O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, descartou que o governo pretenda fazer alterações radicais no arcabouço fiscal.
Haddad citou o recente relatório da agência de risco Moody’s, que elevou a nota do Brasil, como uma prova de que a condução da política fiscal poderá resultar em grau de investimento até 2026, último ano do mandato do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
“Não há problema alterar alguns parâmetros do arcabouço, o importante é que sua arquitetura faça sentido, e defender essa arquitetura é o caminho para o País chegar ao grau de investimento, que é o que está dito no relatório”, afirmou Haddad, durante participação no Macro Vision, evento do Itaú BBA em São Paulo, na segunda-feira, 14 de outubro.
Embora seja possível que o País atinja o grau de investimento até 2026, o ministro da Fazenda admitiu que é preciso cautela. “As condições para o Brasil se desenvolver estão quase dadas, mas não estão dadas, temos um ajuste a fazer", acrescentou, ao interpretar a avaliação da agência de rating.
Haddad passou boa parte de sua fala defendendo a política fiscal adotada pelo governo federal desde que tomou posse, “coerente com a situação da economia de hoje”. Ele alegou que o País estava há três níveis do grau de investimento no início do ano passado.
“O que fizemos nos deu a elevação de dois graus, mas se errar, vamos perder o que conquistamos”, advertiu, afirmando que houve evolução tanto no Orçamento deste ano em relação ao do ano passado e na relação com o Congresso.
Haddad citou dois fatores para manter o otimismo. Um deles é o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) - que, segundo ele, deve seguir em alta. “O Brasil pode projetar uma taxa média de crescimento de 2,5% sem prejuízos à economia”, assegurou.
Ele lembrou que o País manteve uma taxa de crescimento muito abaixo da média mundial entre 2013 e 2022. Hoje, segundo ele, o Brasil tem vantagens competitivas que têm a ver com a matriz produtiva em geral e a matriz energética em particular.
"Tem um conjunto de projetos de investimento que estão represados há muito tempo, com altas taxas de retorno, com oportunidades à vista de todos, com interesse internacional sobre o Brasil, sobretudo em função até dos problemas que o mundo está enfrentando”, afirmou, acrescentando que governo talvez precise revisar as projeções de crescimento do PIB neste ano mais uma vez.
Esse crescimento, ponderou, ocorre mesmo com a inflação submetida a um choque de oferta, com a cheia no Rio Grande do Sul e seca em outros pontos do País. “Mesmo com esses choques todos, nós estamos discutindo se a inflação vai ficar dentro do teto da banda ou não.”
Haddad fez menção à mudança de comando no Banco Central em 2025 – com a posse em janeiro de Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária e indicado pelo presidente Lula, que vai suceder ao presidente Roberto Campos Neto - como um fator positivo, ao comentar a possível estabilização da dívida como proporção do Produto Interno Bruto (PIB).
Segundo ele, esse passo não depende apenas de sua pasta, mas também do BC, já que a alta dos juros eleva o custo de financiamento do País. Nesse sentido, defendeu um trabalho conjunto entre Fazenda e BC.
"Não depende só da Fazenda a relação dívida/PIB, sempre advogo a tese de que essas políticas compõem a política econômica como dois braços do mesmo organismo. Acho que é uma metáfora feliz. Nós temos que trabalhar juntos", declarou Haddad.
"Tenho todas as razões para imaginar, até pelo trabalho que vem sendo feito mais recentemente pelo Banco Central, que nós vamos ter boas surpresas desse ponto de vista a partir do ano que vem", complementou.