Apesar do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter se comprometido a zerar o déficit fiscal em 2024, economistas-chefes de alguns dos maiores bancos do País colocaram em xeque o plano, avaliando que dificilmente isso será feito somente por meio de aumento de arrecadação.
Segundo eles, a questão fiscal representa o principal desafio do País neste momento, considerando os avanços promovidos nos últimos anos, desde aprovação de marcos regulatórios até reformas estruturais, sendo a reforma da Previdência a principal delas.
“A promessa do governo de zerar o déficit no ano que vem é muito dificil”, disse Cassiana Fernandez, economista-chefe do J.P. Morgan para o Brasil, nesta terça-feira, dia 22 de agosto, em painel na 24ª Conferência Anual Santander, em São Paulo. “Pelas nossas contas, o governo deve fechar com um déficit de 0,8%.”
Para conseguir entregar aquilo que está prometendo, o governo federal teria que ter uma arrecadação adicional de R$ 200 bilhões ao ano, segundo Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual. No entanto, fica a dúvida de como conseguirá realizar isto sem aumentar os impostos ou cortar gastos, duas questões que já foram descartadas pelo governo.
Sobre o plano de Haddad de conseguir uma arrecadação extra via medidas adminstrativas, como a revisão dos regimes especiais de tributação ou mudanças nas regras do Carf, Mansueto demonstra ceticismo, questionando a sustentabilidade do plano. “Daqui a três anos, na próxima eleição, vamos estar discutindo ajuste fiscal”, afirmou.
Apesar do tom pessimista com o lado fiscal, a proposta de arcabouço fiscal sendo debatida no Congresso é vista tendo a capacidade de, ao menos, não piorar a situação. “A dívida do país deve crescer 10 pontos até o final do governo Lula”, disse Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco. “É um crescimento menor que a mediana esperada para os países do G-20.”
Para Mansueto, se o governo chegar pelo menos próximo às metas que prometeu de resultado primário, ele vê a situação do mercado de capitais melhorando.
Em relação às expectativas de crescimento para este ano e o próximo, os economistas voltaram a demonstrar conservadorismo. Ainda que tenham admitido que boa parte da classe errou as projeções nos últimos anos, e que os cortes de juros devem dar algum impulso, eles avaliam que a economia ainda está numa situação frágil.
“Nossos dados proprietários indicam que a economia está perdendo tração no terceiro trimestre, o que não surpreende, considerando juros altos e fim do efeito do agro”, diz Honorato, avaliando que a economia deve crescer 1,5% no ano que vem, podendo chegar a 2% no melhor cenário. Para este ano, a expectativa é de 2,1%.
Fernandez, por sua vez, é mais pessimista em relação ao crescimento. Segundo ela, se for tirar o resultado do agro no começo do ano, o PIB cresceria perto de 0,5%. A projeção do J.P. Morgan é de alta de 2,4% para 2023.
Já para o ano que vem, Fernandez também não se mostra otimista. “Vai precisar de um novo fator, de um novo vetor de crescimento, e é difícil ver um fator que pode levar o PIB a crescer acima de 2%”, disse, esperando um avanço de 1%. “Está muito difícil fazer projeção para o agro no ano que vem, tem uma incerteza muito grande.”
O BTG Pactual espera que o PIB cresça 2,2% neste ano e 1% no próximo. Ainda que seja cético do lado fiscal, Mansueto ressalta que as condições da economia estão melhores e devem ganhar força com a queda dos juros. “É um cenário melhor para a indústria e serviços, e a economia não fica dependente da agricultura”, afirmou.