A última “Superquarta” de 2023 está cravada no calendário. As reuniões de política monetária do Banco Central (BC) e do Federal Reserve (Fed) serão encerradas em 13 de dezembro. No dia seguinte, o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco da Inglaterra se juntam à dupla na definição das taxas básicas de fechamento do ano.

No Brasil, apontam analistas e Roberto Campos Neto, a Selic deverá recuar mais 0,50 ponto percentual, para 11,75% ao ano. E a expectativa consensual é de que a queda continua em 2024. Se vai ser acelerada são outros quinhentos.

Nos EUA, o juro deve permanecer entre 5,25% e 5,50%. Cresce, porém, a pressão do mercado para que o Fed inicie o processo de corte em março ou junho a depender de quem está do outro lado do balcão.

Para a Zona do Euro e Inglaterra, as projeções apontam para manutenção das principais taxas em 4% e 5,25%, respectivamente. Mas a fraqueza da economia em toda Europa e o desaquecimento mais claro nos EUA, sobretudo no mercado de trabalho, afligem investidores e governos.

Até por esse motivo, embora os índices de inflação continuem acima das metas – alinhadas em 2% nas grandes economias – neste dezembro, os maiores bancos centrais do mundo poderão sinalizar que os juros chegaram ao pico. O início da flexibilização, contudo, é uma incógnita e de improvável revelação.

Inclusive porque ao não determinar datas, os bancos centrais evitam que os mercados antecipem cortes em juros mais longos. Procedimento que pode comprometer o aperto já realizado e bem-sucedido contra a inflação.

Mas, apesar da assertividade das estimativas para as taxas básicas nesse fim de ano, prevalecem incertezas quanto aos próximos passos dos bancos centrais, o que aumenta a relevância de comunicados e declarações de autoridades após o anúncio das decisões.

No quesito declaração, o BC do Brasil fica devendo. Coletiva pós-Copom não é uma prática. Nunca foi. O ponto alto da semana na seara monetária é a entrevista de interesse global de Jerome Powell e a divulgação de projeções do Fed para indicadores dos EUA – inclusive taxa de juro.

Para o Copom, o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre – acompanhado de revisões de dados como é praxe no período – é mais um elemento a ser avaliado, mas sem o poder de alterar a precificação de corte na Selic em 0,50 ponto percentual em dezembro e janeiro.

O Brasil não “desceu a ladeira” como projetou a maioria dos analistas de bancos e consultorias, mas o enfraquecimento da economia é inquestionável.

Spoiler esclarecedor

O PIB do terceiro trimestre avançou 0,1% ante o período anterior, enquanto as estimativas apontavam queda entre 0,1% e 0,3%. O desempenho da atividade foi menos ruim, mas está longe de bom. E os analistas já elevam para algo entre 2,9% e 3% a estimativa de crescimento desse ano e para cerca de 1,8% a 2% o prognóstico para 2024.

A revisão das projeções segue a batida do IBGE que aumentou de 2,9% para 3% a variação do PIB em 2022. Nas comparações de trimestre ante o anterior, o instituto cravou expansão de 1,4% no primeiro quarto, 1% no segundo e 0,1% no terceiro. Assim, o risco de recessão saiu de cena. Para alívio do governo.

A despeito do declínio trimestral a releitura dos dados garante que, em 2023, a economia avançará 3% ou até um pouco mais, por um efeito estatístico, ainda que o PIB fique congelado de outubro a dezembro.

Essa é a aposta de Fernando Haddad que na terça-feira, 5 de dezembro, deu um spoiler esclarecedor sobre 2024. “A gente espera um crescimento de 2,5% para o ano que vem, mas o BC tem que fazer a parte dele”, afirmou o titular da Fazenda que atribuiu o “resultado fraco” do terceiro trimestre às altas taxas de juros, que só começaram a ser cortadas em agosto.

Apesar da expectativa de que o governo incentivará o consumo e os investimentos, a mensagem de Haddad é clara: a bola está no campo do BC que tem como instrumento de atuação a taxa de juro que seguirá altamente restritiva em boa parte de 2024, se o corte da Selic não for acelerado.

A inflação, medida pelo IPCA de novembro, será divulgada na terça-feira, 12 de dezembro, e valerá como mais um incentivo ao juro menor. O indicador em 12 meses deve cair de 4,82% até outubro para 4,59%, prevê a LCA Consultores. Devendo recuar, portanto, abaixo do teto da meta fixada em 4,75% para o ano.

Também concorre a favor da desinflação a possível redução do preço da gasolina pela Petrobras, em função da acentuada queda da cotação do petróleo no mercado internacional. Na quinta, 7 de dezembro, a companhia anunciou corte no preço do diesel às distribuidoras, a partir desta sexta, 8.

Mas se a queda da Selic será acelerada, só o futuro vai dizer. Na terça-feira, 5 de dezembro, à Frente Parlamentar do Empreendedorismo Campos Neto afirmou que “tudo pode ser reavaliado a cada decisão”. Mas marcou posição ao alertar para o peso das incertezas fiscais sobre as expectativas inflacionárias – ainda vistas como uma trava para reduções maiores do juro.

Pelo sim, pelo não, despontam sinais de que o governo não vai se furtar a incentivar a atividade. Em cerimônia no BNDES, na quarta-feira, 6 de dezembro, o presidente Lula incentivou Aloizio Mercadante, à frente do banco de fomento, a buscar dinheiro no Tesouro para reforçar financiamentos a investimentos. “Arrumar dinheiro e fazer o país crescer”, sintetizou Lula.

Com foco na relevância de reduzir o endividamento e a inadimplência para promover o consumo, na Esplanada dos Ministérios, a Fazenda anunciou a prorrogação do Desenrola até março e revelou a intenção de tornar o programa permanente pelo positivo resultado obtido: 11 milhões de brasileiros atendidos na renegociação de aproximadamente R$ 30 bilhões em dívidas.

O pedido de extensão do prazo do programa chegará ao Congresso nos próximos dias. E a expectativa é de tramitação tranquila. Afinal, a medida é “café pequeno” ante a agenda lotada de propostas cruciais ao caixa da União que aguardam votação às vésperas do início do recesso parlamentar, sendo a Medida Provisória das subvenções de ICMS a mais cara ao ajuste fiscal.