Embora 2023 tenha sido difícil para todos os gestores de fundos multimercado, para a SPX Capital o ano foi um pouco pior. Em um fato raro em sua história, a empresa de Rogério Xavier viu desaparecer R$ 12,7 bilhões na gestão de seus multimercados. E os fundos apareceram na lanterna de rentabilidade, bem distantes dos 13% do CDI: o Raptor caiu 12,9% e o SPX Nimitiz, 1,5%.

De acordo com um levantamento da Morningstar, empresa provedora de dados e análise de investimentos, a SPX foi a asset brasileira que mais perdeu recursos no ano passado. Agora, todas as atenções estão voltadas para saber como uma das principais casas macro do mercado brasileiro vai lidar com a sua primeira “crise”.

O NeoFeed conversou com 15 grandes investidores da SPX para sentir como eles estão avaliando e lidando com o momento da gestora. A percepção geral é que o mercado não ajudou, mas houve alguma perda de controle, o que levou a um resultado bem pior do que seus pares, algo que precisa ser levado em consideração.

As causas seriam tanto um excesso de confiança após anos extraordinários; uma menor presença de seu principal gestor, Rogério Xavier (o que mostraria uma certa dependência dele); e um desvio de foco em meio à aceleração do seu projeto de expansão (a SPX tem o desejo de ser uma gestora global e multiproduto).

A SPX refuta essas preocupações dos investidores e afirma que, de fato, errou o cenário, o que faz parte do jogo. Neste ano, a gestora está mais do que nunca voltada à recuperação dos fundos. Além disso, afirma que a expansão dos negócios da empresa é tocada por pessoas diferentes e que a gestora não é apenas uma ‘one man show’.

“Errar não tem nada a ver com falta de foco. E não se pode pôr a culpa em uma só pessoa, porque temos uma grande distribuição do risco de modo que, no máximo, uma pessoa tenha 25% do risco do fundo”, diz Daniel Schneider, sócio-fundador e diretor institucional da SPX em entrevista ao NeoFeed. “Os outros negócios sempre existiram e não são de responsabilidade dos times macro. Aliás, eles nem sabem o que acontece em outras estratégias.”

Apesar disso, o mercado avalia que as calls macro ainda partem de Xavier e que sua influência sobre o time o leva a ter mais poder do que de fato é passado nessa “divisão de caixinhas”. Conforme o NeoFeed apurou, alguns investidores ouviram de Xavier que ele está comprometido a estar 100% focado na recuperação do fundo neste ano como forma de ganhar um voto de confiança.

Xavier não falou com o NeoFeed, mas disse recentemente, em um evento público, o Latin America Investment Conference, do UBS, no fim de janeiro, que ele fazia uma mea culpa sobre o resultado dos seus fundos multimercados.

É inegável que haverá pressão para que a SPX apresente resultados em 2024. Mas a gestora tem crédito com a maioria dos seus investidores pelo desempenho que conquistou nos últimos 10 anos.

Com R$ 60 bilhões sob gestão (R$ 45 bilhões, segundo a Anbima, mais R$ 15 bilhões offshore, de acordo com a SPX), nos últimos 10 anos, até novembro de 2023, o SPX Raptor foi o fundo mais rentável da sua classe entre os multimercados macro brasileiros, com um retorno acumulado de 352% - apesar de também ter sido o fundo que tomou o maior drawdown (indicador que mostra a maior baixa da cota em um período), de 26,7%.

Para apagar 2023 da memória dos investidores, a SPX reviu o seu modelo de risco. Se antes ele estava pautado em volatilidade por ano calendário; agora, está mais preocupado com o drawdown. Essa mudança tem como intuito tirar o questionamento do investidor se está entrando em um momento favorável ou não do fundo.

Com isso, a gestora pretende ser mais consistente, com um sharpe  (medida de relação risco e retorno) melhor, sem abrir mão da pegada mais volátil da casa para trazer um retorno maior ao cotista. Tal medida foi bem aceita pelos investidores.

“Com a volatilidade que os fundos operam, era questão de tempo ter uma grande baixa como ocorreu no ano passado. É até surpreendente que tenha acontecido só agora. Mas as mudanças implementadas e o jeito como eles estão lidando com o problema mostram maturidade da gestora, como pouco se vê no mercado brasileiro. Agora, falta o resultado”, disse um grande investidor ao NeoFeed.

Gigante brasileiro ou nanico global?

Enquanto a estratégia carro-chefe da SPX tenta se reerguer do tombo, o projeto de diversificação e internacionalização segue. A pretensão é ter, nos próximos 10 anos, uma asset multiproduto global.

Na visão da gestora, o sucesso do business está nisso - depois, obviamente, de conseguir uma boa performance. Com isso, é possível ter um negócio perene e capaz de curar a ferida de um erro de uma estratégia, como a do time macro no ano passado.

“A probabilidade de ser uma casa longeva com monoproduto é muito baixa. Se for mal e perder tamanho, é preciso cortar pessoas, e isso pode virar um ciclo vicioso. Agora, não temos ninguém desesperado porque o fundo macro foi mal, pois temos outras verticais que suportam esse momento difícil”, afirma Schneider, da SPX.

A vertical mais recente é a de Soluções de Investimento, criada no ano passado, que trouxe um time de peso de grandes fundos de pensão para gerir mandatos institucionais. Por enquanto, apenas um mandato foi conquistado, mas a expectativa é que isso ganhe tração nos próximos anos, algo que a recuperação na performance dos principais fundos pode ajudar.

Mas ainda há muita coisa a ser desenvolvida para competir com os hedge funds internacionais. Importantes nesse processo são as duas empreitadas mais recentes criadas em 2021, que, apesar de começarem já grandes com equipes de fora, ainda estão amadurecendo.

A SPX fez um acordo com o fundo de private equity americano Carlyle, que descontinuou a sua operação no Brasil, e pegou a sua equipe e seus investimentos. No novo fundo, que está levantando capital aos poucos, há apenas um investimento.

Já em real estate foi feita uma joint venture com a SYN Prop Tech, antiga Cyrela Commercial Properties, que possui o know how do mercado e origina os deals. Já há R$ 2 bilhões em um fundo internacional, um local listado e um FIP de desenvolvimento imobiliário. A ideia é lançar mais dois fundos ao longo do ano.

“Investimos em um time muito sênior e já temos o tamanho que queríamos. Pode-se dizer que estamos com capacidade ociosa e nossa meta é crescer. Acreditamos que eles vão começar a trazer resultado agora, mas é preciso uma conjuntura macro melhor”, diz Schneider.

Para dar certo o projeto de internacionalização, um desejo que nasceu praticamente com a criação da gestora em 2010, mas que tomou forma em 2016, a ocupação territorial é considerada fundamental pela SPX.

O primeiro escritório foi aberto em Londres, onde parte relevante do time de investimentos e o próprio Rogério Xavier estão alocados. Depois veio o escritório nos Estados Unidos. E, em 2022, o de Cascais, em Portugal - havia a necessidade de ter um fundo europeu já que depois do Brexit não era mais possível fazer por Londres. No ano passado, foi aberto um espaço em Cingapura, pois “não é possível fazer uma gestão global longe da Ásia”.

Segundo a gestora, o objetivo dessa expansão é tanto melhorar sua alocação em ativos e ser verdadeiramente uma casa macro global, como buscar investidores estrangeiros. Mais escritórios são pensados para frente. O próximo alvo seria o Oriente Médio. Hoje, 25% da equipe de 290 funcionários da SPX está alocada fora do Brasil.

“Temos uma visão diferente da maioria dos gestores brasileiros e achamos que é muito difícil, para não dizer impossível, fazer uma alocação global apenas sentado no Brasil. Podemos até tomar decisões erradas, mas a informação estando in loco chega mais limpa”, afirma Schneider.

Dinheiro gringo

A expansão tem sido bem bem-sucedida em trazer investidores internacionais de peso para a SPX. Quando a gestora começou, menos de 10% do passivo vinha de estrangeiros. Hoje, um terço vem de fora do País, o que faz dela uma das gestoras menos dependente do mercado local.

“Não vemos nenhum problema com o dinheiro do Brasil, não achamos curto prazista como alguns, é um capital maduro e resiliente. Mas ficar monopassivo é um risco. Qualquer problema no Brasil e se pode perder o business. E o mais importante é que o investidor estrangeiro tem ciclos diferentes que dão mais estabilidade”, diz Schneider.

Esses investidores são, em sua grande maioria, fundos de pensão e endowments, mas também family offices e bancos, principalmente dos Estados Unidos e Europa. São o sonho de muitas assets no Brasil. E, segundo a SPX, isso só foi possível porque investiram em equipes e escritórios fora do país e diversificaram sua operação.

“Conseguimos isso porque não nos veem como uma asset brasileira, e sim global que tem raízes no Brasil. Um fundo de macro no Brasil não tem chance de conquistar o investidor estrangeiro, é um mandato muito aberto para se fazer em um país ‘pequeno’”, afirma Schneider.

Se a gestora é realmente considerada global após esses investimentos ainda é questionável pelo mercado, apesar de mostrar grandes esforços e estar indo nessa direção.

Os investidores com os quais o NeoFeed conversou ainda colocam a SPX na caixinha Brasil e afirmam que há pouca exposição e ganho internacional para justificar outra análise, ou seja, poder ser comparada com fundos como Citadel e Millenium. Na visão dessas fontes, a casa poderia se vender como especializada em América do Sul, ou, forçando uma barra, em mercados emergentes.

“Existe uma estratégia consistente de moedas, mas, no resto, tirando a aposta na curva de juros americana em 2022, o fundo até hoje só gerou alfa no Brasil e não teve resultados tão diferentes lá fora de pares que operam daqui. Mas acredito que todos estão aguardando o que pode vir a ser no futuro”, afirma um grande investidor.

O que ninguém questiona é que para quem tem a ambição de ser grande e vencer a barreira de ser “apenas uma grande gestora no Brasil”, a SPX está no caminho certo, com esforços dos sócios, que não poupam investimentos no business.

Só é preciso entender se há pressa para chegar cedo demais ao pote, o que pode provocar tropeços maiores do que os esperados nesse meio do caminho.

Além disso, é preciso considerar um ambiente saudável para reter os talentos que garantirão o sucesso de todos esses negócios. E aprender com os erros, o que, certamente, poderá ajudar nos próximos passos.