O patamar acima do esperado da inflação dos Estados Unidos em março levou os economistas e investidores de volta às planilhas, que passaram a rever as expectativas para o índice de preços ao consumidor (CPI) no ano e, mais importante, quando o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) começará a cortar os juros.
Em linha com o consenso do mercado, o UBS projetava que o primeiro corte de juros ocorreria em junho e seria de 0,25 ponto percentual. Agora, os economistas do banco suíço projetam que a redução das taxas, que estão entre 5,25% e 5,50%, começará em setembro.
“Esperamos agora apenas um corte de 0,50 ponto percentual na taxa de juros neste ano, uma redução de 0,25 ponto percentual no encontro do Fomc [comitê responsável pela definição da política monetária no Fed] em setembro e uma segunda no encontro do Fomc de dezembro”, diz trecho do relatório assinado por Jonathan Pingle, Pierre Lafourcade, Alan Detmeister, Amanda Wilcox e Abigail Watt.
Segundo eles, considerando os dados do CPI de março e o fato de ter mais um dado de inflação para ser divulgado antes da reunião de junho, as chances de um afrouxamento monetário antes de setembro “caíram significativamente”. Em março, a inflação atingiu 3,5% em 12 meses.
Os economistas do UBS destacam ainda que os dados sobre a criação de 303 mil vagas de trabalho nos Estados Unidos em março, número divulgado na semana passada e que ficou acima do esperado pelos analistas, também pesam para postergar o início do corte de juros americanos.
“Será muito difícil desfazer estes sinais dados pela inflação de março, similares aos vistos em fevereiro, e a robustez do mercado de trabalho, que veio acima do que o Fomc projetava na reunião de março, sem uma queda significativa da inflação na próxima divulgação ou dos dados nos dois próximos relatórios de empregos, e que isto venha a tempo para a reunião do Fomc em junho”, diz trecho do relatório.
Os dados do CPI de março derrubaram a ideia corrente no mercado de que a inflação resiliente seria apenas em janeiro e fevereiro, e o questionamento agora passou a ser quantos cortes ocorrerão. Dados da Bloomberg apontam que a aposta agora no mercado é de três cortes de 0,25 ponto percentual no ano, abaixo dos seis estimados no começo de 2024.
Por mais que a expectativa seja de cortes de juros nos Estados Unidos, representantes do Fed já tinham adotado um discurso mais cauteloso. Em 29 de março, o próprio presidente da autoridade monetária americana, Jerome Powell, disse que a economia forte permite ao banco central não ter pressa para iniciar um ciclo de corte de juros. “Queremos ter mais confiança antes de reduzirmos os juros”, afirmou.
No começo de abril, o presidente do Fed Minneapolis, Neel Kashkari, sinalizou a possibilidade de não haver cortes de juros em 2024, se a inflação não ceder. “Se continuarmos vendo a inflação ficando de lado, isso me faria questionar se nós precisamos cortar os juros”, afirmou.
No Brasil, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, demonstrou cautela com relação aos rumos da política monetária americana. Em evento promovido pelo Bradesco BBI no começo do mês, ele afirmou que o processo de desinflação “deu uma estacionada”, com o CPI rodando na casa dos 3,2%, e que falta entender de onde virá a força final para a queda dos preços completar o last mile e atingir a meta de 2% do Fed.