Elas estão presentes no Copacabana Palace, no recém-inaugurado Empório Fasano, no Eataly, nos restaurantes da família Troisgros e no SUD, da chef Roberta Sudbrack. Mesmo assim pode ser que você, principalmente se não estiver no Rio de Janeiro, ainda não esteja familiarizado com as marcas Vitalatte e Yorgus. Mas isso está prestes a mudar. Um dos maiores produtores de burrata do Brasil, o grupo se prepara para expandir seus domínios puxado especialmente pelos iogurtes premium, tipo grego, com maior teor de proteína.
“Iogurte premium é hoje um mercado de R$ 14 bilhões no Brasil, e ainda cheio de oportunidades de crescimento”, explica Enrico Leta, que em 2014 abandonou o mercado financeiro em Nova York para criar a marca Yorgus ao lado de seu primo-irmão Patrick Urbano. Desde o início, a proposta foi ter um produto clean label, 100% natural, sem adição de espessantes, aromatizantes ou corantes artificiais para se diferenciar dos grandes players do mercado como Nestlé e Batavo.
Há pouco mais de um mês, sócios da Atmos Capital e da Sperss Capital entraram como acionistas minoritários no negócio para dar fôlego extra ao objetivo de se tornar líder no mercado premium de laticínios no Brasil, no qual enxergam como concorrentes marcas como La Bufalina, Bufalat, Búfala Almeida Prado e Búfalo Dourado (que pertence a plataforma de lácteos Ultracheese, da Aqua Capital).
“Encontramos na Yorgus e na Vitalatte marcas fortes em categorias onde estão posicionadas para crescer e inovar, com um excelente time. Temos uma vasta experiência de investimento e atuação em marcas de bens de consumo, o que naturalmente nos traz mais perto do setor”, afirma Pedro Drevon, sócio da Speerss Capital.
“O importante é conseguir ajudar os times dessas empresas a evoluírem seus negócios em diferentes frentes como inovação, produto, processos, pessoas e rentabilidade no longo prazo”, completa ele que traz sua experiência como ex-CEO da Kraft Heinz no Brasil e América Latina, e que também passará a fazer parte do conselho da Vitalatte e Yorgus.
Na fábrica de Valença (RJ) são processados por mês mais de um milhão de litros de leite de vaca vindos de 300 pequenos criadores da região, para gerar 10 toneladas de queijos e iogurtes por dia. Sendo 4 mil unidades só de burrata, produto que responde por 30% do faturamento da Vitalatte.
O plano de crescimento agressivo prevê passar de 4 mil para 10 mil pontos de venda até 2026, além de dar início ainda este ano à internacionalização, começando pelo posicionamento da Yorgus nos supermercados do Uruguai, Chile e Paraguai. Por isso o grupo abriu-se pela primeira vez a investimentos externos. “Em cinco anos pretendemos que as exportações respondam por até 10% do faturamento total da empresa”, aponta Leta.
Uma das primeiras movimentações de peso após a entrada de capital foi a compra da Keiff Kefir, fábrica de bebidas lácteas fermentadas com kefir (colônia de bactérias boas com função probiótica) em Areias (SP). “É um mercado de nicho, que requer a educação do consumidor. Mas ali tem bastante espaço físico para crescer”, conta Leta, que em Valença já chegou ao limite da capacidade industrial.
A produção de kefir ocupa hoje só 20% da planta de Areias, e ainda não está definido para que serão destinados os outros 80%. De qualquer forma, os benefícios logísticos e fiscais de ter uma filial fabril no estado de São Paulo são inegáveis tendo em vista o foco do crescimento.
A Vitalatte foi criada em 2007, quando Patrick Urbano adquiriu de imigrantes italianos a estrutura de uma antiga fábrica de queijos frescos. Trouxe um mestre queijeiro da Puglia – berço da massa de muçarela fresca recheada com filetes do mesmo queijo mergulhados em creme de leite fermentado – que pudesse desenvolver a receita original e assegurar a alta qualidade.
O sucesso do produto junto aos clientes não tardou. O que fez abrir novas portas em restaurantes de primeira linha como Alessandro e Frederico e a pizzaria Capricciosa, além da rede de supermercados Zona Sul, onde o pote com uma bola de 200g é vendido a R$ 32,90.
Hoje a empresa conta com 90 SKUs, indo de ricota a queijo Minas Padrão, divididos entre as linhas a base de leite de vaca (85% da oferta) e de búfala. Essa criada em 2012 sob demanda do mercado que erroneamente assume a muçarela fresca como sendo obrigatoriamente de búfala. “Na Puglia não tem rebanho de búfalos. 90% do produto consumido na Itália é feito de leite de vaca”, lembra Urbano.
Para conquistar o mercado paulistano, a porta de entrada também deverá ser o food service, que responde por 37% do faturamento. A ideia é surpreender o público final pela qualidade à mesa enquanto em mercados selecionados a experiência de poder acompanhar o processo de fabricação e poder levar o produto mais fresco possível é explorada com labs envidraçados de no mínimo 10 m². “A venda da categoria chega a crescer até 100% quando instalamos o lab”, conta o empresário.
Atualmente a marca possui unidades instaladas em três lojas do Zona Zul, no Rio, uma no Eataly e outra no St. Marché, em São Paulo, e já tem negociações abertas para abrir mais uma na capital paulista no início de 2023 e outra, possivelmente no segundo semestre, em Florianópolis. “É importante que a loja tenha grande movimento e tenha consumo interno também, em pizzas ou padaria, para garantir a produção mínima de 100 kg de muçarela ao dia”, detalha Urbano.
A companhia não revela o seu faturamento, mas a estratégia de crescimento visa dobrar a receita no próximo ano e ainda prevê a entrada em novas categorias. Mesmo caminho adotado pela Yorgus, que tem no pipeline ainda desse ano 10 novos itens. “Vai ter de tudo”, diz Leta, que estima crescimento anual de 50% das vendas de iogurtes nos próximos dois anos, a ponto de em cinco anos, liderar o faturamento do grupo, com 60% do share.