Os temores em relação à saúde da economia dos Estados Unidos, com os alertas de uma possível recessão começando a soar em alguns cantos do mercado, ganharam força na segunda-feira, 10 de março, derrubando os índices acionários americanos.
O pior desempenho foi do Nasdaq, que fechou o dia com queda de 4%, aos 17.468,32 pontos - o mais baixo desde setembro de 2022. O S&P 500 recuou 2,70%, aos 5.614,56 pontos, e o Dow Jones caiu 2,08%, aos 41.911,71 pontos. O Ibovespa recuou 0,41%.
Os investidores já demonstravam receios nos últimos dias, rotacionando seus investimentos, em busca de ativos mais seguros, trocando aquilo que ficou conhecido como Trump Trade (exposição a ativos de riscos) para o Recession Trade.
E após o presidente Donald Trump sinalizar no domingo, 9 de março, que pretende seguir com sua controversa agenda econômica, independente dos receios de recessão, o mercado azedou de vez. E segundo o economista Mohamed El-Erian, os sinais vindos da economia mostram que essa agenda econômica pode ser difícil de implementar, ou seja, um risco para o andamento dos mercados.
Para o ex-CEO da Pimco e atual presidente do Queen’s College, da Universidade de Cambridge, os objetivos de Trump ficam mais complexos à medida que a economia se aproxima da “velocidade de estol”, a velocidade mínima que a aeronave deve possuir para se manter em um voo seguro, com o crescimento desacelerando para a casa de 1%.
“Nós estamos nos aproximando da velocidade de estol”, disse El-Erian em entrevista ao Yahoo Finance. “E se chegarmos à velocidade de estol, a jornada [para impor a agenda econômica] se torna muito difícil para se chegar ao destino. Essa será a grande questão à medida que olharmos adiante.”
Segundo ele, existia um descompasso na visão dos investidores entre a jornada para essa transformação e o destino. O mercado acreditava que os efeitos negativos de temas como tarifas e os ajustes nos gastos públicos seriam compensados pelo menor preço do petróleo (vindo da maior produção nos Estados Unidos), desregulamentação e menos impostos.
“O mercado achou que teria o ‘big bang’ [impacto rápido]. Em vez disso, está tendo uma sequência de medidas, com os efeitos negativos sendo sentidos primeiro, enquanto os positivos são uma promessa para o futuro”, disse.
A visão é compartilhada por Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos. Para ele, a ordem de implementação da agenda econômica, com destaque para as tarifas e o corte de gastos governamentais, tem por consequência reduzir o ímpeto da economia, num momento em que os dados apontam para uma situação mais fraca.
“Não temos visto avanço na agenda de desregulamentação, está muito tímida”, diz. “O sequenciamento da agenda econômica acabou sendo mais negativa para o crescimento .”
Essa situação vem num momento de questionamentos a respeito do “excepcionalismo americano”, principalmente no tema da inteligência artificial (IA), que veio puxando as bolsas no último ano. Após liderarem o tema, os Estados Unidos viram a China se aproximar do retrovisor com a chegada do DeepSeek.
A desaceleração da economia ocorre no mesmo instante em que a Europa se prepara para elevar os gastos militares, com o consequente impulso fiscal empurrando as economias do Velho Continente para cima.
Junto a isso está o fato de os ativos americanos estarem bem caros, inclusive ações não ligadas ao tema da IA. Borsoi diz que a situação faz qualquer correção ser pronunciada. “O Walmart negocia a um P/E de 55 vezes. É um supermercado, não é um setor que daqui um mês vai descobrir uma tecnologia nova que vai representar uma disrupção para o setor”, diz.
Apesar de alertar para a situação da economia dos Estados Unidos, El-Erian não aposta em recessão, mas alertou que a probabilidade aumentou, de 10% para uma faixa de 25% a 30%.
“A razão para não ser o cenário base tem a ver com as fortalezas estruturais dos Estados Unidos. Também tem a ver com as promessas feitas para mais adiante em termos de desregulamentação, cortes de impostos e a possibilidade de preços mais baixos de energia”, afirmou.