A descarbonização da economia é um dos principais desafios impostos pela emergência climática. As grandes empresas, em sua maioria, reconhecem a importância de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, para conter o aquecimento global. E o primeiro passo rumo a um futuro mais limpo é medir o volume de poluição que lançam na atmosfera.

Uma das maiores dificuldades, no entanto, é o cálculo das emissões de escopo 3, aquelas pelas quais as organizações são indiretamente responsáveis. Da matéria-prima adquirida de fornecedores, do transporte e armazenamento dos bens produzidos ao descarte de resíduos, as atividades ao longo da cadeia de suprimentos respondem por até 90% da pegada de carbono de uma empresa, nos cálculos do Fórum Econômico Mundial.

Esse é justamente o foco da inglesa CarbonChain. Fundada em 2019, em Londres, a climatech desenvolveu uma plataforma de inteligência artificial de rastreamento das emissões de escopo 3. A tecnologia desenvolvida pela startup acaba de garantir-lhe um aporte de US$ 10 milhões, coliderado pela Union Square Ventures e Voyager Ventures.

As informações analisadas pela CarbonChain vão desde a pegada de carbono para produção das matérias-primas até o ponto de consumo dos produtos finais. Por meio dessas análises e de um banco de dados que cobre 80% das emissões globais de gases de efeito estufa, é possível rastrear em tempo real o quanto de CO² está sendo despejado na atmosfera. Com isso, as companhias conseguem identificar as oportunidades de redução.

Entre os clientes da startup estão organizações de peso, como o grupo industrial alemão ThyssenKrupp, os bancos Societe General, francês, Lloyds, inglês, e Rodobank, holandês, as empresas de commodities Concord Source, inglesa, e IXM e Gunvor, ambas suíças, e a empresa italiana de laminação de alumínio Fusina. Com o dinheiro do último investimento, diz Adam Hearne, cofundador e CEO da CarbonChain, a climatech inaugura em breve um escritório em Nova York.

Bom para o planeta e para os negócios

A demanda por serviços como os oferecidos pela startup de Londres tende a aumentar. Em janeiro passado, a União Europeia passou a exigir que todas as empresas em operação no bloco forneçam informações sobre suas emissões. Nos Estados Unidos, a Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) fez proposta semelhante.

A contabilidade e a redução de CO² pelas companhias não são uma urgência apenas para o planeta, mas em benefício de seus próprios negócios. Um empresa de baixo carbono alcança mais investimentos, além de atrair os melhores talentos e melhorar sua reputação junto aos consumidores, especialmente os mais jovens, indica levantamento do Boston Consulting Group (BCG).

Em termos de valores monetários, para cerca de 70% dos 1,6 mil líderes empresariais ouvidos pela consultoria, diminuir a quantidade de lixo lançada na atmosfera pode gerar anualmente, no mínimo, US$ 1 milhão em benefícios. Deles, quatro em cada dez estimam ganhos de até US$ 100 milhões.

Apesar de todas essas vantagens, as organizações ainda encontram dificuldades para fazer medições precisas. O escopo 3 é prioridade para apenas 12% das empresas. A emissões de escopo 1 e 2 são mais fáceis de contabilizar. As primeiras referem-se aos gases liberados como resultado direto das operações das próprias companhias. E as segundas, ao carbono proveniente da energia elétrica usada nessas atividades.

As lideranças cujas empresas fizeram seus cálculos, mesmo assim, elas estimam um taxa de erro entre 25% e 30%. Por isso, lê-se no relatório do BCG, são necessários mais apoio às companhias, mais incentivo político às medições de CO² e a adoção massiva de soluções digitais. Como defendem os especialistas: “É chegada a hora de acelerar”.

Os entrevistados pelo BCG representam organizações com mais de mil funcionários e receitas entre US$ 100 milhões e US$ 10 bilhões, de 14 grandes setores, em 18 países. Juntas, essas empresas respondem por 40% das emissões globais de gases de efeito estufa.