Todos os dias, o mundo consome 2,25 bilhões de xícaras de café. Em popularidade, a bebida só perde para a água. Globalmente, são 6 quilos, em média, por pessoa, a cada ano. Na lista dos grandes bebedores, os finlandeses aparecem em primeiro lugar, com 12 quilos, per capita. Os brasileiros estão na 14ª posição, com 5,8 quilos, apesar de sermos o principal país produtor e exportador do grão.

Da lavoura ao cafezinho de depois do almoço, há um longo caminho, com impactos sobre o meio ambiente. Para produzir 240 mililitros da bebida, por exemplo, são usados quase 148 litros de água, nos cálculos da Organização das Nações Unidas (ONU).

Frente à urgência climática, há diversas iniciativas para tornar a cafeicultura mais sustentável; seja por novos modelos de plantio, seja pela criação de embalagens biodegradáveis. Há, no entanto, uma etapa da cadeia, normalmente, esquecida pelos inovadores do ecossistema agrifoodtech: a torrefação.

Não pelos empreendedores israelenses Matan e Johnathan Scharf, e Yuval Weisglass, sócios da ansā (é assim mesmo que se escreve). Fundada em 2020, na cidade de Ramat Gan, a empresa desenvolveu o minitorrefator e23. Com a “torrefação sob demanda”, o trio quer revolucionar a bilionária indústria do café com a “torrefação sob demanda”.

Pelos métodos convencionais, os grãos verdes são lançados em fornos gigantescos, operados a gás, a uma temperatura de cerca de 200 graus, de onde saem quase carbonizados. Indo além do simples “downsizing” das máquinas tradicionais, a tecnologia da ansā usa o aquecimento dielétrico, a mesma dos fornos microondas – com o aquecimento do centro do grão para fora.

Controlada por algoritmos de inteligência artificial e visão computacional, o sistema calcula, em tempo real, a quantidade exata de energia a ser aplicada em cada fruto, para uma torra homogênea.

A startup acaba de levantar US$ 9 milhões, em uma rodada de investimentos liderada pela Jive Ventures, com participação da Closed Loop Ventures, New Climate Ventures, Millennium Foodtech Sweetwood.

Com os cheques de agora, o total captado vai a US$ 17 milhões, conforme a plataforma Crunchbase. Com o dinheiro, os fundadores querem ampliar a expansão para os Estados Unidos. Em Israel, a e23 já é comercializada há um ano. Entre os clientes, estão cafeterias, restaurantes, bares e hotéis.

Além do apelo da sustentabilidade, a ansā quer conquistar os apreciadores de café pelo paladar. Segundo Matan, CMO da startup, muito do sabor do café se esvai no trajeto da lavoura à mesa.

O minitorrefator e23
O minitorrefator e23

“Um grão pode cruzar o globo duas ou três vezes antes de chegar à xícara do consumidor”, diz o empreendedor. “Nesse trajeto, a pegada de carbono é enorme, a qualidade do fruto diminui e os aromas e sabores característicos se perdem.”

Capuccinos em Tóquio

A ideia da criação da empresa surgiu no Japão, quando Matan conheceu Yuval, em uma conferência sobre empreendedorismo – nada a ver com café. Tomando capuccinos em uma rede de cafeterias de Tóquio, surgiu a ideia: “Por que não trabalhar com o grão?”

Matan vinha da indústria de tecnologia e Yuval, havia fundado uma empresa de segurança cibernética. De volta a Israel, o agora CMO da ansā, apresentou o novo amigo ao irmão Jonathan - ele, sim, um especialista em café.

Nos últimos 20 anos, Jonathan, o atual COO da startup, lançou várias empresas, como a primeira marca de cafés especiais da Costa Rica e rede de coffee-shops MAE. Localizada em Tel Aviv, a empresa dispõe de uma cadeia própria de torrefação e abastecimento.

Jonathan então levou Matan e Yuval para conhecer um dos fornos usado na torra tradicional. “Se pudermos transformar essa máquina barulhenta e de alta manutenção em uma pequena, automatizada, fácil de usar e que pode ser instalada em uma bancada, teremos algo realmente inovador”, desafiou ele.

E assim nasceu a ansā e, mais tarde, a e23. Aliás, o nome da startup foi inspirado na palavra japonesa que significa “resposta”, “solução”.