Foi no fim dos anos 1980 que, a partir de uma necessidade pessoal, Ana Maria Lopes, terceira geração da família fundadora da Casa Santa Luzia, deu início à primeira linha de produtos de marca própria do supermercado de luxo fundado em 1926 no bairro paulistano do Jardim Paulista.
Quase quarenta anos depois de lançados os primeiros pratos congelados e com o “empório” alçado a templo dos amantes da gastronomia, os itens de marca própria representam 22% do faturamento da empresa.
Até o fim do ano pretendem aumentar essa fatia ao entrar em 12 novas categorias, além das 28 em que já atuam com um total de aproximadamente três mil itens (quase 10% de toda a oferta da loja), indo de queijos cremosos e antepastos a sorvetes, pães, massas e doces.
À frente do desafio está o diretor comercial Guilherme Lopes, quinta geração à frente do negócio familiar, e a coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento Tatiana Barão, vinda da Unilever. O primeiro projeto deste ano a ser posto em prática é a linha de carnes nobres batizada Seleção Ouro, um dos segmentos de maior expansão no mercado.
De acordo com dados do Programa Carne Angus Certificada, que agrega 40 unidades frigoríficas em 11 estados brasileiros, a produção cresceu 17% em 2022 (totalizando 35,8 milhões de kg) em relação a 2021, recorde histórico desde que o programa foi iniciado, em 2016.
“A gente tem um público claro para estes cortes nobres aqui. E o mercado de churrasco é imenso. Precisamos trazer mais esse consumidor para cá”, diz o executivo ao NeoFeed. Apesar de a Casa Santa Luzia ser um destino tradicional para quem busca ingredientes especiais, a concorrência tem aumentado.
Com a abertura do Empório Fasano, no ano passado, a oferta de produtos gourmets e a disputa por consumidores exigentes se ampliou, ainda mais com uma marca também tradicional na cidade e reconhecida pela excelência gastronômica.
A linha nobre é composta inicialmente por 14 cortes bovinos voltados para o público churrasqueiro, como t-bone, denver, bife de chorizo, assado de tira, costela sem osso, costela de tira, shoulder, prime e short rib, fraldinha red, maminha, picanha. Em breve, a distribuição será ampliada para o app da loja e para o Rappi.
Todos os cortes contam com o selo Angus Gold concedido pela ABA (Associação Brasileira de Angus). O que significa ter um produto mais macio, sustentável, com alto grau de marmoreio e rastreável, proveniente de gado da raça Aberdeen Angus.
Estrategicamente precificada entre as principais marcas concorrentes do segmento premium, como Swift Black, Terral e Empório 481, em apenas dois meses de "teste" a linha já responde por 40% do faturamento de cortes para churrasco, com possibilidade de atingir 60% nos próximos 12 meses.
“A ideia não é excluir os demais fornecedores até pela filosofia de variedade da casa, mas ter cada vez mais relevância com a marca própria”, explica Lopes. Para se ter uma ideia, o quilo da picanha Ouro sairá por R$ 255, enquanto o quilo do bife de chorizo, R$ 171.
Parceiro de longa data, o frigorífico VPJ, de Pirassununga, será o responsável pelo fornecimento das carnes – algumas preparadas com especificações exclusivas para atender os desejos da clientela da casa, como maior ou menor gramatura ou diferente porcentagem de capa de gordura – e garantirá a entrega das peças frescas, embaladas à vácuo, até duas vezes por semana. “Não teremos nada congelado” aponta Lopes.
Mas a aposta nas carnes nobres não para por aí. No próximo mês, a Seleção Ouro ganha mais 10 cortes voltados para o dia a dia, como bifes de contrafilé ou alcatra angus, com valores 20% a 25% acima dos praticados na linha básica. Na sequência virão cortes de porco Duroc e 5 variedades de linguiça. Novidades que deverão ajudar o volume mensal, “que está chegando a uma tonelada”, dobrar ou mesmo triplicar até o fim do ano.
“Trazer essa linha para o dia a dia é um diferencial no mercado, uma vez que para nós é fácil capturar esse cliente especial”, afirma Lopes. Atualmente a área de carnes responde pelo quarto lugar dentro do faturamento da empresa (7,3%), antecedido pelos itens de mercearia básica (8,5%), laticínios (11%) e frutas, legumes, verduras (12%). “Nossa expectativa é crescer em todas as áreas e não mudar essas posições”, afirma o diretor comercial.