O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, advertiu na terça-feira, 7 de novembro, que o cenário externo de juros elevados por mais tempo, em especial nos Estados Unidos, e as incertezas fiscais no cenário interno podem impactar a trajetória de queda da taxa Selic nos próximos meses.

Segundo ele, por causa dessa dupla instabilidade, o BC trabalha com um horizonte de duas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) para definir o rimo de queda da Selic, que tem sido de 0,50 ponto percentual desde agosto.

“O cenário global está intenso, com juros elevados nos EUA e os conflitos geopolíticos, como no Oriente Médio, mas, são as incertezas fiscais que estão dominado o cenário no Brasil”, disse Campos Neto, durante apresentação no Fórum de Estratégias de Investimento 2024, evento em São Paulo promovido pelo Bradesco Asset Management e Bradesco Global Private Bank.

A palestra de Campos Neto ocorreu horas depois de o Banco Central ter divulgado a ata da última reunião do Copom, realizada na semana passada. Da mesma forma que Campos Neto, a ata faz referência ao cenário global, “que exige cautela”, e a importância “da firme persecução das metas fiscais” previstas pelo arcabouço.

O presidente do BC disse que perspectiva de juros mais altos por mais tempo nos EUA vai causar um enxugamento de liquidez que deve impactar os países emergentes. Embora tenha enfatizado que o Brasil tem feito um bom trabalho na parte fiscal “em comparação com seus pares”, Campos Neto advertiu que o País precisa fazer a “lição de casa” na questão fiscal.

“O mercado não espera que o déficit em 2024 será zero, mas é importante perseguir a meta, não cumpri-la gera expectativa ruim para frente”, disse, reforçando para a dificuldade de projetar 2025 e 2026. Campos Neto praticamente reproduziu em suas falas pontos da ata do Copom divulgada pouco antes.

“O Comitê vinha avaliando que a incerteza fiscal se detinha sobre a execução das metas que haviam sido apresentadas, mas nota que, no período mais recente, cresceu a incerteza em torno da própria meta estabelecida para o resultado fiscal, o que levou a um aumento do prêmio de risco”, aponta o documento do BC.

Ritmo de queda

Para Campos Neto, o clima de incerteza externo e interno está levando o BC a evitar projetar o ritmo de queda da Selic, que tem sido de 0,50 pp, por um período maior de tempo. “Por isso estabelecemos a trajetória em duas reuniões, no máximo”, disse, acrescentando que a cautela visa impedir de “mudar a rota no meio do caminho”.

Na ata, o Copom fala em manter o ritmo de cortes de 0,50 ponto percentual da Selic “nas próximas reuniões”. Citando análise de diferentes cenários, interno e externo, o comitê afirma ter debatido a estratégia a ser seguida e a extensão de ciclo apropriado em cada um desses cenários.

“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, aponta a ata do Copom.

Ao abordar o tema inflação, Campos Neto ressaltou que a desinflação de alimentos tem sido um grande fator para a queda do índice em 2023. Mas listou dois problemas que podem impactar no ritmo de queda da inflação.

“Em meio a desafios de várias frentes para reduzir a inflação, muito provavelmente o país terá uma taxa de juros mais alta por mais tempo”, disse. “Além disso, há uma incerteza adicional sobre desinflação vinda de preços de energia, ligada ao comportamento do petróleo tendo em vista o conflito no Oriente Médio”, emendou.

Na ata, o Copom ressaltou a “composição benigna” da inflação, exibindo desaceleração tanto na inflação de serviços quanto nos núcleos de inflação.

“Os indicadores que agregam os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, que possuem maior inércia inflacionária, apresentaram menor inflação, mas mantêm-se acima da meta”, afirma o documento do Copom.