Assim que Arnold Schwarzenegger pisa na Belle Salle, um salão de conferências no bairro de Roppongi, em Tóquio, o austríaco naturalizado norte-americano impõe respeito. Afinal, são 113 quilos, 1m88 de altura e músculos para dar e vender.

De cara fechada, o ator, empresário e ativista de 72 anos intimida mesmo qualquer um. Basta lembrar os tipos indestrutíveis que ele já encarnou no cinema, como o ciborgue T-800 da franquia “O Exterminador do Futuro”, que acaba de ganhar mais um capítulo, chamado “O Destino Sombrio” – em cartaz no Brasil desde 31 de outubro.

Mas a imagem de durão cai por terra quando o ex-Mister Universo conta o que faria, se pudesse viajar no tempo como o Exterminador que ele interpreta desde 1984, quando a saga de ficção científica foi inaugurada nas telas.

“Viajaria 100 anos para trás e tentaria garantir um futuro de energia verde para a humanidade”, contou ao NeoFeed o homem que ficou conhecido como o “governador verde”, pelas políticas ambientais que aplicou na Califórnia, de 2003 a 2011, período em que ocupou o cargo.

Em outras palavras, Arnold gostaria de exterminar o uso do petróleo, carvão e gás natural. “Não falo somente em termos de mudanças climáticas globais, mas das sete milhões de pessoas que morrem anualmente pela poluição decorrente dos combustíveis fósseis”, diz ele.

Para o “Exterminador”, salvar o planeta virou uma missão. “Por ser ator, já tive de promover filmes que não saíram do jeito que eu queria, sobretudo no início da carreira. Mas eu fazia por obrigação, porque alguém tinha colocado milhões de dólares no projeto. Hoje em dia, só defendo causas que me tocam profundamente. Entregar o mundo em boas condições às gerações futuras é uma delas”, contou o ativista.

Abraçar a causa ambiental foi o jeito que o astro encontrou de continuar impactando o mundo, mesmo aposentado da política. “Queria ser presidente dos EUA. Como não posso, não me candidato a mais nada”, afirmou o ator, que é impossibilitado de disputar uma eleição presidencial por não ter nascido nos EUA. “Mas há outras maneiras de contribuir, como tantas pessoas fazem ao redor do mundo, defendendo publicamente o que acham importante. É o que eu faço também.”

“Queria ser presidente dos EUA. Como não posso, não me candidato a mais nada”, diz Schwarzenegger

Quando era governador, Schwarzenegger tomou as primeiras medidas contra o aquecimento global. Criou regulamentações para reduzir a emissão de gases do efeito estufa, como o Global Warming Solutions Act (Ato de Soluções do Aquecimento Global). Assinado em 2006, o ato fixou, por lei, metas para um corte de 25% nas emissões na Califórnia até 2020.

Em 2010, Schwarzenegger fundou uma organização ambiental, batizada de The R20 - Regions of Climate Action (Regiões de Ação Climática). Uma de suas ações foi um acordo com a Argélia, em 2013, examinando as tecnologias e a estratégia do país para enfrentar o desafio de resíduos e para melhor a sua eficiência energética.

Contando com alguns parceiros fortes, como a fundação do ator Leonardo DiCaprio, a Earth Alliance (Aliança da Terra), a R-20 ainda busca encontrar novos mecanismos de financiamento de projetos para acelerar a infraestrutura verde em todo o planeta.

Schwarzenegger também procura quebrar o mito de que as decisões por um mundo mais verde precisam vir dos governos federais. “Nós encorajamos Estados, províncias, cidades e bairros a encontrarem soluções sozinhos, assumindo o controle da situação. Não podemos esperar que as grandes capitais, como Washington, Londres, Moscou e Pequim, façam o que é preciso para combater a poluição. O povo tem poder quando age localmente na briga por um ar mais puro, por exemplo”, contou Schwarzenegger.

A mais recente luta do ativista é contra a revogação da autoridade da Califórnia para estabelecer os próprios padrões para a emissão de gases poluentes de automóveis. A medida foi anunciada em setembro pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que tenta anular os esforços de contornar a crise climática desde que assumiu o governo, em 2017.

Em 2010, Schwarzenegger fundou uma organização ambiental, batizada de The R20 - Regions of Climate Action

Para contribuir com o debate, Schwarzenegger até publicou um artigo no jornal The Washington Post. “Tenho certeza de que a EPA (Environmental Protection Agency) e a Casa Branca continuarão dizendo que essa decisão política idiota tem como objetivo acabar com regulamentações que ‘prejudicam a economia’. Mas eles deveriam vir para a Califórnia”, escreveu.

Ele, que é republicano, apesar da oposição a Trump, prosseguiu. “No ano passado, a economia dos EUA cresceu 2,9%. Já a economia da Califórnia, com nossos regulamentos supostamente prejudiciais, cresceu 3,5%. Superamos o crescimento econômico do país, ao mesmo tempo em que protegemos o nosso povo”, escreveu Schwarzenegger.

Como cidadão comum, ele também quer dar um bom exemplo. Muito no seu estilo de vida mudou nos últimos anos, em nome de uma existência mais “eco-friendly”. Schwarzenegger reduziu o consumo de carne vermelha, instalou painéis solares para aquecer a sua casa em Los Angeles e converteu alguns de seus carros em veículos menos poluentes.

A sua Mercedes-Benz Classe G350d teve o seu motor diesel de seis cilindros trocado por um conjunto de motores elétricos – como cortesia da empresa austríaca Kreisel Electric.

Fã de Hummers, os carros que fizeram fama na Guerra do Golfo, Schwarzenegger ainda tem essas caminhonetes 4x4, que consomem muito combustível, mas hoje elas são movidas a hidrogênio, que não é poluente, ou biodiesel, que é menos poluente. Um de seus Hummers também foi convertido em veículo elétrico, e o Pinzgauer, o carro militar que ele dirigiu recentemente por Los Angeles, o que gerou críticas na mídia, também está passando por transformações para ser mais ecológico.

“É importante pararmos com essa caça às bruxas que os motoristas que gostam de carros grandes sofrem. O que importa é a tecnologia usada. Não o tamanho do veículo”, contou o ator, que recentemente gravou um comercial para a Veloz nos EUA. Trata-se de uma organização sem fins lucrativos dedicada a aumentar as vendas de carros elétricos.

“Os ambientalistas pecam muitas vezes por proibirem tudo. É uma lista enorme de coisas que não podemos fazer. Como fumar, acender a lareira, usar a banheira jacuzzi ou viajar de avião, entre outras coisas"

“Os ambientalistas pecam muitas vezes por proibirem tudo. É uma lista enorme de coisas que não podemos fazer. Como fumar, acender a lareira, usar a banheira jacuzzi ou viajar de avião, entre outras coisas.” Mas não é assim que o movimento por um mundo mais sustentável ganhará mais adeptos, segundo Schwarzenegger.

“Quando comecei a promover o fisiculturismo, no início de carreira, eu não censurava ninguém. Em vez de criticar quem tinha um traseiro enorme, apenas mostrava o que era um corpo bem cuidado. Com o planeta, precisamos seguir um pouco por aí, celebrando mais a natureza”, disse ele.

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