Os imóveis de luxo nunca foram tão disputados por bilionários estrangeiros que estão se mudando para a Itália. A vontade de viver a ‘dolce vita’ é tão grande entre os novos residentes abastados que está causando uma corrida por castelos e mansões à venda no país.
“Os proprietários, que provavelmente teriam vendido seus castelos ou mansões em uma situação normal de mercado, hoje esperam e especulam mais para aproveitar à grande procura”, explica ao NeoFeed o consultor Marcus Benussi, da Maggi Group Real Estate, agência imobiliária filiada a Berkshire Hathaway HomeServices, de Warren Buffett.
“As propriedades localizadas nos locais preferidos dos estrangeiros já acabaram ou estão prestes a acabar.” A equipe de Benussi vendeu recentemente dois castelos dos poucos ainda disponíveis com as comodidades exigidas. Nas Colinas de Piacenza, a 70 quilômetro de Milão, um gerente internacional britânico comprou um castelo de estilo medieval por € 3,5 milhões.
A propriedade possui área de pouso para helicópteros, piscina, spa e estábulos totalmente equipados. Já no Vale de Aosta, região italiana que faz fronteira com Suíça e França, um executivo aposentado de Nova York arrematou um castelo do século XI totalmente reformado por € 6,5 milhões.
A procura se repete em outras consultorias imobiliárias como Sotheby's e Lionard, por exemplo, ambas com atuação no mercado de luxo. Nesta última, especializada na Itália, há castelos em negociação reservada, como um que remonta o século X com 8 mil m², também nas colinas de Piacenza, numa propriedade de 7 hectares.
O chamariz de bilionários britânicos, alemães, americanos, holandeses, russos, australianos, e diversos outros, é um generoso incentivo fiscal criado pelo governo italiano em 2017. Em vez das tradicionais alíquotas progressivas de imposto, no novo programa, quem topa fixar residência permanente na Itália (pelo menos 183 dias por ano) precisa desembolsar uma taxa anual de € 100 mil.
Os adeptos do regime tributário especial para novos residentes ficam totalmente isentos de pagar imposto sobre a renda gerada no exterior. O programa também inclui isenção sobre doações e heranças para ativos estrangeiros, bem como isenção de monitoramento fiscal. O benefício ainda pode ser estendido aos familiares dos super ricos por € 25 mil adicionais por pessoa.
“O mercado imobiliário de luxo estava normal até 2020, mas após a primeira fase da covid, a demanda por imóveis cresceu muito”, explica Benussi. Foi nessa época que castelos e mansões passaram a ser disputadas por famílias que não abrem mão piscina, quadra de tênis e, em muitos casos, heliporto.
“O preço das propriedades de luxo está aumentando em toda a Itália. 2022 foi o melhor ano em décadas para os corretores de imóveis.” No Lago Di Como, um dos destinos preferidos dos bilionários, que serviu de cenário para algumas cenas da série Succession, a empresa de mediação imobiliária Palazzo Estate realizou a venda de propriedades de € 10 milhões, € 30 milhões e € 50 milhões.
Todos para clientes americanos, alemães e australianos que se mudaram para a Itália devido à isenção fiscal. “90% de todos os contratos de compras de propriedades no Lago di Como e no Lago di Garda são de estrangeiros”, diz Benussi.
Na Sotheby’s, às margens do Lago Di Como, uma mansão com 10 quartos e 5 banheiros, com vista panorâmica do lago, foi ofertada recentemente por € 22,22 milhões. Por sua vez, uma vila construída no século XV, perto de Florença, outra região nobre, (com 40 quartos, 45 banheiros e 10.500 metros quadrados) está sendo negociada por € 33,33 milhões.
Criado para aumentar os grandes gastos na Itália, o imposto fixo para bilionários atraiu 98 pessoas em 2017 antes de saltar para 549 em 2020 e mais do que dobrar para 1.339 em 2021 (dado mais recente). Os beneficiários são majoritariamente membros de Family Offices, ex-empresários e aposentados com mais 50 anos. Ao se estabelecerem na Itália, muitos deles passam a produzir vinho ou abrem negócios de hospitalidade.
“A propriedade mais cara que vendemos recentemente foi uma mansão de € 11 milhões em uma colina de Portofino, na riviera de Génova”, conta Benussi. Por trabalhar com clientes ricos que prezam por descrição, o agente não revela exatamente quais propriedades foram vendidas, mas garante que houve imensa valorização nos últimos anos.
Entre as grandes cidades italianas, Milão é a favorita dos novos residentes. Muitos deles são banqueiros de Londres que decidiram se mudar do Reino Unido devido o Brexit. Em Milão, os apartamentos de alto padrão estão cada vez mais escassos e as incorporadoras correm para erguer edifícios de luxo.
O relatório de riqueza da consultoria francesa Knight Frank (The Wealth Report 2023) aponta que o imposto fixo italiano transformou o mercado imobiliário de luxo no país. “O imposto único é uma ideia inteligente e transformou as perspectivas da Itália. Há três ou quatro anos, havia pouca demanda por coberturas em Milão. Agora, é praticamente impossível encontrá-las”, diz o relatório.
Para a Knight Frank, o lifestyle italiano é um diferencial que está atraindo novos residentes super ricos. Quando se trata da motivação por trás da compra de imóveis de luxo, em primeiro lugar, vem a compra como investimento (62%), em segundo lugar, aquisições motivadas por estilo de vida (29%). “Mercados litorâneos na Itália, França e Portugal oferecem o estilo de vida que a maioria das pessoas estão buscando após a pandemia”, diz o relatório.
Depois de Milão, Roma é a cidade predileta dos estrangeiros, seguida por Verona, Trieste, Palermo e Perúgia. Na capital italiana, os imóveis de luxo também não ficam listados por muito tempo.
Ao lado da Fontana Di Trevi, um palacete do século XVIII chamado Palazzo Raggi foi totalmente restaurado para abrigar 30 apartamentos negociados por dezenas de milhões de euros pelo braço imobiliário da Sotheby’s. Todos os imóveis foram vendidos em pouco mais de um ano para clientes selecionados a dedo.
Além dos inúmeros atrativos superlativos italianos, como cultura e lifestyle, investir em imóveis de luxo no país (ainda) é mais barato do que fazer o mesmo em cidades como Londres e Paris.
O fato de a Itália ser muito bem conectada por avião com o restante da Europa também ajuda a atrair os novos moradores. “Os residentes com negócios no restante da Europa podem facilmente pegar um jato, fazer uma reunião em Londres e voltar para a Itália no mesmo dia”, finaliza Benussi.