Ela já recebeu os prêmios máximos – super ouro, ouro, prata e bronze – no Concours Mondial du Formages et de Produits Laitiers, considerado o Oscar da queijaria mundial realizado pela Guilde Internationale des Fromages. Já esteve entre os Top 5 no Wisconsin Cheese Awards (EUA), foi ouro e prata no inglês World Cheese Awards e desde 2000 figura anualmente na lista de ganhadores do Concurso Nacional de Produtos Lácteos Instituto Cândido Tostes - ILTC e EPAMIG.

Não à toa, nos últimos dois anos a UltraCheese, plataforma de cremes e queijos do fundo de private equity Aqua Capital, mais que dobrou de tamanho. A empresa vem crescendo em média 30% ao ano desde 2018 com expansão de atuação e aquisições. Fechou 2021 com faturamento na casa dos R$ 700 milhões. E tem perspectiva de manter o ritmo de crescimento de 25% anualmente até 2025.

Hoje, mais da metade desse montante (58%) vem da Lac Lélo, empresa de laticínio catarinense que deu origem à plataforma em 2017. Mas a queridinha no portfólio – que também inclui as marcas Búfalo Dourado e Itacolomy –, é mesmo a mineira Cruzília, responsável pela produção de queijos finos e por quase todos os reconhecimentos internacionais.

“Ela é nossa joia da coroa. Cuidamos sempre para não perder essa pegada do artesanal, do feito à mão e do DNA criativo que é nossa essência”, afirma Edson Martins, COO da UltraCheese.

Desde que a fábrica fundada em 1948 aos pés da Serra da Mantiqueira foi adquirida, em 2018, a capacidade de produção da Cruzília mais do que triplicou, passando de 60 a 70 toneladas de queijo por mês para 220 a 230 toneladas/mês.

Edson Martins, COO da UltraCheese.: "Cruzília é a joia da coroa"

“Devemos fechar em 300 toneladas até o fim do ano, mas nosso número conservador é 260, 270 toneladas mensais”, estima o COO. Resultado de um investimento na casa dos R$ 50 milhões para a modernização da fábrica com foco no ganho de produtividade, incremento da qualidade e reposicionamento de marca, que representa 17% do faturamento da plataforma e cresceu 150% em relação ao ano passado.

Presente em quase sete mil pontos pelo Brasil, principalmente com as linhas de queijos de massa amarela (prato e muçarela), mofo branco (brie e camembert) e mofo azul (gorgonzola), que juntas respondem por cerca de 80% da produção, a mineira tem nos queijos especiais sua maior força de marketing. Basta ver o impacto das premiações no crescente interesse do food service pela marca como forma de agregar valor aos menus.

“Há dois anos esse segmento não representava 2% do nosso faturamento. No meio da pandemia, a procura cresceu tanto que tivemos de criar um departamento dedicado a esse atendimento”, diz Martins. Atualmente, a área de food service já responde por 10% da demanda total da Cruzília, com perspectiva para chegar a 20% em cinco anos. Os estabelecimentos de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina são, por hora, o principal público.

Mas, apesar do papel fundamental na divulgação e posicionamento da marca, nem todos os queijos medalhados estão à disposição do público. Caso do Estrada Real Mantiqueira, o Dagano ou o Cruzília 300. “Temos, hoje, mais de 30 produtos premiados no portfólio que ainda não foram lançados. Alguns porque ainda não fazem sentido para o paladar nacional, outros porque demandariam muito investimento frente ao volume potencial do mercado.”

Este mês a companhia começa a trabalhar no lançamento do Serra da Mantiqueira, medalha de bronze no Concours Mondial du Formages de 2021. “Ele vem nessa lógica de encaixar um produto premiado no investimento que já fizemos na linha de queijos de massa amarela”, explica.

Com textura mais dura, acidez moderada e sabor levemente picante, está entre um meia-cura e um Minas Padrão maturado por 70 a 90 dias, o que o torna mais complexo. O preço sugerido será de R$ 89 a R$ 109/kg.

Serra da Mantiqueira, medalha de bronze no Concours Mondial du Formages de 2021

Valor um pouco abaixo do Santo Casamenteiro – mix de cream cheese, queijo de mofo azul, nozes e damasco, que mereceu medalha Super Ouro como produto mais inovador da América Latina em 2017 no Food Ingredients South America Innovation Awards e é o carro-chefe entre os premiados –, vendido na faixa de R$ 99 a R$ 129/kg.

Mercado externo e sustentabildade

Ao contrário do que se poderia imaginar com tantas premiações no exterior, o mercado internacional não está no centro do planejamento estratégico de nenhuma das marcas da UltraCheese e não deve passar dos 5% no faturamento.

Atualmente, as exportações estão em 3% graças à presença tímida da Lac Lélo na Califórnia (Estados Unidos) desde 2016. “Temos muito para crescer no Brasil”, garante Edson, ainda que o processo de habilitação das fábricas de Cruzília e Itacolomy para exportação tenha sido iniciado há cerca de um ano. “As experiências internacionais servem mais para aprimorar o produto para o consumidor nacional mesmo.”

O olhar da empresa para desenvolvimento do mercado interno, inclusive, está na base de criação da própria plataforma. “Além de favorecer uma alimentação saudável, com o consumo de proteínas, a produção de laticínio impacta muitas famílias nas cidades e pequenas comunidades do interior onde estamos localizados”, afirma Tomás Romero, sócio do fundo Acqua.

“Vimos aí a oportunidade de juntar importantes marcas regionais para, com uma visão nacional e gestão de primeira, constituir uma empresa líder no mercado de cremes e queijos que gerasse excelentes negócios e retornos financeiros sólidos”, completa.
Considerada “uma das cinco plataformas mais relevantes” para o  Aqua, a UltraCheese é das que mais a que teria também uma sustentação sustentável maior.

“O impacto que criamos nas economias regionais ao trabalharmos com as famílias na melhoria da produtividade na produção de leite é chave no processo de fazer alimentação de forma sustentável e com menor impacto ao meio ambiente”, analisa o investidor. Certo de que é uma questão de tempo para que os consumidores passem a optar pela compra de itens com práticas ESG, Romero acredita que é preciso se diferenciar desde a base.

“Parte dos consumidores que estão se movimentando para proteínas alternativas o fazem por uma questão de consciência. Na medida que existam opções dentro das cadeias tradicionais de carne, laticínios e ovos, que possam demonstrar se está fazendo o trabalho de forma social e ambientalmente consciente, isso pesará na decisão de compra”, acredita.

Romero não descarta a possibilidade de, no futuro, agregar ao portfólio da UltraCheese outras empresas que tragam oportunidades de transformação a partir de produtos inovadores e alternativos. “Novas aquisições não estão descartadas. Mas que sejam como uma expansão natural das marcas que temos, que já têm essa interessante combinação de tradição e inovação.”