O Carnaval patrocina um divórcio temporário entre o mercado brasileiro e o internacional. Este ano não vai ser diferente. E a temperatura externa, mais elevada pela repercussão de indicadores de atividade nos EUA e declarações de membros do Federal Reserve (Fed) que freiam expectativas de cortes da taxa de juros, impõe alertas para a correção de preços de ativos que estarão com negociação bloqueada no Brasil.

Sexta-feira, 9 de fevereiro, é dia de conter ou zerar posições de risco – movimento previsível às vésperas de feriados prolongados. E a quarta, 14 de fevereiro, será de realinhamento de preços, se necessário, a partir das 13h, na B3. E, por tabela, em outros segmentos do mercado local que estará totalmente paralisado na segunda e na terça, 12 e 13 de fevereiro.

A semana do Carnaval será de exígua divulgação de indicadores locais. Nem por isso irrelevantes. Nos EUA, uma saraivada de dados será disparada. Desde inflação ao consumidor e ao produtor até vendas no varejo, produção industrial e, ao menos, quatro pronunciamentos de dirigentes do banco central americano. A China dará uma trégua com longo feriado que celebra a chegada do Ano Novo no sábado, 10 de fevereiro.

No Brasil, publicada pelo Banco Central (BC) tradicionalmente às segundas-feiras, a pesquisa Focus sairá na quinta, 15 de fevereiro. E merece atenção pelo incomum e prolongado congelamento de projeções para IPCA, Produto Interno Bruto (PIB), Selic e Taxa de Câmbio – de 2024 a 2027.

As previsões estão travadas. Sinal de mercado perdido? Talvez. Inclusive por distração com o cabo de guerra que opõe Executivo e Congresso neste início de trabalho legislativo. Sinal perturbador para um ano a ser abreviado por eleições municipais e uma precipitada contagem regressiva para a troca de comando na Câmara e no Senado, na largada de 2025.

Com esse calendário antecipado, que traz a valor presente as eleições gerais de 2026, os eventos políticos adicionam incerteza à chancela do Congresso a decisões econômicas propostas pelo Executivo que deverão ser apreciadas ao longo desse ano enxuto. E facilitador, portanto, para a adição de prêmios de risco aos ativos financeiros.

Pesam também contra a atualização de dados explícita na Focus, de um lado, a constatação, destacada publicamente por Fernando Haddad e Roberto Campos Neto, de que o mercado vem errando nas projeções de indicadores. De outro, como mencionei nesse espaço – Experts edição 19 de janeiro – faltam “gatilhos” para uma revisão de expectativas.

Em agosto do ano passado, a aprovação da âncora fiscal e o início do processo de corte na Selic, com sinalização do BC de que novas reduções estavam a caminho, foram “gatilhos” decisivos, porém já esgotados, a favor da perspectiva de crescimento e alívio monetário.

A próxima Focus não necessariamente trará, na mediana de mercado, uma projeção mais ambiciosa do que 1,6% de expansão para o PIB deste ano. Entretanto, analistas não são insensíveis a declarações que remetem a um resultado mais positivo.

Samba de uma nota só

Tanto Haddad como Campos Neto, participantes da CEO Conference 2024 promovida pelo BTG Pactual na terça-feira, 6 de fevereiro, afinaram o discurso sobre o PIB brasileiro.

O ministro pontuou que o “piso da economia foi o terceiro trimestre de 2023” e que o quarto trimestre, a ser conhecido em março, “virá melhor que o esperado”. Acrescentou que espera um crescimento acima de 2%. Parcimonioso, o presidente do BC disse, no mesmo evento, que o PIB “poderá surpreender positivamente no primeiro trimestre”.

No dia seguinte, entretanto, Campos Neto aliou-se ao titular da Fazenda e, em apresentação no Blue Connections, promovido pelo Meio & Mensagem, afirmou que o PIB pode crescer mais de 2% em 2024. As sinalizações são relevantes.

Primeiro, porque vêm da equipe econômica que dispõe de um amplo leque de informações, nem todas acessíveis ao mercado, para avaliar cenários. Segundo, porque a equipe domina uma pauta de medidas – nem todas já formalizadas – que podem alterar a predisposição de famílias ao consumo e de empresas ao investimento. Terceiro, porque, para além do discurso, o governo precisa de condições mais favoráveis para elevar sua popularidade e a do presidente Lula.

A mais recente pesquisa de opinião Atlas Intel, divulgada na terça-feira, 6 de fevereiro, não mostrou avanço na avaliação positiva do governo. Inclusive, registrou discreta queda. Contudo, a avaliação negativa recuou. E, a favor do governo, também declinou – entre novembro e o final de janeiro – a avaliação negativa quanto à situação econômica atual e às expectativas.

Nesse contexto, não passa despercebida a iniciativa do Executivo de aumentar o limite de isenção do IR de pessoas físicas para quem recebe até dois salários mínimos, como anunciado na quarta-feira, 7. Segunda correção desde o início do governo.

Ainda no campo da agenda econômica pós-Carnaval, na quinta-feira, 15 de fevereiro, além da Focus o BC deverá publicar o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de dezembro, passando a bola na sexta, 16, para a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda com o Prisma Fiscal.

O documento, de periodicidade mensal, é “primo” da Focus. Isto é, uma pesquisa monitorada que reúne projeções de mercado sobre variáveis fiscais. E importante balizador de expectativas quanto à condução da política fiscal – tema que suga a energia do ministro da Fazenda e catalisa a atenção de 100% dos economistas de bancos e consultorias.

Na última edição, divulgada em janeiro, o Prisma Fiscal registrou queda na projeção de déficit primário de 2024, de R$ 90 bilhões para R$ 86,143 bilhões. Para a Dívida Bruta do Governo Geral em proporção do PIB, a estimativa de mercado recuou de 78,80% para 78,10%. Déficit zero, nem pensar.