A cotação do barril do petróleo teve uma alta de 4,11% nesta segunda-feira, 9 de outubro, em meio à expectativa do impacto potencial sobre a oferta global da commodity após o ataque massivo de sábado do grupo terrorista palestino Hamas contra Israel. Mas o preço pode seguir subindo mesmo se o conflito não escalar.
O petróleo Brent, referência internacional, subiu US$ 3,49 por barril, para US$ 88, enquanto os preços nos EUA também tiveram elevação. No Brasil, as ações da Petrobras subiram 4,03%, acompanhadas de valorização de outras companhias petrolíferas nacionais, como PetroRecôncavo (+7,10%) e da PetroRio (+6,15%).
A escalada do conflito ocorre num contexto de um mercado petrolífero que já vinha registrando elevação de 25% no preço do barril desde junho, quando atingiu a cotação de US$ 94 pelo índice Brent, a maior em dez meses, em meio a seguidas reduções de produção por parte dos países da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) nos últimos 12 meses, numa tentativa de melhorar o preço do barril.
Desde então, o preço do barril oscilou, com o aumento da demanda pós-pandemia aliada à escassez de mais de 1 milhão de barris por dia até dezembro, por causa dos cortes voluntários adicionais de Arábia Saudita e Rússia. Na semana passada, os bancos internacionais trabalhavam com uma projeção da cotação do barril para o final de 2023 e início de 2024 por volta dos US$ 90.
Uma eventual mudança se deve ao risco de a escalada de tensão no Oriente Médio acabar envolvendo o Irã – aliado do Hamas no conflito contra Israel – e acirrar a tensão no estreito de Ormuz, por onde o governo iraniano escoa sua produção, assim como outros países exportadores (Iraque, Kuwait, Qatar e Emirados Árabes Unidos), que produzem um total de 14 milhões de barris diários de petróleo.
De acordo com Alexandre Calmon, sócio do escritório Campos Mello Advogados e co-head da área de energia do escritório DLA Piper, é preciso esperar para saber até que ponto o conflito entre Israel e Hamas terá um efeito sistêmico no mercado de petróleo.
“O risco é o envolvimento do Irã, que controla metade do Estreito de Ormuz”, diz Calmon, acrescentando que uma escalada do conflito com a entrada do país persa poderá afetar o fornecimento de petróleo para o mercado global. “Se o conflito ficar limitado a Israel e Hamas, a tendência é de estabilização e de eventual queda do preço do barril.”
Impacto no Brasil
A valorização de ações de empresas brasileiras, como a Petrobras, aparentemente reflete a alta do preço da commodity no mercado global.
“O maior impacto aqui é que, em situações de crises globais, a tendência é de uma fuga para o dólar, com desvalorização do real”, diz Calmon, que prevê um repasse no preço dos combustíveis no mercado brasileiro no médio prazo.
Para Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, o dólar pressionado e agora o preço mais elevado do petróleo agregam ruídos para a economia brasileira. Segundo ele, o cenário já vinha sendo marcado pelo mercado trabalho apertado, desconfiança da desinflação de serviços e aumento do câmbio. Isso acaba impactando no combate à inflação.
"O evento do conflito em Israel é mais um fator que aumenta as dúvidas se o Brasil vai atingir o centro da meta de inflação em 2024”, adverte Padovani.
O economista afirma que os meses de agosto e setembro mostraram que a inflação deve cair, mas com custo maior por causa da sinalização dos BCs do mundo, que mantêm as taxas de juros elevadas, e a leitura de que a China está num final de ciclo de crescimento.
Por outro lado, ele cita três fatores impactando o dólar. A valorização da moeda americana no exterior, a dúvida do comprometimento do governo com as metas fiscais e o afrouxamento monetário, com redução da taxa Selic.
“Vejo o quadro doméstico mais como uma correção do otimismo do quarto trimestre de 2022 e primeiro semestre deste ano do que uma piora do cenário”, afirma. Por isso, mesmo com a tensão elevada no cenário global, Padovani não acredita que o BC vá alterar o ritmo de queda da taxa Selic, de 0,5 ponto percentual.
“Os juros reais estão muito elevados, entre 8% e 9%, enquanto a taxa neutra ideal seria de 5%”, diz Padovani “Com isso, o BC pode calibrar os juros sem afetar a política monetária.”