Nos últimos quatro anos, a Fundação Bienal foi liderada por José Olympio Pereira, um executivo do mercado financeiro que é um dos maiores colecionadores de arte do País. A partir de 2 de janeiro, ele entrega a cadeira de presidente a Andrea Pinheiro, uma das profissionais mais respeitadas do universo das finanças.

“Eu gosto de arte, de muita coisa. Ultimamente, por causa da Bienal, muito focada em arte contemporânea. E não só arte visual me interessa”, diz Pinheiro, em entrevista ao NeoFeed.

Pinheiro sempre esteve ligada ao setor bancário. Sua família era dona do banco BMC, que foi vendido ao Bradesco em 2007. Ela começou na instituição como estagiária e chegou à vice-presidência responsável pelas áreas de relações com investidores, controles, financeira, marketing e planejamento. Até 2021 foi sócia do banco de investimentos BR Partners.

Ela acredita que seu perfil de liderança foi a principal característica para ser escolhida pelo conselho de administração da Fundação, formado por nomes como Alfredo Setubal, Carlos Jereissati, Helio Seibel, Ronaldo Cezar Coelho, Marcos Arbaitman, Eduardo Saron entre outros, para o biênio 2024-26.

“Quando você vem de uma ótima gestão, não cabe reinventar a roda, mas construir em cima do que já foi feito”, diz ela.

A 35ª Bienal, realizada em setembro deste ano e a última da gestão de quatro anos de José Olympio, teve como marca uma exposição realizada, pela primeira vez, por um coletivo curatorial composto por Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel. A primeira decisão para a próxima edição, de 2025, acontece em março deste ano.

“O maior desafio da Bienal é sempre a escolha do curador, que será anunciado em março”, diz Pinheiro.

Ela complementa: “Sou uma pessoa que trabalha muito em time. Estou muito interessada em ouvir a opinião dos meus parceiros de comitê, o que eles imaginam para a próxima edição".

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Qual vai ser a característica da sua gestão à frente da Bienal?
A minha escolha foi pelo meu perfil de gestora de mais de 25 anos na liderança em empresas e bancos. A minha intenção é dar continuidade a um trabalho que tem sido muito bem feito nessa última década, um pouco mais. Um trabalho de responsabilidade financeira, de sustentabilidade, de democratização da arte, com muito foco no educativo, algo que tem crescido muito e que me interessa demais. Não espere nenhum malabarismo.

Mas o que dá para melhorar?
Nós vamos melhorar a governança da Bienal, porque esse é um assunto que não termina e temos de trabalhar sempre. Vamos, também, trabalhar no prédio da Bienal, um prédio histórico importante que precisa estar sempre tendo melhorias, mas obviamente tomando cuidado por ser um prédio tombado. Mas é um trabalho de continuação de boas gestões.

Nós vamos melhorar a governança da Bienal, porque esse é um assunto que não termina e temos de trabalhar sempre

Qual é o maior desafio da Bienal?
O maior desafio da Bienal é sempre a escolha do curador. O meu primeiro passo, na parte de governança, vai ser criar um comitê com membros do Conselho, algumas pessoas da diretoria, que possam fazer junto a escolha do curador, apesar de ser uma prerrogativa do presidente da Bienal.

Você assume já pensando na Bienal de 2025?
A gente anuncia o curador em março. A gente tem super pouco tempo para juntar esse grupo todo, fazer o comitê e discutir o que nós queremos para a próxima Bienal e escolher os candidatos a curador, enviar os convites e receber os projetos. Você não escolhe exatamente o curador, você escolhe o projeto.

Se a escolha é prerrogativa do presidente, você já tem alguma preferência?
Sou uma pessoa que trabalha muito em time. Estou muito interessada em ouvir a opinião dos meus parceiros de comitê, o que eles imaginam para a próxima edição. Na minha visão, existem avanços feitos que não são possíveis voltar atrás e nem nós queremos, como a preocupação com a diversidade, fazer uma Bienal que dialogue com o seu tempo. Vimos na 35ª que isso fez muito sucesso. Esses são pontos focais.

Você tem uma participação direta, na última gestão, no equilíbrio financeiro da Fundação. O número de apoiadores saltou de 18 para 48. Qual é a importância dessa saúde financeira?
A Bienal não é tão difícil de vender, porque é um projeto fantástico. A Fundação tem uma altíssima governança, porque as empresas se importam para quem elas estão dando dinheiro, se o dinheiro vai ser bem usado e bem aplicado. A Bienal é focada na democratização da arte, no educacional. Tudo isso fala com o propósito de muitas empresas.

A Fundação tem uma altíssima governança, porque as empresas se importam para quem elas estão dando dinheiro, se o dinheiro vai ser bem usado e bem aplicado

Qual é o perfil dos doadores da Bienal?
Nós temos a sorte de ter doadores muito fiéis e antigos da Bienal. Mas para fazermos Bienais cada vez mais especiais, como o projeto de itinerância, porque faz parte da democratização da arte você levar exposições fora dos grandes centros, é preciso dinheiro. Então, esse é um foco importante na gestão financeira.

A Fundação precisa de mais recursos?
Para a Bienal continuar fazendo o trabalho dela, melhorando a gestão e com bienais cada vez melhores, estamos em um processo eterno de captação, de trazer novos parceiros.

Onde a Bienal pode chegar?
Na próxima itinerância, que já está definida, vamos estar em 11 cidades brasileiras, do Norte ao Sul, começando por Belém e indo a Porto Alegre. Estamos levando para lugares novos, mas não significa que não voltaremos. A intenção sempre é expandir. Na nossa última, fizemos oito itinerâncias no Brasil. Fora isso, vamos dobrar para quatro fora do País, como Luanda e Buenos Aires.

Uma das características dos últimos anos foram as exposições instagramáveis. Você é favorável a capturar esse público novo?
Super; fizemos parceria com micro e macro influenciadores, que falam com públicos muito diversos. Nossa parceria com esses influenciadores foi trazer um público que normalmente não estava na Bienal. E para que se sentissem bem recebidos. Isso é democratização.

Nossa parceria com influenciadores foi trazer um público que normalmente não estava na Bienal

Com tantos projetos em andamento, como ser criativo?
A melhor maneira de deixar um legado na Bienal é fazer uma belíssima Bienal. Quando você vem de uma ótima gestão, não cabe reinventar a roda, mas construir em cima do que já foi feito. Se eu entregar uma 36ª edição especial estou satisfeita.

Qual é o maior risco que vê como gestora da Bienal?
A gestão financeira, como disse, não me preocupa em nada. Acredito que o nosso maior risco é deixar de falar com o nosso tempo, andar para trás, em coisas que já se tornaram importantes para a Bienal, como a diversidade.