Pharrell Williams já era Pharrell Williams quando "Happy" estourou. A música de 2013, gravada para a trilha da animação "Meu Malvado Favorito 2", pode até tê-lo projetado para a fama global, mas muito antes dela, ele se firmara como uma das figuras mais versáteis e influentes da contemporaneidade.
Compositor, cantor, produtor, estilista, designer, inovador, empresário, ativista, criador de tendências. A profusão criativa do artista, de 50 anos, é celebrada no livro "Pharrell-isms", a ser lançado agora, no dia 2 de maio. Baseada em citações, reunidas a partir, sobretudo, de entrevistas, a obra oferece insights sobre sua personalidade multifacetada – ou, como se convencionou chamar hoje em dia, multi-hifenizada.
Editado pela Princeton University Press, com curadoria do colecionador de arte e editor Larry Warsh, o compêndio integra a série ISMs, cuja coleção inclui Andy Warhol, Jean-Michel Basquiat e Keith Haring, entre outros grandes nomes da cultura moderna. Seguindo a linha de seus antecessores, "Pharrell-isms" é em formato de bolso e capa dura.
Um capítulo inteiro é sobre moda. Os pensamentos selecionados por Warsh dão pistas de como será a estreia do músico como diretor criativo da linha menswear da Louis Vuitton, em junho, na Semana de Moda Masculina de Paris. Sua primeira coleção está envolta por “uma nuvem de fervorosa expectativa”, define a Vogue americana.
Como descrito em "Pharrell-isms", ele confessa, no início, não entendia a moda de luxo. Um dia, porém, chegou à conclusão: “Isso é incrível. E, embora haja principalmente a percepção de que é para mulheres, comecei a ver, OK, como homem, posso usar um pouco disso. Então eu usava óculos escuros aqui, uma jaqueta ali”.
Na introdução do livro, Warsh reflete que o talento de Pharrell para “combinar estilos históricos com sua própria interpretação mais solta e improvisada da moda encorajou novas abordagens para a autoapresentação masculina”. Na opinião do editor, em todas as áreas, o trabalho de Pharrell é definido por “um senso de elevação e pensamento não convencional”.
Essa característica, seus relacionamentos, tino para os negócios e a ausência total de medo para correr riscos foram decisivos para transformá-lo na potência que Pharrell é hoje. Com um patrimônio avaliado em US$ 250 milhões, ele colaborou com um sem-número de marcas, todas consagradíssimas, e se aventurou em seus próprios empreendimentos.
Uma das parcerias mais emblemáticas da carreira de Pharrell foi com a Chanel. Em Pharrell-isms, o artista cita Karl Lagerfeld, o lendário diretor criativo da grife francesa, como um de seus ídolos. No início da década de 2010, os dois costumavam se encontrar no badalado hotel Mercer, do Soho, em Nova York.
O estilista alemão notava as botas Timberland pretas, do músico. Sobre um dos calçados, Pharrell desenhara a silhueta de um pé. Sobre o outro, o símbolo da Chanel. Em 2014, o músico foi convidado por Lagerfeld a estrelar o quarto curta-metragem da marca. A produção fazia parte da campanha de coleção 2014/2015 do Métiers d’Art da casa francesa, o tradicional desfile de encerramento de ano da Chanel.
A partir de então, os dois se tornaram amigos. Lagerfeld, contam, adorava Pharrell. Tanto que, no ano seguinte, o músico se tornou o primeiro homem a ser apresentado em um campanha da Chanel. Ele apareceu ao lado da top Cara Delavigne e do modelo infantil Hudson Kroening. Em 2017, de novo, mas agora sozinho. Pharrell voltou para estrelar a campanha da bolsa Gabrielle.
“Ele quebrou barreiras entre o estilo hip-hop e a alta moda simplesmente por não deixar que os ideais tradicionalmente masculinos ou o medo do que as outras pessoas pensam diluíssem seu senso pessoal de autoexpressão”, lê-se em artigo, no site Hidden.RSRCH.
A primeira coleção de Pharrell para a Channel foi anunciada em abril de 2019, dois meses depois da morte de Lagerfeld. Na Chanel-Pharrell, o pop e o streetwear se encontraram em shorts, camisetas, moletons bordados, bolsas, sapatos, joias e óculos. Tudo no conceito gender fluid.
De roupa a hotel, de joias a talheres
O artista colaborou ainda com Adidas, Uniqlo Diesel e G-Star, entre outras grifes. E desenhou óculos para a Moncler e até para a Louis Vuitton, lá no início dos anos 2000. E projetou joias para a Tifanny & Co., Lorraine Schwartz e Gabby Elan. E foi diretor criativo do Platinum Card, da American Express. E lançou uma linha de produtos com a marca Human Race para a pele com Elena Jones, sua dermatologista por mais de duas décadas.
E, junto com o amigo Dave Grutman, fundador do Groot Hospitality, a rede de restaurantes, casas noturnas e hotéis, é dono do Goodtime, um seis estrelas, em estilo “art déco reinventado”, localizado na badalada South Beach, em Miami. E, em associação com a startup inglesa Pentatonic, de móveis e utensílios domésticos sustentáveis, lançou um kit de talheres portáteis, feitos de CDs recicláveis. A 64,99 euros, cada um, está tudo esgotado.
Ah, ele também tem uma casa de leilões online, a Joopiter, montada para vender seu próprio acervo de bens de luxo, mas que atraiu outras marcas. Em março, a joalheira Lorraine Schwatrz, se juntou ao músico. Brincos, colares, pulseiras e anéis de esmeralda e brilhantes disputam a atenção do clientes com roupas, tênis, bolsas, malas e até celulares que, um dia, foram usados por Pharrell. Uma jaqueta de couro da marca Alpinestars, com a inscrição “Women’s Rigth” foi vendida, em dezembro de 2022, por quase US$ 11 mil.
Som eclético de Pharrell
Para lançar suas próprias marcas, Pharrell se associou a Nigo, atual diretor criativo da Kenzo. Como Lagerfeld, o estilista é um dos grandes ídolos do artista, de quem acabou grande amigo. Em 2003, eles apresentaram as grifes de streetwear Billionaire Boys Club e Icecream dento da plataforma I am other, que é um coletivo de multimídia e gravadora. Criou ainda o "guarda-chuva" de produtos em diferentes categorias HumanRace, cujo lema é “o futuro está no passado”.
Nascido em Virginia Beach, Pharrell é o mais velhos dos três filhos da professora Carolyn e do faz-tudo Pharaoh. Ao lembrar da infância, descreve a si próprio como “uma criança negra nerd em um skate”. Conheceu seu parceiro de música, Chad Bruno, na sétima série. Em 1992, Pharrell e Chad fundaram a Neptunes. Passaram a compor, tocar e produzir outros músicos.
Desde o início, segundo os críticos, Pharrell construiu sua reputação com base em seu som eclético e sua capacidade de misturar gêneros. A versatilidade e ousadia, como se vê, virou caso de estudo.