Tinham se passado só cinco horas desde a abertura do Catarina Aviation Show e um vendedor no estande da Land Rover já tirava o pedido do novo Range Rover PHEV Autobiography avaliado em R$1,4 milhão, “um modelo de alta performance, 30% elétrico que consegue fazer 113 km sem precisar de combustão”.
Na segunda edição do evento de aviação executiva organizado pela JHSF e NürnbergMesse no aeroporto internacional Catarina, em São Roque (SP), (o mesmo que Elon Musk escolheu para pousar em sua visita ao país, no ano passado), não havia sinais de turbulência econômica. O Brasil se mantém entre os "três países com a maior frota de aviões executivos no mundo”, com mais de dois mil turbo-hélices e jatos.
Fechada para convidados, que chegam em conversíveis e jatos, a “feira de luxo” (de 1 a 3 de junho) reuniu sete fabricantes (Gulfstream, Pilatus, Cirrus, Leonardo, Airbus/Elibras, Embraer e Aeromot), um distribuidor de helicópteros (Gualter), que exibiram 17 aeronaves, o dobro da primeira edição.
Também havia seis marcas de carros, assim como expositores de outras áreas do setor, num total de 38. Um universo que incentivou a Samsung, por exemplo, a criar um estande para expor seu painel de microled, de 110 polegadas, da linha de “produtos ultrassofisticados”, de R$ 1 milhão.
“É uma Disneylândia para quem se interessa por aviões e uma exposição de máquinas para economizar tempo”, disse ao NeoFeed Thiago Alonso de Oliveira, CEO do grupo JHSF. O Catarina tem três anos de operação e se tornou o “maior aeroporto em frota executiva do país”, com 110 aviões hangarados, sendo 65% das aeronaves de longo alcance no Brasil.
O evento impacta na expansão do próprio aeroporto, mas também alimenta o ecossistema do grupo JHSF, como o condomínio Fazenda Boa Vista, que fica próximo. “No ano passado tínhamos seis hangares, e com a demanda, chegamos a doze este ano. A feira dobrou de tamanho e nós também.”
O modelo mais caro exibido era o G-600 da Gulfstream de US$60 milhões cuja a primeira unidade no país será entregue em novembro deste ano. Quem encomendasse no evento a aeronave com autonomia para voar de São Paulo a Moscou, contudo, teria de entrar na fila de espera para receber no primeiro trimestre de 2025. E, claro, ela existe.
O mercado de aviação executiva "continua aquecido no mundo e no Brasil". Filas de espera de novos modelos vão de um ano a dois anos e meio, disse ao NeoFeed, Juliano Lefèvre, diretor da Comexport, trade que traz os carros da Mercedes, por exemplo, e que há 14 anos entrou no ramo de aviação. Hoje importa 60% das aeronaves vendidas no país.
“Estamos crescendo 20% ao ano desde 2020 e este ano já atingimos nossa meta em maio. Devemos chegar a um crescimento de 30%”. Segundo ele, há 40 aeronaves vendidas na companhia hoje com prazos de entrega até 2025.
“Só hoje antes de chegar aqui fechamos três negócios de usados, um helicóptero Robinson, um avião TBM e um jato Citation Cj2”. A compra compartilhada de jatos executivos é um dos motores de crescimento do setor, diz ele, que calcula ter em torno de 10% das vendas neste modelo.
Entre seus clientes, contudo, 30% são do agronegócio, com alguns com até seis aeronaves. Durante a visita de um grupo empresários deste setor, o interesse se estendeu aos modelos da Mercedes, como o AMG G 63 e do EQS 53, além do EQE 300 para test-drive, apresentados no stand da Comexport.
“Na empolgação, um deles me perguntou: como faço para levar já um desses?”, contou rindo Lefrève, apontando para os carros. As compras de aeronaves não são por impulso, claro. Mas a feira desperta um certo frenesi, ainda que as vendas não sejam imediatas.
A frota da Gulfstream, por exemplo, chega a 60 aeronaves no país, sendo o Brasil e o México os principais países na América Latina, que representa 8% dos negócios. A cada ano de dois a três novos exemplares são vendidos no país, mas a espera de no mínimo 14 meses aqueceu o mercado de usados.
Assim como aconteceu no setor de luxo com relógios, por exemplo, os Gulfstream de “segunda mão” chegam a ser adquiridos com ágio de 30% em relação aos novos, como apurou o NeoFeed.
No evento também foi apresentado pela primeira vez no país um mockup em tamanho natural do Agusta AW 09, um helicóptero multifunção monomotor de cinco a oito assentos da Leonardo. O modelo custa hoje 3,75 milhões de euros (preço FOB, na Itália).
A Gualter tornou-se distribuidor exclusivo do AW09 no país, numa negociação que começou “há 10 anos com a Kopter, antes dela ser comprada pela Leonardo”, contou Gualter Pizzi, fundador da Gualter Helicópteros.
Ele fechou a compra de 20 unidades em março na Hai Heli Expo, a maior feira de helicópteros do mundo, em Atlanta. “É um modelo multifuncional para lazer, táxi aéreo, assim como funciona como ambulância e atende a polícia e forças armadas.”
Ele enxergou uma oportunidade de negócios diante da mudança na legislação que “agora permite que monomotores possam operar por instrumentos. Antes eram só bimotores. E esse modelo reúne as melhores condições técnicas para atender essa demanda por funcionar em quatro eixos.”
Em sua avaliação, o mercado brasileiro comporta vinte AW09 por ano, e sua expectativa era sair da feira com quatro vendas encaminhadas para entrega no começo de 2025. Para tanto, fechou uma linha com o Bradesco, de dez anos com financiamento de até 80% do valor.
A tradição de sua empresa é, contudo, na comercialização de helicópteros usados, mercado que também tem crescido 8% ao ano, segundo ele, colocando o Brasil em terceiro lugar no ranking, atrás de Estados Unidos e Canadá.
“Minha expectativa é vender 25 helicópteros usados este ano. A diferença é que nesse segmento mais de 80% dos clientes pagam a vista.” O mercado total de helicópteros usados no país hoje, estima ele, é de 50 unidades por ano.