A proximidade da posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, está levando o setor corporativo americano a se alinhar à guinada conservadora do país que o novo ocupante da Casa Branca pretende implementar.
Depois do recuo da Meta, que anunciou na terça-feira, 7 de janeiro, o fim da checagem de fatos e remoção de restrições à expressão no Facebook e no Instagram – numa clara concessão de Mark Zuckerberg, dono da Meta, à agenda conservadora de Trump, seu antigo desafeto –, bancos e outras grandes empresas dos EUA também estão abandonando pautas ligadas a questões climáticas e de diversidade corporativa que vinham adotando nos últimos anos.
O J.P. Morgan Chase é um exemplo, ao anunciar sua saída da Net-Zero Banking Alliance (NZBA), uma aliança de bancos lançada em 2021 como parte da Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ), visando a um esforço coletivo do setor bancário para atingir emissões líquidas zero até 2050.
O anúncio chamou a atenção porque o J.P. Morgan tornou-se o último megabanco dos EUA a se retirar do NZBA, juntando-se ao Morgan Stanley, Citigroup, Bank of America, Wells Fargo e Goldman Sachs, que também saíram nas últimas semanas.
O movimento representa uma mudança significativa na postura de Wall Street em relação a alianças financeiras relacionadas ao clima. A ideia por trás do NZBA é que qualquer dólar mobilizado por um banco poderia ser usado para financiar a transição climática, tornando o mundo mais verde.
Em contrapartida, se os bancos canalizarem menos dinheiro para indústrias intensivas em carbono, o custo de capital desse setor tende a aumentar, tornando-o menos competitivo e, em última análise, uma parte menor da economia.
Enquanto bancos europeus, incluindo gigantes como HSBC, Barclays e Lloyds, continuam sendo membros firmes da NZBA, bancos americanos estão cada vez mais optando por se distanciar de coalizões climáticas internacionais.
Embora nenhum dos grandes bancos dos EUA tenha recuado — ainda — dos compromissos subjacentes de emissão líquida zero que assumiram quando se juntaram à NZBA, analistas veem a retirada da aliança como uma forma de adesão ao chamado greenhushing (“esverdeamento”, em português), movimento no qual mantêm sua agenda climática em particular, mas não falam muito sobre ela em público.
Seria uma forma de não melindrar o firme apoio de Trump aos combustíveis fósseis, incluindo sua retórica de “perfure, baby, perfure”, de apoio à produção de petróleo e gás. Em dezembro, o Comitê Judiciário da Câmara, liderado pelo republicano Jim Jordan, acusou esses grupos de formar o que ele descreveu como um “cartel climático”.
Diversidade sob risco
O êxodo dos bancos da NZBA é reflexo de outra mudança detectada no meio corporativo americano – o abandono de grandes empresas aos programas de diversidade, equidade e inclusão (conhecidos nos EUA pela sigla DEI).
Na segunda-feira, 6, o McDonald's foi a mais recente grande empresa a anunciar que estava reduzindo seus esforços para se adequar aos programas DEI. A Boeing desmantelou seu departamento de DEI no ano passado e outras gigantes, como Alphabet, Apple, Coca-Cola e Starbucks, têm recuado após pressões de grupos conservadores.
Críticos dos programas de diversidade dizem que a pauta DEI pressiona empresas a contratar candidatos menos qualificados. A oposição deles ganhou um grande impulso em 2023, depois que a Suprema Corte anulou a ação afirmativa no nível universitário.
Após a decisão, o escrutínio dos programas da empresa aumentou — e alguns grupos conservadores começaram a entrar com ações judiciais contra corporações por, efetivamente, discriminarem pessoas brancas na contratação.
Dos 70 executivos seniores pesquisados recentemente pelo Conference Board (organização sem fins lucrativos que realiza pesquisas e oferece insights para líderes empresariais), 69% disseram que a decisão afetou negativamente seus esforços de adesão à pauta DEI.
Essa onda conservadora fortaleceu uma nova corrente dentro do meio corporativo, que ganhou espaço nos últimos anos: os acionistas anti-DEI.
No ano passado, de acordo com levantamento do Conference Board, houve 13 propostas anti-DEI em empresas que fazem parte do Russell 3000 - índice ponderado por capitalização de mercado que acompanha o desempenho das ações das 3.000 maiores empresas de capital aberto nos EUA.
O número de propostas anti-DEI ainda é uma fração das propostas pro-DEI, mas mais que triplicou desde 2020, numa mostra que os esforços de diversidade corporativa estão rapidamente saindo de moda, especialmente agora que o presidente eleito Trump está retornando à Casa Branca.