Dona de bandeiras como Frango Assado e Viena, e de um faturamento de R$ 1,58 bilhão em 2018, a brasileira International Meal Company (IMC) foi cortejada por diversas empresas nos últimos tempos, com destaque para as longas e frustradas negociações mantidas com a Sapore.

Em julho deste ano, no entanto, essa novela trouxe como desfecho a fusão com a MultiQSR, holding pertencente à família do empresário Carlos Wizard Martins e detentora das marcas Pizza Hut e KFC no Brasil.

Desde o anúncio, o valor de mercado da IMC saiu de R$ 1,38 bilhão para R$ 1,58 bilhão, segundo a Economatica. O acordo criou um grupo com receita de R$ 1,8 bilhão e 453 lojas. E com presença e recursos para ganhar mais espaço em um setor que movimentou R$ 205 bilhões no País em 2018, de acordo com o Instituto Food Service.

Concluída e aprovada no fim de outubro, a transação carrega benefícios potenciais como o aumento do poder de barganha para a negociação com fornecedores e a consequente redução dos preços dos produtos na ponta.

Naturalmente, ainda levará um tempo para que essa estratégia se reflita no bolso dos frequentadores das lojas do grupo. Mas, a partir de 19 de dezembro, esses consumidores terão a oportunidade de testemunhar de perto os primeiros resultados concretos dessa sinergias.

A fusão começa a se materializar nesta quinta-feira, com a inauguração de três unidades do Pizza Hut dentro de lojas da rede Frango Assado. Sob o conceito de store in store, os pontos iniciais dessa estratégia serão instalados em lojas localizadas em rodovias que cortam as cidades de Caieiras, Cajamar e Louveira, no estado de São Paulo.

Até o fim do ano, outras sete unidades, em municípios como Atibaia, Jacareí e Aparecida, seguirão o mesmo roteiro. Para 2020, o plano é estender o esforço às demais 15 lojas do Frango Assado. A rede prevê a abertura de três unidades por ano até 2024. E a expectativa é de que essa abordagem seja aplicada também nos novos projetos.

“Nossa perspectiva é dar um bom impulso às duas marcas”, afirma Newton Maia, CEO da IMC, ao NeoFeed. “O Frango Assado passa a ter mais um diferencial e a Pizza Hut terá acesso a um fluxo de 1,5 milhão de clientes por mês.”

Para Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, investir no conceito de store in store é uma alternativa inteligente e rápida para ganhar capilaridade. E traz outros benefícios. “Essa abordagem permite um custo de ocupação menor, pois inclui sinergias operacionais, de segurança, de mão de obra e de energia elétrica”, afirma.

Até o fim do ano, dez unidades da Pizza Hut serão abertas dentro de pontos da rede Frango Assado

O executivo não revela as projeções de ampliação das vendas com a estratégia. E não vê riscos de uma possível canibalização com esse movimento. “Haverá uma substituição pontual em alguns produtos, mas o saldo será positivo”, afirma.

Essa possibilidade, no entanto, fez com que o grupo decidisse não incluir o KFC, que tem o frango como protagonista do cardápio, nessa estratégia. “O risco é maior, especialmente por conta de uma possível confusão de marcas”, afirma Maia. Ele ressalta, porém, que o grupo não descarta investir em um projeto piloto envolvendo as duas bandeiras no médio prazo.

Novo cardápio

Marca responsável por mais da metade das receitas do grupo, o Frango Assado está no centro de outras iniciativas em andamento. Um desses projetos é o primeiro aplicativo da rede, que permitirá aos consumidores realizar um pedido, ainda na estrada, e retirá-lo assim que chegar à loja, dentro do conceito de click & collect.

Caso decidam consumir os produtos dentro da unidade, os frequentadores também terão a alternativa de evitar as filas nos caixas. Além do app, o pagamento poderá ser feito por meio de totens de autoatendimento que serão instalados nas lojas da rede.

Tanto o aplicativo como os totens integram um projeto piloto que começará a ser testado no segundo semestre na loja do Frango Assado localizada na rodovia Carvalho Pinto, em São Paulo. A unidade concentra os melhores índices de venda da rede. “Além de melhorar a experiência, com o app, vamos ter um novo ponto de contato com esses clientes”, diz Maia.

Outro projeto tem como base um investimento recente de R$ 35 milhões na construção de uma cozinha industrial, em Louveira, com recursos avançados de automatização. A estrutura, que entrou em operação em novembro, vai centralizar e padronizar a produção. A ideia é enviar os alimentos semiprontos e ultracongelados às lojas, para reduzir custos e agilizar o atendimento.

A partir desse investimento, a IMC também fechou acordos para fornecer as marcas próprias do Frango Assado de biscoito de polvilho e pão de semolina – esse, o carro-chefe da rede, com hipermercados como Pão de Açúcar e BIG. E está em fase final de implantação de um projeto de delivery desses produtos na cidade de São Paulo.

O sistema de entregas envolverá o novo aplicativo e parceiros de logística. Nessa última frente, a IMC vem mantendo conversas com Rappi, Uber e iFood para definir a empresa responsável pelo delivery. A previsão é de que a iniciativa entre em operação no primeiro trimestre de 2020.

Expansão

Com um plano de investimentos anunciado de R$ 450 milhões para os próximos cinco anos, a empresa também enxerga sinergias na estratégia de expansão a partir da fusão. A proposta é aproveitar a experiência do grupo MultiQSR em franquias para estender esse formato às bandeiras da IMC.

Nesse modelo, o foco inicial é a marca Frango Assado, cujas lojas tradicionais ocupam espaços entre dois e três mil metros quadrados, e demandam um investimento de R$ 10 milhões a R$ 15 milhões. No formato de franquias, o plano é trabalhar com unidades de 120 a 150 metros quadrados, instaladas em contêineres, a um custo de R$ 600 mil.

A marca Frango Assado, muito forte em estradas, começará a ser franqueada

Para testar essa iniciativa, a IMC vai investir em uma primeira loja em 2020, provavelmente na rodovia Presidente Dutra, em São Paulo. Depois de validar o conceito, a expectativa é escalar o formato em 2021. A cozinha inteligente recém-inaugurada é também o ponto de partida para as franquias, que deverão ter, em média, dois funcionários por unidade.

Em médio e longo prazos, a IMC pretende incorporar o conceito de franquias nas redes do Viena e da Batata Inglesa. “Antes, no entanto, precisamos ajustar as operações dessas bandeiras, especialmente no que diz respeito à integração com a cozinha central”, explica Maia.

Com 54 lojas, a marca Viena também terá parte de sua rede convertida em lojas da Pizza Hut e do KFC. A estratégia vai se concentrar nas unidades que não vêm tendo bom desempenho e estão localizadas em shoppings. Das 28 que se encaixam nesse perfil, dez serão convertidas em 2020, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

Para a KFC e a Pizza Hut, o plano de expansão prevê a abertura de, no mínimo, 40 lojas por ano de cada marca até 2024. Nesse mapa, as novas unidades próprias irão priorizar as regiões Sul e Sudeste. Já praças como o Norte e Nordeste terão como via principal o modelo de franquias.

Já nas operações internacionais, o cronograma passa por 15 novas unidades das bandeiras Margaritaville e LandShark nos Estados Unidos. Outro mercado-alvo são as regiões de portos e cruzeiros, como o Caribe. Para 2020, está prevista a inauguração de uma loja da LandShark no Porto de Colon, no Panamá, com um investimento de US$ 2 milhões.

O apetite da IMC por novos projetos não se replica, no entanto, na busca por outras aquisições. Recentemente, rumores apontaram o grupo como um dos interessados na compra das operações brasileiras da Bloomin Brands, responsável pelas bandeiras Outback, Abraccio e Fleming’s.

“Não há nenhuma conversa. São apenas boatos de jornal”, afirma Maia. “Não temos nem dois meses da fusão e ainda estamos digerindo essa operação. Temos um plano orgânico bastante agressivo e, nessa área, temos mais possibilidade de vender do que comprar”, diz o executivo em uma referência a outras bandeiras do grupo, cujo portfólio inclui ainda marcas como Olive Garden, Espresso Mineiro e Eat & Co.

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