para trás desde que a Apple lançou o iPhone, em 2007, uma chance de ser relevante em smartphones.

A história lembra que deu tudo errado. Nem a Microsoft ganhou relevância, muito menos a Nokia reviveu os bons tempos. O saldo foi uma baixa contábil de US$ 7,6 bilhões três anos depois e o fim do sonho da companhia de Redmond, nos EUA, de vencer a Apple em celulares.

Agora, a Xerox quer copiar o passado com a compra da HP. Se conseguir levar a rival, resta saber com qual qualidade essa cópia vai sair no papel.

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