A Rede D’Or São Luiz se estabeleceu, nos últimos anos, como um player dominante no setor de saúde, ganhando escala suficiente para conseguir boas condições nas negociações com os operadores e planos de saúde. Mas essa musculatura e dominância não será capaz de proteger a companhia dos problemas que o segmento está enfrentando.

Com o índice de sinistralidade nos piores níveis da história, chegando a 92%, os custos médicos em alta e a deterioração das condições econômicas, os analistas do UBS BB avaliam que dificilmente a Rede D’Or será capaz de estabelecer reajustes que façam com que os resultados retornem aos níveis pré-pandemia no curto prazo.

Diante desse diagnóstico, e considerando o aumento do custo de capital e a falta de catalisadores para que as ações subam, os analistas Vinicius Ribeiro e Beatriz Shinye  decidiram reduzir o preço-alvo dos papéis da Rede D’Or de R$ 41 para R$ 34 e reiterar a recomendação neutra para a empresa.

“Apesar de sua capacidade de alocação de capital sem paralelo e bom histórico de execução, acreditamos que a deterioração da rentabilidade da indústria devido aos choques provocados pela Covid-19 vão endurecer as negociações com os provedores, assim como ocorreu entre 2012 e 2017”, diz trecho do relatório.

Os analistas destacam que os resultados trimestrais de 2022 já sugerem que o poder de precificação da Rede D’Or recuou e que o perfil da linha contas a receber piorou, com a administração atribuindo a situação aos problemas enfrentados pelos pagadores.

Junto com o cenário mais complexo do setor está o avanço da competição entre os provedores de serviços médicos. Desde 2020, os principais players elevaram o número de leitos em 30%, com presença em 42 das 78 maiores cidades do País.

Os analistas do UBS BB estimam que este cenário faça com que a receita da Rede D’Or registre um crescimento perto de 15% da receita líquida para 2023 e 2024, abaixo dos 27% esperados anteriormente. A margem Ebitda, por sua vez, deve expandir 1,5 ponto porcentual no período, um pouco acima do 1,4 ponto porcentual projetado inicialmente.

Eles afirmam ainda que a situação forçará uma desaceleração na expansão da companhia. A projeção de abertura de novos leitos em 2023 recuou de 6 mil para 4 mil, diante da expectativa de que não ocorra nenhuma fusão ou aquisição neste ano.

Sobre a aquisição da SulAmérica, concluída no final de 2022, os analistas afirmam que ainda há dúvidas sobre o resultado que pode ser obtido com sinergias.

A expectativa é de ganhos via receita, com criação de novos produtos e melhora daqueles existentes, permitindo expansão da quantidade de leitos e ganhos de fatia de mercado pela SulAmérica. No entanto, as diferenças das operações limitam potenciais ganhos na linha de custos operacionais.

“Os resultados de curto prazo podem se beneficiar de uma utilização fora do normal de serviços no quarto trimestre, mas as incertezas que vão se amontoando no setor, as limitadas sinergias esperadas (com SulAmérica) e o valuation elevado nos fazem ficar com reservas em relação à tese de investimento”, diz trecho do relatório.

Por volta das 14h, as ações da Rede D'Or caíam 0,54%, a R$ 29,44. Em 12 meses, elas acumulam queda de 32,5%, levando o valor de mercado a R$ 66,9 bilhões.