Em meio à crise que assola o mercado de luxo desde 2022, o conglomerado LVMH está respirando (um pouquinho) mais aliviado. No terceiro trimestre de 2025, a companhia francesa registrou avanço de 1% na receita total, atingindo € 18,3 bilhões. É o primeiro crescimento da empresa no ano, depois de meses de retração. E Bernard Arnault deve agradecer a Sephora pela trégua.
A rede global de lojas de cosméticos, perfumes e produtos de beleza liderou o aumento de 7% da divisão de varejo — oficialmente chamada de selective retailing, ela reúne negócios multimarcas, atuando como distribuidora e revendedora tanto de artigos do próprio grupo quanto de terceiros.
“A Sephora apresentou um desempenho notável, mais uma vez registrando crescimento consistente de receita”, lê-se no balanço financeiro da LVMH, divulgado nesta semana. “Como estratégia, a companhia continuou a ampliar sua seleção exclusiva de marcas, com destaque para a Rhode, que teve um lançamento recorde.”
Lançada em 2022 pela modelo Hailey Bieber, até o mês passado, a Rhode operava apenas pelo próprio e-commerce e, pontualmente, em pop-ups exclusivas. Em 4 de setembro, a Sephora passou a vender os produtos da marca em lojas selecionadas e no site da rede, inicialmente nos Estados Unidos e no Canadá. Foi um estrondo.
No dia de estreia, a Rhode respondeu por quase 40% de todas as vendas em território americano, informa a consultoria YipitData. Ao cabo de 48 horas, foram US$ 10 milhões em faturamento.
Fundada em 1973, em Paris, por Dominique Mandonnaud, a Sephora foi adquirida pela LVMH em 1997.
Com quase três mil lojas em 35 países, ela é estratégica para a companhia francesa. Em primeiro lugar, a rede conecta o conglomerado com um público mais amplo, diversificado e jovem.
E, ao operar no omnichannel, a Sephora contempla o comportamento digital das novas gerações, mantendo a maison francesa em sintonia com o futuro do consumo — sem comprometer a aura de exclusividade que lhe é tão cara.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a Sephora movimentou US$ 8,63 bilhões em 2024 — quase metade desse valor vinda do canal online.
As linhas de beleza de alto padrão não são uma tábua de salvação apenas para a companhia de Arnault, mas para todas as grifes, em tempos como os atuais — de araras e prateleiras de roupas e acessórios praticamente intocadas.
Ao apostar em cosméticos, perfumes e cuidados para a pele, as marcas diversificam suas receitas e oferecem uma porta de entrada mais acessível para novos consumidores.
Chanel, Yves Saint Laurent e Dior já são veteranas no universo das maquiagens, fragrâncias e skincare. Mas, nos últimos cinco anos, o movimento acelerou. Lançada em 2023, a DG Beauty, da Dolce & Gabbana, por exemplo, no ano fiscal 2023/2024, respondeu por 35% do faturamento da companhia italiana, estimado em € 1,9 bilhão.
Em 2020, a Hermès apresentou ao mercado sua primeira linha de batons. Desde então, a casa de alta moda trouxe outros tantos produtos, como uma paleta de sombras personalizável, lápis de boca e de olho, rímel e uma linha completa de pincéis.
Com esse portfólio, a Hermès Beauty foi responsável por € 248 milhões da receita da companhia nos primeiros seis meses do ano — de um total de € 8 bilhões apurados no período.
"Uma galáxia inteiramente nova"
Fundada em Paris em 1854, a Louis Vuitton era, entre as ultrasofisticadas, uma das poucas sem linha própria de beleza. No final de agosto, a coleção La Beauté chegou causando frisson — entre especialistas e consumidores.
Assinados pela britânica Pat McGrath, uma das maquiadoras mais influentes do mundo, custam de duas a cinco vezes mais do que os similares de grifes igualmente requintadas.
São batons e lip balms a € 140 e quartetos de sombras a € 220. Para se ter ideia, um batom da Gucci é vendido por € 51, enquanto um estojo com quatro cores de sombra da Chanel sai por, no máximo, € 70.
“A Louis Vuitton definiu os preços de seus cosméticos em uma galáxia inteiramente nova de inacessibilidade”, define a plataforma Business of Fashion.
Para os analistas, a casa parisiense talvez queira “falar” apenas com o topo da pirâmide — quem tem dinheiro e tempo de investimento suficientemente grandes para não sentir as turbulências da economia. Diferente dos aspiracionais, os UHNWs (sigla em inglês para “indivíduos de patrimônio líquido muito elevado”) gastam mais e mais.
Avaliado em quase US$ 50 bilhões em 2022, o mercado mundial de cosméticos de luxo deve atingir US$ 75,1 bilhões em 2030, evoluindo até lá a uma taxa de crescimento anual composta de 5,7%, segundo a consultoria Grand View Research.
Ainda assim, especialistas ponderam: é cedo para saber se o fôlego da beleza é apenas momentâneo ou se trará alguma estabilidade às grifes.
As previsões não são das melhores para o principal negócio dessas marcas. Globalmente, a queda média de faturamento do segmento de moda e artigos de couro foi de 2% no ano passado.
E, nos cálculos do UBS, a recuperação só deve ocorrer na segunda metade de 2026. Conforme a Bain & Company, 2025 pode ser o ano mais turbulento para os produtos de alto valor agregado em mais de uma década — isso se o cenário conturbado de agora não se firmar como o “novo normal”do luxo.