O jornalista William Waack, da CNN Brasil, se referiu ao perfil diplomático de André Esteves, sócio fundador do BTG Pactual, em uma de suas perguntas sobre o ambiente político nacional. Conhecido pelo seu otimismo em qualquer governo e cenário, o chairman do banco demonstrou toda a sua “afinação” no CEO Conference Brasil 2024.

“O primeiro ano do governo começou com uma certa cacofonia econômica, pela mudança de 180º no poder. Mas terminou com o presidente do Banco Central convidado pelo presidente Lula para o churrasco com os ministros. Essa foi uma harmonização construída ao longo do ano”, disse Esteves.

Para ele, essa afinação pode ser vista no primeiro dia da conferência do BTG na conversa com o ministro Fernando Haddad. Esteves destacou que o chefe da Fazenda disse, de forma espontânea, que vai continuar em busca do equilíbrio fiscal, o que vai permitir taxas baixas de juros no longo prazo.

A segunda declaração do Haddad destacada por Esteves foi que a meta de inflação é resultado de um conjunto de coisas, com o Banco Central fazendo o seu máximo, assim como a Fazenda. Para Esteves, esse posicionamento mostra que o falso dilema de que gasto gera crescimento foi compreendido pelo governo.

“Gasto não é vida, é morte. O cidadão que gasta mais do que recebe não vai ter um final feliz. Vale para pessoas, para empresas e para o País”, afirmou Esteves. “O próprio Haddad, confrontado sobre o dilema em um encontro partidário, trouxe o fato: se déficit provoca crescimento e tivemos 10 anos de déficit muito grande, cadê o crescimento?”

O chairman do BTG voltou a afirmar que o déficit nominal deste ano em relação com o PIB do Brasil será menor que o dos Estados Unidos. A mediana do mercado financeiro está em 0,8%, mas ele calcula que será menor.

Mas ele não deixou de frisar que o Brasil ainda tem um gasto muito alto e uma arrecadação tributária também elevada. O ideal é baixar os dois, algo que a perseguição da disciplina fiscal pode entregar, principalmente no longo prazo. E é essa credibilidade fiduciária que pode fazer o País ser elevado, novamente, a grau de investimento pelas agências de classificação de risco.

“Tivemos um gostinho do investment grade no governo Lula e foi bom para o Brasil. Se chegarmos novamente nesse patamar, vai ser muito bom novamente. Não é ideológico e não é uma visão de mercado. É até ingenuidade falar que disciplina fiscal é coisa do mercado”, disse Esteves.

Para referendar seu ponto sobre os avanços institucionais do Brasil, Esteves relembrou três aprovações importantes no Congresso por três diferentes governos: a reforma trabalhista por Michel Temer, mesmo com a menor aprovação da história para um presidente; a reforma da previdência por Jair Bolsonaro, mesmo com todas as dúvidas dentro do executivo; e a reforma tributária por Lula, que fez a mais difícil e conflituosa, pelos interesses arrecadatórios envolvidos ser aprovada.

“Em três governos diferentes tivemos avanços institucionais relevantes. No fundo, eram demandas da sociedade. E, de certa forma, estamos em um ambiente com democracia institucional e até maturidade da classe política”, disse o chairman do banco.

Mesmo em um momento oposto ao do Brasil, Esteves também demonstrou seu otimismo com relação à Argentina. Na terça, 6, ele mediou o debate como ministro da Economia, Luis “Totó” Caputo, em meio às discussões no Congresso sobre a proposta de reforma do governo, que no fim do dia acabou derrotado e novamente na estaca zero.

“O presidente tem um jeito diferente do padrão. Mas ele é preparado, disse qual era o problema, a solução e quanto isso ia custar. Tem conseguido vitórias parciais. Mas a situação da Argentina é tão caótica que você precisa de um personagem para sair do populismo. Olha como a inflação destrói a sociedade”, disse Esteves ao lembrar dos mais de 200% de inflação acumulada no País no ano passado.

E complementou: “Aqui (no Brasil) não derrapamos o suficiente para capotar o carro”.