ANAHEIM - Ao vender a Lucasfilm à Disney, em 2012, por US$ 4 bilhões, George Lucas queria assegurar a longevidade e a expansão do imaginário de “Star Wars’’. E na época ele nem vislumbrava as possibilidades de crescimento que o Disney+, o serviço de streaming lançado só em novembro de 2019, representaria para a saga de fantasia e ficção científica criada no final dos anos 1970.

Na última D23 Expo, a convenção para os fãs da Disney realizada em Anaheim, na Califórnia, a Lucasfilm apresentou seis produções “Star Wars” só para o Disney+. O pacote inclui tanto novas temporadas de séries já existentes, como a de live-action “The Mandalorian” e a de animação “The Bad Batch”, quanto lançamentos como “Andor”, “Histórias dos Jedi”, “Ahsoka’’ e “Skeleton Crew”.

Estima-se que a plataforma tenha se solidificado, em parte, graças ao conteúdo ligado à saga espacial. Dos 10 milhões de assinantes, conquistados nas primeiras 24 horas do lançamento do Disney+, o número já tinha saltado para 50 milhões, em abril de 2020. Em dezembro de 2020, as assinaturas já somavam mais de 86 milhões e hoje elas já atingem 152 milhões.

E, desde o início, um dos destaques da programação foi “The Mandalorian”, lançado junto com o serviço. Um dos seus trunfos certamente foi a pequena criatura verde, chamada oficialmente de “A Criança”, mas apelidada pelos fãs da franquia de “bebê Yoda”.

O personagem imediatamente virou sensação na internet, ganhando muitos memes e ajudando a solidificar o serviço. Até porque, inicialmente, a Disney+ tinha um catálogo muito menor que a de concorrentes, como a Netflix, hoje com 220 milhões de assinantes.

“Estamos nos divertindo muito expandindo as histórias para o Disney+. O formato do streaming nos deu muito mais oportunidades para explorar ‘Star Wars’”, afirmou a presidente da Lucasfilm, Kathleen Kennedy, no palco da convenção, que teve cobertura do NeoFeed.

Kathleen assumiu o comanda da Lucasfilm assim que a produtora se tornou uma subsidiária da Disney. A primeira atração que anunciou foi “Andor’’, série que acabou de estrear na plataforma, transportando o espectador para cinco anos antes dos eventos do filme “Rogue One: Uma História Star Wars” (2016). Como este longa-metragem já era um spin-off da saga principal, dificilmente essa subtrama seria retomada no cinema, o que abriu uma porta para o Disney+ revisitá-la.

A ideia aqui é resgatar o passado de Cassian Andor (interpretado por Diego Luna), um dos oficiais de inteligência da Aliança Rebelde. Ao se sacrificar, aos 26 anos, para roubar as informações sobre a arma conhecida como Estrela da Morte, Andor se tornou uma das figuras trágicas mais queridas da saga. E o fato de o filme original ter arrecadado mais de US$ 1 bilhão nas bilheterias também serve de termômetro de audiência.

“Temos aqui o despertar de um revolucionário. É o momento em que o personagem descobre o seu propósito e pelo que vale a pena lutar. E toda a comunidade vai reagir diante dessa ideia de mudança”, contou Diego Luna, produtor e protagonista de “Andor”, durante a D23.

Diferentemente das produções de “Star Wars” concebidas para o cinema, a série arrisca um outro tom, aproveitando que a proposta da Lucasfilm é testar novos caminhos para a franquia. Com 24 episódios, divididos em duas temporadas, “Andor’’ está mais para thriller de espionagem do que para fantasia.

Essa é uma característica de Tony Gilroy, o roteirista de “Rogue One” que foi chamado para comandar a série. “Por ser o criador da franquia ‘Jason Bourne’ no cinema, Tony trouxe aquela tensão à narrativa”, afirmou Kathleen.

Seguindo a ideia de empurrar o universo de “Star Wars” para frente, com novos mundos, personagens, histórias, intrigas e aventuras, a presidente anunciou duas produções de animação em andamento.

A segunda temporada de “The Bad Batch” tem lançamento agendado para 4 de janeiro de 2023 no Disney+. Serão mais 16 episódios sobre os soldados clones que sofrem de mutações genéticas.

Com estreia em 26 de outubro, a produção “Histórias dos Jedi” consiste em seis curtas-metragens que revelam como Ahsoka Tano e Conde Dookan se tornaram os Jedi que os fãs da saga já conhecem.

Ahsoka Tano dá uma ideia de como a Lucasfilm vai plantando sementes para novas tramas de “Star Wars”, incluindo personagens com potencial para ganhar produções próprias.
Ahsoka nasceu na série de animação “A Guerra dos Clones” (2008) e debutou em live-action na pele de Rosario Dawson, na segunda temporada de “The Mandalorian”, criada exclusivamente para o Disney+.

E agora ela vai protagonizar uma minissérie na plataforma, depois de ter passado em uma espécie de teste. Em “Ahsoka”, com estreia em 2023, a personagem passará a conduzir uma investigação de ameaça a uma galáxia vulnerável, após a queda do Império.

“Inserir Ahsoka em ‘The Mandalorian’ foi uma maneira de checarmos se o público queria conhecer melhor essa personagem. E a resposta que tivemos, com Rosario no papel, nos deu confiança para o seu spin-off”, disse na D23 Jon Favreau, criador de “The Mandalorian”, série sobre o caçador de recompensas solitário vivido por Pedro Pascal.

Ahsoka será o segundo spin-off de “The Mandalorian”, que já ganha a terceira temporada (ainda sem lançamento definido no serviço). O primeiro foi “O Livro de Boba Fett”, lançado em 2021 para seguir os passos do personagem-título, outro caçador de recompensas (este interpretado por Temuera Morrison).

Paralelamente, a Lucasfilm também desenvolve para o Disney+ a série “Skeleton Crew”, criada por Jon Watts e Christopher Ford. Não foi revelado como a trama (com estreia em 2023) será conectada ao universo de “Stars Wars”, mas talvez se trate de outro spin-off de “The Mandalorian”. Só se sabe que a história envolve quatro crianças perdidas na imensidão da galáxia e que o ator Jude Law está no elenco.

Pela expansão agressiva dessa mitologia espacial, no serviço de streaming, dá para perceber que a Disney está cumprindo a promessa que teria feito a George Lucas. A de honrar o passado da franquia, mas sem reverenciá-la demais, a ponto de não ter coragem de mudar e criar novas narrativas.

Pelas produções recém-anunciadas, dá para perceber que, longe de ser colocada em uma redoma, para ser endeusada, “Star Wars’’ virou uma espécie de fábrica de contar histórias.