Quando foram lançadas, no final da década de 1980, as cápsulas de café encantaram o mundo. A bebida mais consumida do planeta, depois da água, poderia agora ser preparada em casa sem sujeira, em poucos segundos.

Com diversos aromas e sabores, hermeticamente fechadas, impedem a entrada de ar, luz e umidade, preservando a qualidade do pó. Cafezinho fresco, a qualquer hora do dia ou da noite, quando a vontade bater.

Aí a crise climática apertou, a consciência ecológica cresceu e as cápsulas foram parar na berlinda. Feitas de plástico ou alumínio, com características muito particulares, as embalagens são complicadas de reciclar.

Globalmente, em média, apenas 30% das 576 mil toneladas do invólucro jogadas fora, todos os anos, são reaproveitadas. O resto vai parar nos aterros sanitários.

Em entrevista à revista americana The Atlantic, em 2015, um dos inventores da embalagem, o americano John Sylvan chegou a lamentar a própria criação. Além de cara, favorece o aquecimento do planeta, disse ele, revelando não ter uma máquina em casa. Prefere passar o cafezinho no coador e guardá-lo na garrafa térmica.

A má fama das cápsulas é tamanha que a prefeitura da cidade de Hamburgo, na Alemanha, em 2016, proibiu seu uso nas repartições públicas. Segundo as autoridades locais, o dinheiro dos contribuintes não deveria ser usado para financiar um produto que faz mal ao meio ambiente.

Além de difícil de ser adotada em escala global, a proibição não é a melhor solução. Para os apreciadores da bebida, cada vez mais numerosos, as cápsulas são sinônimo de praticidade e café de qualidade a um toque de distância.

Imagine se toda inovação com pegada elevada de carbono fosse banida.... Voltaríamos aos tempos das cavernas.

Café de cápsula, sem cápsula

A caixa com nove Coffee Balls custa cerca de R$ 25 (Foto: CoffeeB)

Em casos como esse, a chave é melhorar a tecnologia ou criar uma inteiramente nova –voltar atrás, nunca. A foodtech suíça CoffeeB, por exemplo, criou o “café de cápsula sem cápsula”.

Fundada em 2022, a empresa desenvolveu as Coffee Balls, bolotas prensadas de pó, que podem ser jogadas diretamente na caixa de compostagem depois de usadas –uma ode à economia circular, tão importante nesses tempos de crise climática.

Algas como embalagem

Depois de cinco anos de estudos, a CoffeeB substituiu o plástico e o alumínio por algas. Dentro da máquina, criada também pela startup, a bola de café é umedecida com água quente. Em seguida, a embalagem é perfurada e o café, preparado. Terminado, o processo a casca cai na bandeja de coleta. A cafeteira recebeu o prêmio internacional de design Red Dot 2023, na categoria “best of the best”.

Por enquanto, o sistema CoffeeB está disponível na Suíça, França e Alemanha. São cerca de 200 mil clientes desde a fundação da foodtech –nada mal para uma empresa com menos de um ano e meio de história. A máquina custa 149,90 francos suíços (R$ 860, aproximadamente). E a caixa com nove Coffee Balls, 4,40 francos suíços (cerca de R$ 25).

A máquina criada pela empresa suíça ganhou prêmio internacional de design (Foto: CoffeeB)

Para 2024, os planos são levar as bolotas de café para outros países europeus e chegar aos Estados Unidos. A CoffeeB é controlada pela gigante Migros, a maior varejista da Suíça e 14ª, do mundo. Sediada em Zurique e lançada em 1925, conforme seu relatório financeiro mais recente, companhia registrou, em 2022, 30,1 bilhões de francos suíços, em vendas –aumento de 4,2% em relação ao ano anterior.

Nem tão vilã assim

Ao se levar em conta toda a cadeia de produção de café, da fazenda à xícara, as cápsulas podem nem ser a grande vilã da história. Um estudo conduzido, em 2023, por pesquisadores da Universidade de Quebec, no Canadá, comparou a pegada de carbono dos quatro modos de preparo mais comuns: filtro, prensa francesa, dose única e solúvel.

O campeão das emissões de gases de efeito estufa (GEE) é o café coado. Para produzir 280 mililitros da bebida, usa-se em média 25 gramas de pó. No método francês, 14 gramas e a cápsula, 17 gramas. O mais ecológico é o instantâneo, com 12 gramas. Além disso, o café de filtro consome mais energia para ser preparado e o dobro da quantidade necessária de água.

“As cápsulas de café evitam o uso excessivo de café e água. No entanto, a conveniência das máquinas de cápsulas pode levar os consumidores a duplicar o consumo de café, tornando redundante esta vantagem ambiental”, escrevem os autores do trabalho no artigo Here’s how your cup of coffee contributes to climate change, na plataforma The Conversation.

Um universo de novidades

Independentemente do tipo de preparo, o grande impacto ambiental da bebida acontece na fase de produção do grão, ainda dentro das fazendas, com 40% a 80% das emissões totais de GEE.

O café é uma das culturas mais nocivas ao meio ambiente, bem como uma das suscetíveis aos efeitos climáticos. Isso acontece por causa da irrigação intensiva das lavouras e dos fertilizantes e pesticidas químicos.

Globalmente, apenas 30% das cápsulas são recicladas (Foto: Reprodução/CoffeeB)

A boa notícia é que há inovadores pensando em como tornar o café mais ecofriendly, ao longo de toda a cadeia de produção da bebida. A americana Atomo inventou o beanless coffee –o produto tem aroma e gosto de café, mas é um composto de ingredientes vegetais reciclados.

Usando inteligência artificial, a israelense ansā criou uma tecnologia que torna a torrefação mais ecológica. E a francesa Amatera estuda como desenvolver espécies de grão mais resistentes ao aquecimento global.