Normalmente associado a resorts com piscinas abarrotadas e buffets medíocres, o termo all-inclusive nunca foi exatamente a predileção dos viajantes mais refinados. No entanto, uma versão 2.0 do “tudo incluído” está ganhando espaço nos portfólios das grandes redes hoteleiras e redefinido a categoria.

No lugar do entretenimento de massa batido e da piña colada de sempre, o all-inclusive de luxo tenta quebrar a reticência dos hóspedes abastados com atrativos que passam por menus à la carte de alta gastronomia, serviço de mordomo pessoal e experiências guiadas junto a comunidades locais.

“Queremos afastar a percepção de que os hotéis all-inclusive são buffets econômicos, entretenimento previsível e bebidas aguadas”, conta ao NeoFeed Alex Fiz, diretor de all-inclusive da Marriott International.

A Marriott entrou no terreno do all-inclusive em 2016 depois que fechou a fusão com a Starwood Hotels. Na ocasião, o grupo herdou um único empreendimento nesse sistema e começou a usá-lo como laboratório para aprender a lucrar com o modelo.

Em apenas cinco anos, a Marriott alcançou a marca de 31 hotéis com tudo incluído. Alguns deles são hotéis comuns convertidos e outros foram construídos do zero e já nasceram no sistema.

O grupo lançou recentemente seus três primeiros resorts all-inclusive que se enquadram na categoria luxo. O primeiro é Sanctuary Cap Cana, que leva a bandeira The Luxury Collection e foi inaugurado em janeiro de 2023 na República Dominicana.

O resort apenas para adultos oferece 324 suítes em 19 categorias, incluindo uma suíte em uma ilha particular, vilas luxuosas à beira-mar e suítes com terraço e piscina privativa.

Por diárias de até US$ 3.280, os hóspedes do luxuoso projeto-piloto têm acesso a mordomo 24 horas e podem desfrutar do maior campo de golfe do Caribe ou relaxar em uma marina que comporta iates de até 45 metros.

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Vila do Sanctuary, da Marriot, na República Dominicana

Quando feito corretamente, o all-inclusive pode proporcionar um “nível de luxo, serviço, conforto e ofertas culinárias que atendem a todos os tipos de viajantes”, diz Fiz, que está trabalhando na abertura de outros dois all-inclusive de luxo, no México e em Punta Cana, que devem abrir as portas em 2024.

No Brasil, a Marriott também tem grandes planos para o all-Inclusive, com um JW Marriott na área de Maricá, no Rio de Janeiro, juntamente com o tão aguardado hotel temático, o Rock in Rio, An Autograph Collection All-Inclusive Resort.

Ambos os resorts de luxo devem ser inaugurados até o final de 2025. “Nos próximos anos, esperamos abrir o primeiro Ritz-Carlton All-Inclusive Resort, que representará o auge do luxo na implantação do sistema na Marriott”, garante Fiz.

Personalização e tratamento vip

Com mais staff para tocar o barco, as diárias dos all-inclusive de luxo são inevitavelmente mais altas. Mas em troca, cria-se para o hóspede o sentimento de personalização e tratamento vip.

As cotoveladas nos buffets quilométricos dão lugar a refeições servidas no próprio quarto por mordomos de luvas brancas. No Sanctuary Cap Cana, por exemplo, os hóspedes podem usufruir de cinco restaurantes à la carte que contemplam cozinhas de países como Itália, Japão, Espanha e Argentina, isso incluído na diária.

Outro diferencial é que o hóspede não fica preso no resort. Ele é encorajado a ir além dos portões e criar suas “próprias memórias” ao realizar experiências elaboradas sob medida pelos concierges do hotel. E tudo incluído na diária, claro.

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Tenda do Naviva Four Seasons, em Punta Mita, no México

“Hoje oferecemos experiências como um momento epicurista em nosso resort Luxury Collection em Punta Cana em torno de do coco, café e cacau, os três produtos mais icônicos do país”, conta Fiz.

A tendência all-inclusive também está em outras gigantes da hospitalidade. A Hyatt, que se tornou a maior operadora de resorts all-inclusive após adquirir o Apple Leisure Group por US$ 2,7 bilhões em 2021, já possui 120 empreendimentos do tipo e se prepara para fincar a bandeira na Bulgária e em Portugal.

Já o Four Seasons inaugurou seu primeiro all-inclusive no começo do ano. Com diárias que partem de US$ 3,950, o Four Seasons Naviva, em Punta Mita, no México, possui 15 tendas integradas a natureza e oferece aos hóspedes experiências exclusivas de bem-estar como degustações de cafés locais e banho noturno em uma floresta.

Para Simon Mayle, especialista em turismo de luxo e diretor da ILTM Américas do Norte e Latina, as viagens no geral se tornaram mais complicadas após a pandemia, com aeroportos abarrotados, voos atrasados e malas extraviadas.

Nesse cenário, os turistas, principalmente as famílias, estão buscando viagens mais simples, o que explica a alta procura por cruzeiros e hotéis com tudo incluído. “Além disso, para muitos hóspedes é muito desagradável pagar tarifas altas num hotel de luxo e ainda assim sentir que será cobrado a cada item que consome lá dentro”.

Do outro lado, os hotéis também se beneficiam do sistema porque conseguem se planejar melhor e serem mais assertivos em agradar os hóspedes.

“Quando tudo está incluído, é mais fácil contemplar as expectativas dos hóspedes.” Além disso, com o pagamento antecipado, diz, “os hotéis sabem quantos clientes vão receber e conseguem organizar com antecedência a logística e o staff”.

Em uma pesquisa com 1.515 adultos americanos realizada a pedido da Marriott no pós-pandemia, 54% dos entrevistados demonstraram predileção pelo modelo all-inclusive. O crescimento na aceitação é atribuído a uma mudança na mentalidade dos viajantes.

Ao mesmo tempo em que a demanda por viagens cresceu como nunca, com taxas de ocupação até maiores do que antes da pandemia, o cansaço de ter que tomar inúmeras micro decisões em relação a hospedagem também aumentou.

“Os hóspedes querem tomar menos decisões e aproveitar mais a viagem. Pagar um único preço com antecedência é um grande atrativo”, diz Fiz.