O Facebook está retomando seu projeto de lançar uma moeda digital, embora de forma bem menos ambiciosa do que o previsto em 2019. O Diem, como é chamado o ativo, pode chegar ao mercado em um projeto-piloto ainda em 2021.
A The Diem Association, organização sem fins lucrativos sediada na Suíça, será responsável por definir as diretrizes do projeto. O criptoativo será uma “stablecoin”, moedas digitais com lastro em um ativo real. No caso, o dólar.
Inicialmente, o foco do projeto-piloto serão as transações entre indivíduos. Uma fonte ouvida pela rede americana CNBC, que preferiu não ser identificada, afirmou ainda que há a possibilidade de lançar o Diem também como forma de pagamento para alguns produtos. O lançamento não tem data para acontecer.
Atualmente, a Diem Association está negociando com órgãos reguladores suíços para obter uma licença de pagamento, um passo importante para o lançamento do projeto de criptomoeda.
"Vamos começar em fases, focando em diferentes funcionalidades e aplicações em diferentes áreas", disse Christian Catalini, economista-chefe da Diem, à CNBC. "Quando tivermos o sinal verde, vamos começar experimentando com números reduzidos de usuários."
Trata-se da retomada do projeto Libra, originalmente anunciado em 2019 com o objetivo de revolucionar a maneira como os pagamentos eram feitos. A criptomoeda Libra seria lastreada em uma cesta de moedas internacionais, incluindo o euro e o dólar, totalmente descentralizada e suas diretrizes seriam definidas pela organização Libra Association.
Na época, o Facebook afirmou que os usuários poderiam fazer compras e transferências com sigilo e segurança. A rede social pretendia lançar uma subsidiária chamada Calibra para desenvolver serviços financeiros e softwares em cima da tecnologia de blockchain, a mesma usada no desenvolvimento da moeda.
O projeto, no entanto, não foi para frente. Reguladores e agentes de governos ficaram preocupados que o lançamento da moeda com o apoio do Facebook, rede social que tem mais de 2 bilhões de usuários no mundo todo, poderia prejudicar a estabilidade das moedas digitais.
Outros riscos identificados pelos reguladores incluíam a proteção de dados dos usuários e a possibilidade de facilitar a lavagem de dinheiro. Com o escrutínio, os principais parceiros da Libra foram desistindo do projeto. No fim de 2019, eBay, Stripe, Mastercard, Visa, Mercado Pago e PayPal deixaram a coalização.
Dessa vez, no entanto, o projeto tem chances maiores de seguir em frente. Desde 2019, o setor de criptoativos ganhou robustez e as moedas digitais passaram a ser negociadas por grandes bancos americanos, como o caso do Morgan Stanley, que passou a permitir que seus clientes milionários possam investir em fundos de bitcoin.
Na semana passada, a Coinbase, a maior corretora de criptoativos dos Estados Unidos, abriu o capital na Nasdaq, e terminou seu primeiro dia de negociações na bolsa avaliada em US$ 85 bilhões, mais do que o valor de Itaú e Bradesco somados. Atualmente, a empresa está avaliada em US$ 59 bilhões.
"Esta é uma das múltiplas iniciativas que estão acontecendo. É similar à compra que a Tesla fez de US$ 1,5 bilhão em bitcoin", afirma Michael Gronager, CEO da Chainalysis, empresa de análise de blockchain. "É parte de um grande movimento, não é um novo movimento."
A Diem Association conta com Andreessen Horowitz, uma das casas de venture capital mais influente do Vale do Silicio, e com a fintech PayU em seu conselho. Há ainda um comitê técnico que tem entre seus integrantes executivos do aplicativo de transporte Lyft e da plataforma de e-commerce Shopify, entre outros.