Uma das sensações do mercado financeiro, a montadora de veículos elétricos Tesla, do bilionário americano Elon Musk, foi fundada em 2003 e levou sete anos para abrir capital na na Nasdaq, em um tempo em que tentar prever o sucesso dos carros movidos a energia elétrica ainda parecia um distante exercício de futurologia.
Quem apostou no IPO da companhia, porém, se deu bem. A empresa, que atualmente vale US$ 701,4 bilhões, viu a ação se valorizar em mais de 4.000% desde então, enquanto o principal índice da Nasdaq acumula alta de 603% no período.
Se hoje os carros elétricos já são uma realidade mais próxima do dia a dia das pessoas, um grupo de investidores agora busca um novo “futuro distante” para a mobilidade elétrica. Dessa vez, os olhos se voltam para o céu. A “próxima Tesla”, eles acreditam, pode estar voando pelos ares.
E, por conta disso, bilhões de dólares estão sendo investidos em empresas que desenvolvem um táxi aéreo, segundo um levantamento feito pela consultoria internacional McKinsey, divulgado pelo jornal britânico Financial Times (FT). De janeiro a agosto deste ano, já foram alocados US$ 4,3 bilhões em companhias do segmento, montante maior que os valores registrados em anos passados inteiros.
O valor alocado no acumulado de 2021 representa a soma dos aportes feitos por fundos de venture capital e por investidores que puseram dinheiro nessas empresas através de SPACs, as chamadas empresas de “cheque em branco”, que captam recursos para investir em uma empresa e levá-la para a bolsa de valores.
Entre as empresas que têm recebido aportes estão nomes como Archer, Vertical Aerospace, Lilium, Joby Aviation e Flight. As duas primeiras, aliás, se preparam para abrir capital este ano. A Lilium tem entre seus investidores Tencent, Atomico, Freigeist e a LGT. E a Joby, que tem a Toyota entre os investidores, acaba de fazer o IPO na Bolsa de Nova York por meio de uma SPAC.
A brasileira Empraer também está na mira dos investidores. Por meio da Eve, braço da companhia que atua no segmento de eVTOLs (aviões elétricos de pouso e decolagem vertical, também chamados de carros voadores), tem negociado com a Zanite Acquisition Corp., um SPAC que a avalia em US$ 2 bilhões. Hoje, a Embraer vale US$ 3,2 bilhões.
Apesar do recorde de investimentos, a maioria das startups de táxi aéreo ainda não tem um protótipo pronto para transportar passageiros, o que tem levado o mercado a fazer comparações com o entusiasmo dos investidores com o início da indústria de veículos elétricos.
O presidente da consultoria de tecnologia IDTechEx, Peter Harrop, reconhece que o setor de táxi aéreo é promissor, mas pondera que bilhões de dólares têm sido investidos por pessoas que “querem dinheiro fácil para encontrar a próxima Tesla”.
“Estamos em uma situação em que você pode atrair bilhões com qualquer coisa. Temos empresas que ainda não têm um produto, que vendem um sonho e arrecadam bilhões”, disse o executivo, ao FT.
Mas nem tudo são flores. O mercado já começa a apresentar alguns sinais de perda de entusiasmo, uma vez que a maior parte dos investimentos se concentrou no primeiro trimestre, segundo a McKinsey. A Archer, por exemplo, que tem um acordo para se juntar à SPAC Atlas Crest, reduziu a sua avaliação de mercado em US$ 1 bilhão, para US$ 1,7 bilhão.
Sócio da McKinsey e responsável por liderar a área de mobilidade aérea para o futuro da consultoria, Robin Riedel afirmou que há uma combinação de fatores para a diminuição de fôlego dos investidores nos últimos meses.
“No geral, os mercados tornaram-se menos entusiasmados com os negócios através de SPACs”, afirmou Riedel, ao FT. “O número de competidores foi crescendo e as pessoas estão aceitando que pode haver atrasos em termos de coisas como certificação.
A expectativa é que os primeiros táxis aéreos movidos à eletricidade comecem a voar comercialmente entre 2024 e 2025. Mas é possível que a tecnologia estreie mais cedo em Cingapura, que se comprometeu a fazer o primeiro voo comercial elétrico do mundo até o final de 2023, em parceria com a startup alemã Volocopter.
No Reino Unido, os aeroportos de Heathrow e London City têm trabalhado com a Embraer para redesenhar o espaço aéreo regional e acomodar com segurança as aeronaves elétricas que voam baixo, como são os casos dos táxis aéreos.