No ramo da hospitalidade, existe uma onda crescente entre hotéis e restaurantes de investir na criação de alimentos e bebidas de marca própria. E, nessa prateleira, reina a variedade. É mel autoral, queijo autoral, vinho autoral... e por aí vai, tudo muito personalizado para conquistar os hóspedes e os comensais.

O grupo gastronômico paulistano Nou ilustra à perfeição o fenômeno. Com dois restaurantes no bairro de Pinheiros e uma unidade em Higienópolis, a rede do restaurateur Paulo Nou e do chef de cozinha Amílcar Azevedo em comemoração ao 15º aniversário da empresa, lançou em outubro de 2023 um vinho próprio.

“O lançamento do nosso rótulo faz parte de uma estratégia de trazer novidades que aproximam o cliente do restaurante, sem perder nossa essência", “diz Paulo, ao NeoFeed.

Para agradar todo perfil de cliente, o vinho Nou já nasceu com três versões: um tinto feito de uvas malbec; um rosé, combinação de pinot noir e malbec; e um torrontés, como opção de branco.

O trio foi desenvolvido pelos sócios junto com a Bodega Lagarde, um dos produtores mais tradicionais da região de Mendoza, na Argentina.

Paulo e Amílcar participaram do passo a passo da criação do rótulo. Ajudaram a escolher os tipos de uvas e todas as características das bebidas, pensando também na harmonização com o menu das casas.

Até aqui, um restaurante com vinho próprio não é lá grande novidade. A diferença está no cuidado com o desenvolvimento dos novos produtos.

O vinho autoral do Nou já nasceu com três versões (Foto: Karolina Azevedo)

“Antes, quando a gente via marcas própria de restaurantes e hotéis, em geral, era parceria com algum fornecedor que trazia vantagem econômica para o negócio”, comenta Paulo. “Hoje em dia, por causa do olhar mais criterioso do cliente, a existe toda uma curadoria. A nossa maior preocupação era que o nosso vinho não fosse de segunda categoria.”.

De fato. Até pouco tempo atrás, marcas próprias de hotéis e restaurantes eram invariavelmente associadas a produtos de qualidade inferior. Hoje em dia, a realidade é outra; bem diferente.

Tem feito sucesso. Vendido a R$ 119,00 a garrafa ou R$ 35 a taça (nas três versões), o Nou já comercializou quase todas as 10 mil garrafas que encomendou em outubro de 2023. No fim deste mês, uma nova leva de mais 10 mil chega ao Brasil para abastecer os três restaurantes da marca.

“Lançar produtos de marca autoral, mesmo que a produção não seja própria, é sem dúvida uma tendência que cresce nos negócios de alimentação e hospitalidade”, completa Paulo.

Mel, café e queijo premiado

Na hotelaria, exemplos não faltam. Desde 2008, a rede internacional Fairmont possui um programa de preservação de abelhas chamado Bee Sustainable.

O projeto de preservação prevê a instalação de colmeias  nos jardins dos telhados de algumas propriedades do grupo. Em Copacabana, o primeiro endereço da Fairmont na América do Sul, o hotel começou a produzir mel em 2019.

O mel do Fairmont Rio é produzido com exclusividade para o hotel (Foto: Divulgação)

A marca exclusiva nasceu de uma parceria da Fairmont Rio com o apiário Amigos da Terra, uma empresa familiar da região de Nova Friburgo, no interior fluminense.

O mel foi incorporado aos cardápios dos restaurantes do Fairmont, tanto do jeito tradicional quanto em forma de favo.

Também no Rio de Janeiro, o hotel Santa Teresa MGallery desenvolveu um café em parceria com a fazenda Tassinari.

A R$ 52, o pacotinho de 250 gramas só é comercializado no hotel, para que os hospedes “sintam o gostinho” do MGallery em casa.

"Apostamos num café exclusivo para criar uma ligação com a história do hotel, localizado em uma fazenda de café de 1850", diz Sophie Bárbara, gerente geral do hotel, em entrevista ao NeoFeed.

Na esteira dos novos “gourmetizados”, existem até mesmo produtos premiados internacionalmente, como é o caso do queijo Tempéré, 100% produzido no resort Le Canton, de Teresópolis, no Rio de Janeiro.

O café do Santa Teresa MGallery é produzido em uma fazenda do século 19 (Foto: Divulgação)

No final do ano passado, o boursin, temperado com azeite e especiarias, foi agraciado com a medalha de  bronze na 6º edição do Mundial do Queijo de Tours, na França, entre 1,640 mil concorrentes, vindos de todos os cantos do mundo.

O Le Canton iniciou a produção de seus queijos artesanais em 2012. Atualmente, são fabricados 11 tipos diferentes. Com o bronze de agora, o hotel soma agora 13 títulos conquistados em prêmios nacionais e internacionais desde 2017. Um feito de dar inveja a muita queijaria brasileira --embora o Le Canton seja um resort.