Após privatizar a ponte mais antiga de Paris, a Pont Neuf, para o desfile de estreia do diretor criativo Pharrell Williams na coleção masculina da Louis Vuitton, o grupo LVMH, lança um iate-spa da Dior que fará cruzeiros pelo Sena.
Assim como o evento de Williams, entretenimento em um patrimônio histórico com cerca de 1,8 mil convidados e repercussão planetária, esse é mais um passo do grupo em sua estratégia de transformar suas grifes em marcas culturais.
Dessa forma, a LVMH associa suas marcas a paisagens cinematográficas e tudo o que Paris inspira no universo da moda, do luxo e da arte.
O spa flutuante da Dior foi batizado de Excellence. É um iate de alto luxo que inclui até piscina em um passeio que promete “bem-estar para o corpo e à mente.” Além de contemplar a beleza dos monumentos da cidade, os passageiros poderão fazer ioga, pilates, massagens e diversos tratamentos de beleza.
O barco totalmente redecorado ficará ancorado próximo à ilha Saint-Louis e entre um tratamento facial e um suco detox, será possível conferir a catedral de Notre-Dame, a Conciergerie, o Louvre, a Torre Eiffel e outros menos frequentados pelos turistas, como a Biblioteca Nacional moderna.
A data de 3 de julho para o início dos cruzeiros da Dior pelo Sena, que prometem programas de tratamento holístico (abordagem que considera os aspectos físico, mental e emocional de forma interligada), não foi escolhida por acaso.
Ela coincide com a abertura dos desfiles de alta-costura outono-inverno na capital francesa, no mesmo dia em que a grife apresenta sua coleção.
Os passeios de iate-spa da grife, no entanto, vão durar além da semana de moda parisiense para abocanhar também outra data emblemática, o 14 de julho, a comemoração da Tomada da Bastilha.
O “Spa Dior Cruise” terá dois tipos de passeios: o com massagens e tratamentos de beleza para o rosto ou corpo (680 euros) e o com atividades esportivas (280 euros).
Eles duram duas horas, sendo que uma delas é reservada para relaxar no deck de 120 m² do Excellence, sob guarda-sóis com a estampa da tela de Jouy, utilizada em roupas e acessórios da marca. É uma proposta para vivenciar Paris de uma maneira, digamos, bem mais confortável do que num tradicional barco de turismo que percorre o Sena.
É possível ainda uma imersão total, com a combinação dos dois cruzeiros, num total de quatro horas por 960 euros. Há cinco opções de programas: detox, equilíbrio, anti-idade (que prevê “relaxamento completo para a pele e a mente”), relaxamento (que inclui suco da serenidade), e sessão de respirologia e energia.
Por ter um público mais restrito, o spa flutuante da Dior não tem suscitado as polêmicas que ocorreram em relação ao desfile da Louis Vuitton na ponte Neuf.
Apesar da própria prefeita de Paris, Anne Hidalgo, estar entre os convidados, políticos municipais criticaram a “privatização” feita pela LVMH da ponte e de áreas próximas, que tiveram o acesso totalmente fechado por horas.
A prefeitura da capital francesa recebeu 184 mil euros pela utilização do Pont Neuf. A LVMH também desembolsou 250 mil euros com a segurança policial para o evento. A ponte fica bem em frente à loja de departamentos La Samaritaine e ao hotel de luxo Le Cheval Blanc, que pertencem ao grupo.
A moda masculina representa apenas 5% da receita da Louis Vuitton, que ultrapassou 20 bilhões de euros no ano passado, “mas um eco pode ressoar nas outras atividades”, avalia o banco HSBC em uma nota de analista.
Na avaliação do banco, foi uma escolha “audaciosa” e “coerente” com a visão de Bernard Arnault, dono da LVMH, “segundo a qual Louis Vuitton vende cultura e não apenas bolsas.”
Essa mesma reflexão é aplicada em relação à Dior, outra pepita do grupo LVMH. Foi a primeira empresa que Arnault comprou, em 1984, ao adquirir o falido grupo têxtil francês Boussac, que detinha a grife de alta-costura.
No ano passado, a Christian Dior Couture faturou 8,7 bilhões de euros. O grupo LVMH registrou novo recorde de vendas em 2022, com faturamento de 79,2 bilhões de euros.
“Há duas locomotivas no segmento moda e acessórios do grupo, a Louis Vuitton e a Dior, com crescimento notável no ano passado. A Louis Vuitton tem uma rentabilidade excepcional. O interesse disso é poder investir na desejabilidade das marcas e favorecer dessa forma o crescimento a longo prazo” ressaltou Jean-Jacques Guiony, diretor financeiro da LVMH ao jornal francês Les Échos.
O iate-spa que navega por Paris, “cidade que Christian Dior amava de verdade”, como diz o grupo, é o mais recente investimento desse novo momento “holístico” das marcas.