Com pouco mais de dois meses até a eleição presidencial nos Estados Unidos, as análises começam a pipocar sobre como seria a economia americana e os potenciais riscos para a estabilidade global sob uma segunda administração de Donald Trump ou sob o comando da atual vice-presidente, Kamala Harris.

Apesar de praticamente opostos numa série de temas, ambos se conectam por políticas econômicas consideradas ruins, a ponto de fazer com que três dos maiores gestores do País – André Jakurski, Luis Stuhlberger, e Rogério Xavier – olharem para o pleito com bastante desânimo, vendo uma escolha entre o “menos pior”.

“A Kamala é um ‘bêbado conhecido’ e o Trump é um ‘alcoólatra anônimo’”, disse Jakurski, sócio-fundador da JGP, durante painel no evento Macro Day, promovido pelo BTG Pactual, na tarde desta terça-feira, 20 de agosto.

A fala de Jakurski demonstra que, entre os dois, pende para o lado da democrata, ainda que com bastante resistência e não sem críticas. Para ele, Harris representa um “desastre para a economia Ocidental e para o capitalismo”, mas ele entende que é possível ter alguma ideia do que ela pode fazer, ainda que ruim.

“A Kamala é mais socialista, os integrantes que ela vem escolhendo para o governo nunca trabalharam no setor privado, mas, do outro lado, o Trump é um cara desgovernado”, afirmou.

Stuhlberger não “declarou voto” a nenhum dos dois candidatos, afirmando que ambos são “ruins, cada um com seu jeito e problemas”. Mas ele puxou as críticas para o lado da Harris, destacando novamente a falta de experiência do potencial gabinete no setor privado, além das propostas econômicas.

Ele destacou a promessa de destinar US$ 25 mil ao pagamento de entrada para pessoas que estejam comprando a primeira casa, num momento em que os Estados Unidos apresentam um enorme déficit fiscal. “Imagina se desse uma ideia dessas ao PT?”, brincou o gestor.

No comando do painel, André Esteves, chairman e sócio sênior do BTG Pactual, assumiu por alguns instantes a posição de “advogado do diabo” para falar sobre suas impressões a respeito de uma presidência Trump.

Segundo ele, conversas que teve com interlocutores do republicano, como o ex-secretário de Estado Mike Pompeo, o tranquilizaram um pouco sobre como seria um novo mandato de Trump, avaliando que ele estaria cercado de pessoas competentes.

“Uma grande preocupação, há seis meses, principalmente depois de 6 de janeiro, é que num eventual governo Trump muita gente boa não quisesse participar”, disse. “Mas eu subestimei a atratividade da presidência americana. Tem muita gente querendo voltar e muita gente disposta a estar lá.”

Já Xavier, sócio-fundador da SPX Capital, destacou que as propostas populistas de Harris e Trump, com aumento de gastos e aplicação de tarifas de importação, respectivamente, estão elevando as incertezas em relação à economia americana. Além disso, a indefinição sobre quem deve ser o vencedor está prejudicando os investimentos nos Estados Unidos.

“São cenários totalmente diferentes considerando os planos. Como investir se não sei a taxa de impostos, as tarifas? A incerteza diminui a expectativa de investimento da economia, que estão vindo bem”, afirmou.

Galípolo e credibilidade

Com mais de uma hora de painel, a discussão entre os gestores também passou pelas perspectivas para a economia brasileira. Em meio à constatação de que o fiscal continua problemático e de que o Brasil está aquecido, um personagem ganhou destaque na conversa: Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do Banco Central (BC).

Mais especificamente sobre as recentes declarações dele, sinalizando uma postura mais contracionista em relação à política monetária. Cotado como sucessor de Roberto Campos Neto na presidência da autoridade monetária, Galípolo adotou recentemente um tom mais hawkish, dando a entender que não vai hesitar em elevar os juros.

Para Jakurski, Galípolo está adotando essa postura para conquistar credibilidade no mercado antes de assumir a presidência do BC. Mas destacou que uma alta de juros é um movimento dado se a inflação embicar para cima. “Tem aquela regra do BC de que se a inflação estiver fora da meta, tem que aumentar os juros”, disse.

Xavier, por sua vez, disse que Galípolo encontrará uma situação “muito confortável” para puxar os juros, com a atividade crescendo muito acima das estimativas, representando uma “oportunidade imperdível” de fazer um aperto monetário para fazer a inflação convergir à meta sem prejudicar a atividade.

“Não fazer parece loucura, será em benefício dele entregar a alta, na relação de credibilidade, ser a pessoa que está guiando a alta”, disse. “Nunca mais vamos precisar discutir se o BC comandado pelo Galípolo é independente.”

Para Xavier, esse movimento abre caminho para o BC cortar os juros no ano que vem sem pairar sobre a instituição um “déficit de credibilidade”. “Passar quatro anos duvidando da independência do BC não é bom”, afirmou o fundador da SPX.