Os incêndios florestais que estão devastando parte da região de Los Angeles, na Califórnia, já causaram cerca US$ 275 bilhões em danos e perdas econômicas – o que transformaria o evento no desastre climático mais custoso da história dos Estados Unidos, superior à devastação causada pelo furacão Katrina, em 2005, que deixou um prejuízo de US$ 190 bilhões, em valores atualizados.

Se confirmada, a estimativa da empresa de dados meteorológicos AccuWeather, alvo de contestações e divulgada nesta quarta-feira, 15 de janeiro - oito dias após o início da onda de incêndios -, dá uma dimensão do cenário de terra arrasada que está castigando uma das regiões mais valorizadas do estado mais rico dos EUA.

Os incêndios já destruíram cerca de 12 mil imóveis, deixaram 25 mortos e cerca de 200 mil desalojados, além de manter 6 milhões de pessoas sob ameaça crítica das chamas.

"Uma coisa é ver na televisão, outra coisa é ver do ar", disse a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, após sobrevoar os condados atingidos pelos incêndios. "A destruição massiva é inimaginável até que você realmente a veja."

Os ventos fortes que continuaram a soprar nesta quarta-feira, 15, reforçaram a certeza de que a tragédia ainda está longe do fim, após mobilizar mais de 8.500 bombeiros e deixar um rastro de destruição numa área de 161 km2 – equivalente ao tamanho de Aracaju, a capital de Sergipe.

Criticada pelo elevado valor estimado de prejuízos de um evento climático que ainda sequer foi controlado, a AccuWeather reagiu afirmando que seu cálculo considera mais do que apenas danos a casas e infraestrutura.

De acordo com a empresa, a conta inclui o impacto financeiro esperado de ordens de evacuação, o custo de longo prazo da reconstrução ou realocação de pessoas cujas casas foram destruídas, gastos previstos de limpeza e recuperação, despesas com abrigos de emergência, custos imediatos e de longo prazo com assistência médica para aqueles que foram feridos ou expostos à qualidade do ar prejudicial, bem como salários perdidos para pessoas cujos empregos foram afetados.

Entre os impactos será necessário liberar financiamento público para reparar e reconstruir sistemas de esgoto, linhas de energia e estradas. A infraestrutura hídrica requer atenção especial, pois cinzas e contaminantes podem poluir a água potável muito além das áreas queimadas.

Os incêndios que ainda queimam em Los Angeles certamente estão entre os mais caros dos EUA — por isso não há uma analogia perfeita para eles, o que torna difícil prever o custo final. Os incêndios florestais normalmente queimam em locais mais rurais, consumindo menos estruturas e atacando áreas metropolitanas menores.

Isso explica o descompasso do custo total sugerido pela AccuWeather e por outras instituições financeiras. Cauteloso, o banco Goldman Sachs afirmou que as primeiras estimativas dos danos totais classificam o incêndio florestal como um dos 20 desastres naturais mais dispendiosos em percentagem do PIB na história dos EUA.

Quanto a valores, o banco espera que as “perdas seguradas” cheguem a US$ 30 bilhões - a região atingida é mais residencial, com poucas fábricas e estruturas de grande porte.

Outras estimativas chamam a atenção: queda de 0,2% do crescimento do PIB americano do primeiro trimestre e “modesto impacto” de 15 mil a 25 mil empregos (a economia dos EUA adicionou 256 mil empregos em dezembro) porque “apenas cerca de 0,5% da população da Califórnia está atualmente sob ordem ou aviso de evacuação”.

O Goldman Sachs tampouco espera que os custos mais elevados dos seguros provocados pelos incêndios florestais tenham um impacto significativo na inflação. “Nossos analistas de ações de seguros esperam repercussões limitadas nos preços fora da Califórnia porque o peso do seguro residencial no índice de preços PCE é de apenas 0,1%”, explicou Goldman Sachs.

Outros impactos

Abiel Reinhart, economista do J.P. Morgan, também acredita que o efeito de curto prazo no crescimento do PIB nacional, emprego e inflação será pequeno. Mas de certa forma corrobora a estimativa sombria de prejuízo da AccuWeather.

“Os incêndios florestais de Los Angeles estão se configurando como o desastre climático mais custoso da história dos EUA, o que decorre tanto de seu tamanho quanto do alto valor dos imóveis residenciais que estão destruindo”, disse Reinhart.

O prejuízo nos três condados mais atingidos pelo fogo na região de Los Angeles - Pacific Palisades, ao norte de Santa Monica; Eaton, que devastou partes de Pasadena e Altadena; e Hust, no norte do Vale de San Fernando – servem de exemplo do impacto causado pelas chamas.

A plataforma digital de venda de imóveis Zillow avalia o valor médio de mercado de uma casa em Pacific Palisades em US$ 3,4 milhões. Em Altadena, esse valor é de US$ 1,3 milhão. De acordo com o banco Wells Fargo, é isso que está elevando as estimativas iniciais de perdas seguradas progressivamente.

O seguro, porém, não vai ressarcir todos os proprietários nem pagar o custo total da reconstrução. As operadoras cancelaram milhares de apólices nas áreas afetadas nos últimos anos, e a seguradora de último recurso apoiada pelo estado limita a cobertura em US$ 3 milhões por propriedade residencial.

Os bairros atingidos, de elevado poder aquisitivo, podem ser mais capazes de se recuperar do que outros atingidos por incêndios florestais nos últimos anos. A renda familiar anual média em Pacific Palisades, por exemplo, é de mais de US$ 200 mil e, em Altadena, de US$ 134 mil – bem acima da média dos EUA, de US$ 80 mil.

De qualquer forma, outra ameaça ronda a região atingida: o aumento do custo do seguro de propriedade, que já era proibitivamente caro em muitas áreas da Califórnia. Quando as apólices se tornam inacessíveis ou indisponíveis, os imóveis começam a perder valor, o que pode drenar a riqueza de famílias cujo principal ativo financeiro é o patrimônio líquido da casa.

As seguradoras também terão de enfrentar uma batalha judicial para cobrir os prejuízos com obras de arte perdidas pelos incêndios. Los Angeles tem uma concentração desproporcionalmente alta de peças de arte e, como tal, acredita-se que as perdas e reivindicações que resultarão deste evento serão sem precedente.

Além de coleções particulares mantidas nas residências de alto luxo que foram calcinadas pelas chamas, várias galerias e museus também foram perdidos nos incêndios, muitos deles locais menores dirigidos por artistas.

Como consolo, um dos principais museus dos EUA escapou ileso das chamas. Localizado em Pacific Palisades, o Getty Villa sobreviveu ao incêndio com apenas a vegetação ao redor do edifício sendo queimada.

Modelado com base na antiga Villa dei Papiri romana em Herculano, Itália, o Getty Villa abriga mais de 44.000 artefatos da antiguidade, com alguns datando de 6.500 a.C. Para proteger esses artefatos valiosos, o Getty Villa possui um sofisticado sistema de irrigação e abastecimento de água.

As atenções agora se voltam para preservar outro museu ligado ao Villa, o Getty Center. Ele recebe mais de 1,4 milhão de visitantes por ano e abriga cerca de 44.000 obras de arte, incluindo Íris de Vincent van Gogh. Da mesma forma que o Villa, o Getty Center conta com um sistema anti-incêndio de última geração.

De qualquer forma, a questão do seguro em regiões propensas a incêndios florestais tende a se expandir. Um estudo da Universidade de Wisconsin indica um rápido crescimento de imóveis nestas áreas, conhecidas como “interface urbana-selvagem” (WUI na sigla em inglês, de “wildland-urban interface”).

Entre 1990 e 2020, o número de casas em zonas WUI na Califórnia cresceu 40%. Em contraste, o número de imóveis em áreas menos suscetíveis a esse tipo de incêndio – como regiões centrais da cidade – cresceu apenas 23%.

Em toda a extensão do Oeste americano, existem agora mais de 16 milhões de residências nessas áreas.