O executivo Carlos Takahashi, CEO da gestora BlackRock no Brasil, diz se sentir todos os dias como o personagem de Robert De Niro no filme “Um senhor estagiário” (2005).
No longa-metragem, De Niro é Ben Whittaker, um homem de 70 anos que vai trabalhar como estagiário ao lado de jovens num site de moda e acaba passando toda a sua experiência para a equipe.
No caso de Takahashi, conhecido por todos como Cacá, são mais de 40 anos. Ele entrou no Banco do Brasil aos 14 anos, ocupou vários cargos, e saiu de lá aos 54 anos, em 2015, quando deixou a presidência da gestora de recursos BB DTVM.
Hoje, aos 58 anos, no comando da BlackRock no País desde março deste ano, ele tem a missão de fazer a operação brasileira ganhar destaque dentro da gestora que administra US$ 6,8 trilhões no mundo.
“Aqui a média de idade é de 30 anos para baixo. Tenho a consciência de ter experiência para ser compartilhada e muito a aprender com eles”, diz Takahashi ao NeoFeed. E, claro, também tem muito por fazer.
O Brasil ainda é uma gota neste oceano de trilhões de dólares por onde a BlackRock navega. A operação local administra cerca de R$ 8 bilhões e, na região latino-americana, está bem longe do México, hoje com mais de US$ 30 bilhões sob gestão.
Na entrevista que segue, esse paulistano, que joga tênis toda semana e que tem o experiente Roger Federer como ídolo, conta que a BlackRock está avaliando ativos para comprar e encurtar o caminho do crescimento.
Ele também diz que pretende trazer novos produtos financeiros, avalia a Bolsa brasileira, traça uma perspectiva econômica e diz o que falta para os investidores estrangeiros voltarem ao País. Acompanhe:
Com a taxa básica de juros baixa, que deve terminar o ano na casa dos 5%, que tipo de investimentos vocês enxergam como alternativa mais rentável para quem pretende diversificar?
A BlackRock é mais conhecida pelos ETFs (Exchange Traded Fund, fundo atrelado a um índice), mas temos uma área de investimentos alternativos no exterior que é muito importante. Tem private equity, venture capital, real state, infraestrutura... São investimentos que fazem sentido disponibilizar no mercado local. Temos alguns feeders fund locais, que são fundos daqui que compram 100% das cotas de um fundo no exterior. Vemos um espaço muito grande para que isso cresça.
E para quem investe em ativos aqui?
Aqui, não tenho dúvida de que veremos o crescimento de fundos de multimercado, de renda variável. Mas não tenho dúvida de que, além da diversificação doméstica, agregar o internacional em seu portfólio é uma boa alternativa. Investir em ações de empresas internacionais. Imaginamos trazer mais ETFs e feeders funds do exterior para cá.
Os investidores estão buscando esse tipo de investimento internacional?
Sim, principalmente as pessoas físicas e family offices. A XP Investimentos é um grande canal de distribuição que temos para esses tipos de investimentos.
Falando em XP Investimentos, hoje existem muitas plataformas de distribuição e novos players pretendem entrar nesse segmento. Tem espaço para todas essas empresas?
A gente olha muito sob a perspectiva da XP, mas, se você observar o quanto ainda tem de concentração no sistema financeiro nas mãos dos grandes bancos, ainda tem muita coisa para os grandes bancos dividirem com os outros players. O que é muito bom. Não podemos sair de uma concentração e ir para uma outra concentração. Quanto mais players, mais competitividade, mais concorrência e mais escolhas e opções para o investidor.
E a Bolsa brasileira, como analisa esse patamar de mais de 100 mil pontos?
Essa é a pergunta de alguns milhões de dólares. Mas, analisando de uma forma um pouco mais técnica, a Bolsa, em dólares, estaria próxima de 30 mil pontos. Se você olhar as perspectivas de crescimento econômico, tem espaço para crescer mais.
Analisando de uma forma um pouco mais técnica, a Bolsa, em dólares, estaria próxima de 30 mil pontos
Mas os investidores estrangeiros ainda não chegaram. O que falta?
Na questão da Reforma da Previdência já tivemos os primeiros sinais. Ela vai trazer um impacto, vai trazer previsibilidade. E virão outras medidas como privatizações e microrreformas que farão a economia ganhar tração. Esse conjunto de medidas vai trazer um fluxo maior de dinheiro e mais consistência, sem entradas e saídas tão rápidas como estão acontecendo.
O governo está tocando as reformas, mas também tem gerado muitas crises desnecessárias que desgastam o País. Os investidores internacionais se preocupam com isso?
É claro que todo mundo olha as questões políticas, mas o investidor é um animal pragmático. Ele está olhando um mundo protecionista, onde as questões geopolíticas ganharam uma dimensão muito importante, incluindo os países desenvolvidos. Então, na hora que começa a olhar prêmio de risco, de retorno, guerra comercial, ele vem para cá. Eles estão vendo que, no que interessa a eles, que é o ambiente de negócios e econômico, as coisas estão sendo feitas, estão sendo arrumadas.
O Brasil é a bola da vez?
Tem tudo para ser. Mas todas as questões que comentamos precisam acontecer.
Desde 2010, a BlackRock não tinha um CEO no Brasil. Por que a gestora voltou a olhar para o País?
A operação era conduzida por um trio, cada um cuidava de uma área e Nova York dava um suporte. Durante esse período, a operação foi bem, era um time pequeno, mas era rentável. A BlackRock não queria deixar o País, mas precisava definir internamente como iria se posicionar por aqui. Nesse período, a BlackRock fez uma aquisição importante no México, que era o Citi Banamex, que consumiu bastante tempo da equipe voltada para a América Latina.
E o que mudou?
Agora essa operação está bem absorvida dentro da empresa. E no Brasil tem a mudança de governo. E, olhando para a equipe econômica mais aberta, querendo dar mais competitividade, a matriz entendeu que era a hora de se posicionar com mais força no Brasil.
Olhando para a equipe econômica mais aberta, querendo dar mais competitividade, a matriz entendeu que era a hora de se posicionar com mais força no Brasil.
Qual é a diferença entre a operação no México e no Brasil?
É difícil fazer essa comparação porque lá teve a aquisição do Citi Banamex. Hoje a operação no Brasil está perto de R$ 8 bilhões e lá a operação está perto de US$ 30 bilhões.
A BlackRock pretende fazer alguma aquisição para crescer como aconteceu no México?
Não é a única opção. Mas, é claro, se tiver opções interessantes aqui, algo que faça sentido para nós, a aquisição faz parte da estratégia para nós.
Mas vocês estão de olho?
Estamos olhando muita coisa. Não há nada claramente à venda, mas tem coisas que fariam sentido. Entendemos que precisamos ser mais fortes localmente dentro dessa perspectiva de gestor.
Entendemos que precisamos ser mais fortes localmente
Estão olhando bancos ou gestoras?
Estamos olhando gestoras. Nossa atividade é gestão de recursos de terceiros. Mas precisa ter uma série de condições para ter sentido. Tem que ter um fit cultural, sinergia e alinhamento. A visão da BlackRock é muito focada em time e equipe. Tem que ter essas características. Por outro lado, a BlackRock também pode crescer organicamente. Com o cenário econômico, os ETFs começaram a entrar mais forte nas agendas de quem acompanha o mercado e do próprio investidor. Ele é um instrumento tático que permite fazer alocações com muito mais eficiência.
Vocês já têm ETFs por aqui. Vão lançar mais?
Estamos olhando as oportunidades no mercado para lançar mais. Temos cinco ETFs e eles representam 80% da nossa carteira no Brasil. De longe, o BOVA11 (que replica o índice Bovespa) tem um grande volume de trading e liquidez que é muito importante. As pessoas precisam ver alternativas de investimentos aos seus portfólios.
O Larry Fink, CEO global da BlackRock, escreve todos os anos uma carta para as empresas investidas sobre a importância de visar não apenas o lucro, mas o propósito. Vocês investem em empresas no Brasil com essa visão?
A BlackRock aqui no Brasil faz gestão de recursos de terceiros, é completamente fiduciário, não é como uma gestora independente que tem gestão de recursos próprios. O que a BlackRock costuma fazer é propagar essa mensagem. Por isso que o Larry Fink adota esse discurso das boas práticas da sustentabilidade e do propósito. O propósito do Larry Fink é induzir boas práticas nas empresas.
A indústria financeira está passando por uma profunda mudança, principalmente por conta das novas tecnologias e pela explosão das fintechs. A BlackRock está olhando para isso?
A gente olha e já compramos algumas empresas nessa área. Como temos um portfólio extremamente abrangente, estamos investindo em robot advisor e ferramentas de gestão de risco.
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