Depois de rejuvenescer sua marca, a Aramis deu início à construção de sua “House of Brands” de moda masculina no fim de 2022, a partir do lançamento da Urban, que mescla esporte, lazer e trabalho. A próxima etapa nessa direção veio em agosto deste ano, com a chegada da grife infantil Aramis Next.

Agora, a varejista de moda está dando — literalmente — mais um passo adiante nessa estratégia, ao internalizar sua operação de calçados e acessórios masculinos. Com esse movimento, antecipado com exclusividade ao NeoFeed, a empresa consolida a quarta unidade de negócios em seu portfólio.

“Nosso desafio é sempre olhar os oceanos azuis do mercado onde temos capacidade e vocação de chegar”, diz Richard Stad, CEO da Aramis. “E essa é uma categoria que, já na largada, nos traz muito potencial de incremento de faturamento, distribuição e sortimento.”

A decisão de caminhar com os “próprios pés” na categoria começou a ser maturada há cerca de um ano. A operação era tocada por um terceiro, não revelado. A Aramis participava no design dos produtos e era remunerada pelo licenciamento da marca — esse parceiro fatura R$ 60 milhões por ano com o negócio.

Com a unidade dentro de casa, a grife busca ter mais controle não apenas sobre os canais de distribuição e o mix, com a possibilidade de expandir substancialmente essas duas frentes. Mas também sobre o posicionamento da marca, agora, 100% alinhada à sua tese de lifestyle e “casual sofisticado”.

Ao amarrar essas pontas, a Aramis mira ainda uma fatia mais ampla de um mercado total que prevê movimentar R$ 40,2 bilhões em 2025. No recorte dessa cifra, a projeção para os calçados masculinos é de R$ 6,03 bilhões, com as categorias casual e social respondendo por R$ 3,31 bilhões desse montante.

Segundo estudos da grife, levando-se em conta que esses números são relativos à produção de calçados no Brasil e que o varejo calçadista atua com um markup — percentual adicionado ao preço final para garantir a margem de lucro — de 2,3%, o mercado endereçável estimado pela Aramis é de R$ 7,6 bilhões.

Stad observa que o investimento feito nessa migração foi marginal. A consolidação da nova unidade se beneficiou de boa parte da estrutura do grupo e de um motor já desenhado para a chegada de novas marcas. Os aprendizados com a Urban e a Next ajudaram a acelerar esse processo.

“Nosso desafio é sempre olhar os oceanos azuis do mercado onde temos capacidade e vocação de chegar”, diz Richard Stad

Nesse desenho, a operação de calçados e acessórios terá uma equipe dedicada de oito profissionais, além de um batalhão externo de representantes calçadistas. E para comandar esse time, a Aramis trouxe Arthur Batista, que se reportará a Andre Yui, diretor de novos negócios da companhia.

Um dos primeiros passos a partir dessa estrutura será desenvolver outros fornecedores para a marca. Além da manutenção do parceiro que respondia pela operação, a Aramis já mantém negociações com outras oito empresas para assumir a produção dos calçados.

Esse leque mais variado também se conecta com o plano de ampliação do portfólio, hoje, composto por 190 SKUs e mais concentrado em sneakers e nos chamados “sapatênis”. A ideia é estender essa oferta para linhas como sapatos de alfaiataria, em Aramis, e novas opções em Urban.

O portfólio da nova unidade incluirá ainda acessórios, como mochilas, carteiras, necessaires e malas de viagem. E a primeira coleção 100% desenhada sob essa nova organização chegará às lojas em abril de 2026.

“Na Aramis Next, nesse primeiro momento, optamos por manter o modelo de licenciamento, com o antigo fornecedor”, diz Stad. “A marca ainda é muito nova e temos que adquirir um pouco mais de know how e entendimento dessa categoria antes de fazer essa virada”.

A passos largos?

No que diz respeito à distribuição, a operação já nasce com uma presença em 400 lojas multimarcas dedicadas exclusivamente a calçados. Um dos planos é expandir esse volume para mil pontos de venda, incluindo nessa conta canais especializados e também de moda.

Em paralelo, a estratégia é explorar a capilaridade da Aramis, que vai encerrar 2025 com 140 lojas — entre próprias e franquias — e está presente em 1.250 multimarcas. Em sua base, a grife já começa a costurar alguns modelos a serem testados para esse novo momento da marca de calçados.

Assim como Next e a Urban — que também tem quatro lojas e planeja outras sete para 2026 — a ideia é investir em corners — espaços dedicados à marca — nos pontos de venda da Aramis. Com essa pegada, a empresa vai testar um novo formato de exposição para a categoria em três unidades da sua rede.

“Queremos entender o quanto o calçado consegue crescer em performance dentro dessas lojas com uma exposição e um sortimento mais alinhado à nossa estratégia”, diz Stad. “Faremos isso por três meses antes de escalar esse formato para as demais lojas.”

A empresa avalia ainda ampliar o tamanho das lojas da Aramis para abrigar essa estratégia e as demais marcas em um espaço mais adequado. E, no futuro, não descarta investir em lojas exclusivas de calçados, em particular, algumas poucas flagships para reforçar o posicionamento da marca.

Com esses planos em execução, a projeção é alcançar um faturamento de R$ 75 milhões com essa operação em 2026, ano em que a Aramis projeta bater sua meta de superar R$ 1 bilhão em receita bruta. Para 2030, o número traçado para a unidade de calçados é de R$ 300 milhões.

“Em 2026, nosso plano é colocar potência nessas quatro unidades de negócio para mostrar a escala do que estamos construindo”, afirma Stad. “E, dentro dessa meta de R$ 1 bilhão, acredito que cerca de R$ 200 milhões já venham desses três novos negócios da companhia.”

No caminho para tornar realidade esses números, a Aramis Inc. fechou o primeiro semestre de 2025 com um crescimento de 20% em sua receita sobre igual período do ano passado e uma base de 600 mil clientes ativos. Para o ano, a projeção é chegar a um faturamento de R$ 800 milhões.