Os últimos dias de janeiro deste ano mudaram radicalmente a trajetória da GameStop, até então, uma decadente loja de games dos Estados Unidos. Em poucos dias, a empresa ficou em evidência e tornou-se o maior símbolo da chamada “revolta das sardinhas”, quando uma ação coordenada de usuários do fórum online Reddit valorizou os papéis de companhias em dificuldades financeiras e causou prejuízos bilionários a fundos hedge.

Passada a onda que abalou Wall Street, que ficou conhecida também como a de "ações memes",  os papéis da varejista estão sendo negociadas bem abaixo do pico de US$ 483 que alcançaram no fim de janeiro, no auge dessa movimentação.

Entretanto, com uma cotação na faixa de US$ 137, elas seguem muito acima da faixa de US$ 17 registrada no início do ano. E agora, com uma espécie de voto de confiança do mercado, a empresa vive a pressão de entregar resultados condizentes com esse novo patamar.

Nessa direção, a empresa anunciou a criação de um Comitê de Planejamento Estratégico e Alocação de Capital. A primeira reação do mercado ao anúncio foi positiva. As ações da empresa, avaliada em US$ 13,5 bilhões, fecharam o pregão do dia na Nasdaq com alta de 41,21%, cotadas a US$ 194,50.

O novo comitê será liderado por Ryan Cohen, cofundador e ex-CEO da Chewy, gigante de e-commerce de produtos para pets, que foi adquirida, em 2017, pela PetSmart por US$ 3,35 bilhões. No fim de 2020, ele comprou cerca de 10% das ações da GameStop e começou a pressionar a empresa por mudanças em seu modelo de negócios.

Na nova estrutura, Cohen terá a companhia de Alan Attal, ex-executivo da Chewy, e de Kurt Wolf, da gestora Hestia Capital Management, que também vem pressionando por mudanças no modelo da empresa. Entre outras atribuições, o trio será responsável por estabelecer as correções de rota na varejista, além de definir novas áreas e prioridades de investimentos para a operação.

“O Comitê irá se concentrar na identificação de ações que possam transformar a GameStop em um negócio de tecnologia e ajudar a criar valor duradouro para os acionistas”, escreveu a empresa, em comunicado sobre o comitê.

Entre as primeiras medidas anunciadas estão a nomeação de um diretor de tecnologia, Matt Francis, um veterano ex-Amazon; a contratação de dois executivos para liderar as áreas de atendimento ao cliente e de atendimento ao e-commerce; e a busca por um novo diretor financeiro, com experiência no segmento de comércio eletrônico.

Fundada em 1984, a GameStop tem mais de cinco mil lojas espalhadas pelos Estados Unidos, Europa, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Mas já há alguns anos vem sofrendo ao insistir unicamente no varejo de lojas físicas, em meio a um processo de transformação do modelo de venda de games.

Os jogos de computador são vendidos exclusivamente no formato online há tempos. A rede varejista sobrevivia com a venda de títulos para os consoles, mas até isso está mudando. A nova geração de aparelhos já chegou com versões que dispensam totalmente as mídias físicas.

Os próprios desenvolvedores apostam mais no formato "free to play": o game é de graça, mas cobram por elementos que oferecem vantagens aos jogadores. Alguns dos maiores sucessos recentes adotam essa abordagem, como “Fortnite” e “Free Fire”.

Nesse cenário, a empresa vem reportando prejuízos consecutivos há seis trimestres fiscais. No último deles, encerrado em 31 de outubro, a companhia apurou uma perda de US$ 18,8 milhões, contra US$ 83,4 milhões, um ano antes. No período, a receita líquida recuou 30,2%, para US$ 1 bilhão.

A companhia projeta, no entanto, divulgar lucro em seu quarto trimestre fiscal, finalizado em 30 de janeiro. Os resultados do período serão divulgados no fim deste mês. Enquanto isso, nas negociações do pre-market desta terça-feira Nasdaq, o preço das ações da empresa segue subindo, com alta de 11,99%, por volta das 9h30 (horário local).