Os seguidos aumentos de preços do barril de petróleo estão causando um efeito colateral inesperado nos Estados Unidos, interrompendo uma trajetória de queda da inflação dos últimos meses e, como efeito, colocando em xeque a estratégia Federal Reserve (Fed), o banco central americano, de reduzir a taxa de juros.

Os EUA foram o primeiro país entre as nações ricas a sentir o impacto dos aumentos do preço do petróleo, que subiu 25% nos últimos três meses, atingindo a cotação de US$ 94 pelo índice Brent (referência internacional) na sexta-feira, 15 de setembro – nível mais elevado em dez meses. A expectativa é que a cotação do barril ultrapasse os US$ 100 nas próximas semanas.

A inflação nos EUA, que saiu de um pico de 9,1% anual em julho de 2022 para quedas mensais constantes até julho passado, quando chegou a 3,2%, voltou a subir em agosto. O aumento do preço dos combustíveis foi o que mais impactou para o índice de 3,7%.

Vários fatores estão contribuindo para o novo ciclo de aumento do petróleo, após um longo período de estabilização na faixa de US$ 70 o barril desde a pandemia, quando houve redução da atividade produtiva.

Quando os preços do petróleo subiram pela última vez, na sequência da invasão russa da Ucrânia, em 2022 - chegando a US$ 130 o barril -, o presidente dos EUA, Joe Biden, interveio liberando as reservas estratégicas americanas.

Os países da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) reagiram ao excesso de oferta anunciando três reduções de produção desde outubro passado, numa tentativa de melhorar o preço do barril. Arábia Saudita e Rússia foram os países que mais reduziram a produção e prometeram não retomá-la até dezembro, pelo menos.

Preço sob controle

A desaceleração da economia chinesa aliada aos quase 300 milhões de barris das reservas americanas que inundaram o mercado, porém, mantiveram o preço do barril na faixa de US$ 70 ao longo do primeiro semestre.

O pesadelo dos países produtores de petróleo durou até junho, quando as reservas dos EUA atingiram o nível mais baixo. Sem opções, o governo Biden teve deixar o mercado regular o preço do barril.

Já se fala do petróleo Brent a US$ 100 nas próximas semanas devido à forte procura, à escassez de oferta e à falta de ferramentas à disposição do governo dos EUA para limitar os preços.

Os preços da gasolina nas bombas dos EUA – um dos sinais mais visíveis de inflação – saltaram mais de 25% desde o início do ano. O preço do diesel, fundamental para o transporte de mercadorias, para agricultura e outras indústrias, também aumentou quase 20% nos últimos três meses.

Depois de impactar a inflação de agosto, resta saber como o Fed vai reagir na semana que vem, quando se reúne para decidir se mantém ou sobe a taxa de juros, hoje oscilando na banda entre 5,25% e 5,50% ao ano.

Desde a última reunião, no mês passado, com a inflação ainda em queda, o Fed vinha sinalizando a intenção de anunciar um aumento de 0,25 ponto percentual até dezembro, para convergir a inflação para a meta de 2%.

Com o aumento do índice de agosto e a ameaça de novas oscilações para cima no preço do petróleo, o chamado pouso suave esperado pelo mercado – a queda da inflação sem a necessidade de uma recessão – passa a ficar sob ameaça.

“Estamos vendo agora que a queda rápida da inflação não foi resultado de uma política monetária bem-sucedida do Fed, mas pela queda dos preços do petróleo causada não por uma demanda menor, e sim por um aumento na oferta pelo governo dos EUA”, tuitou esta semana Peter Schiff, CEO e estrategista-chefe da Euro Pacific Capital, uma consultoria de investimentos americana.

“Essa combinação de preços da energia mais altos com taxas de juros elevadas não só vai impedir a inflação de atingir a meta do Fed de 2% como deve adiar o corte das taxas de juros no curto prazo”, acrescentou.