Na sexta-feira passada, dia 30 de setembro, Ulrich Körner, CEO do Credit Suisse, enviou um memorando aos funcionários do banco suíço na tentativa de tranquilizá-los quanto à solvência da operação, algo que vinha alimentando questionamentos crescentes do mercado.

O movimento foi seguido por uma verdadeira cruzada durante o fim de semana, que envolveu o contato com clientes e investidores para ressaltar a saúde financeira do banco. Já no domingo, 2 de outubro, o executivo completou esse pacote com um novo documento destinado à equipe da empresa.

Veículos como Financial Times e Bloomberg, entretanto, tiveram acesso aos memorandos e a expressão “momento crítico”, usada por Körner, acendeu um forte alerta sobre o Credit Suisse, reforçando o temor sobre a situação do banco trazer um risco sistêmico e contaminar o setor financeiro global, dadas as suas conexões com outras instituições.

Exatamente sete dias depois dos documentos que colocaram o Credit Suisse definitivamente sob os holofotes, o banco suíço voltou a tentar acalmar os ânimos. Mas dessa vez, publicamente, e por meio de uma sinalização mais concreta sobre a solidez do seu balanço.

A mensagem em questão veio na forma de um comunicado oficial, divulgado na manhã desta sexta-feira, 7 de outubro, o Credit Suisse anunciou o plano de recomprar até 3 bilhões de francos suíços (US$ 3 bilhões) da sua dívida.

O plano envolve uma oferta de recompra de € 1 bilhão em dinheiro de oito títulos de dívida sênior denominados em euros ou libra esterlina. E uma segunda oferta para recomprar 12 títulos de dívida sênior em dólares, no valor de até US$ 2 bilhões. As duas ofertas expiram, respectivamente, nos próximos dias 3 e 10 de novembro.

“As transações são consistentes com nossa abordagem proativa para administrar nossa composição geral de passivos e otimizar despesas com juros, e nos permitem aproveitar as condições de mercado para recomprar dívidas a preços atraentes”, escreveu o banco, no comunicado.

A reação inicial do mercado ao anúncio foi positiva. As ações do banco estavam sendo negociadas com alta de 6,2% na Bolsa de Nova York, por volta das 11h38 (horário local). Em 2022, no entanto, os papéis acumulam uma desvalorização próxima de 53%. O Credit Suisse está avaliado em US$ 11,8 bilhões.

Apesar dessa resposta positiva, o banco ainda tem um longo caminho para tranquilizar os investidores e alguns números dão a medida desse desafio. No início desta semana, por exemplo, as ações da empresa chegaram a registrar uma queda de 11,5%, atingindo seus menores níveis históricos.

Na direção oposta, os credit default swaps – contratos que precificam a proteção contra um default, ou seja, um calote de uma instituição – do Credit Suisse também chegaram a superar o patamar de 350 pontos-base/ano, em um recorde nada desejável para o banco.

Esses e outros indicadores traduziram as dúvidas quanto à posição de capital e a liquidez do banco, e chegaram a suscitar no mercado comparações com o Lehman Brothers, instituição cuja quebra, em setembro de 2008, precipitou a grande crise financeira global naquele mesmo ano.

O tal “momento crítico” do Credit Suisse tem origem, em particular, no desempenho e em uma série de escândalos recentes envolvendo a divisão de banco de investimentos da instituição, que contrasta com a boa performance dos negócios de wealth management e de private bank.

Entre outros problemas, a área de banco de investimentos contabilizou perdas bilionárias na esteira dos colapsos financeiros do family office Archegos Capital Management e da gestora de ativos britânica Greensil Capital, que vieram à tona em 2021.

Outros números reforçam a desconfiança sobre o Credit Suisse e a necessidade de o banco buscar recursos para financiar sua operação. Nos últimos três trimestres, por exemplo, a instituição somou um prejuízo de cerca de 4 bilhões de francos suíços.

Em julho deste ano, Ulrich Körner foi nomeado CEO com a missão de recolocar a companhia nos trilhos. Como parte dessa estratégia, o mercado aguarda um plano de reestruturação, previsto para ser anunciado no próximo dia 27 de outubro, juntamente com o balanço referente ao terceiro trimestre da operação.

Entre outros movimentos, as especulações apontam para uma possível redução da divisão de banco de investimentos, que pode ser dividida em outras três divisões. Uma outra medida aventada seria a venda de parte dos ativos da instituição. Os rumores não descartam, inclusive, uma eventual fusão com o UBS, outro banco suíço.