A Alloha Fibra, provedor de internet de banda larga (ISP) da eB Capital, acaba de captar R$ 550 milhões em duas séries de debêntures incentivadas em sua primeira oferta pública, que teve uma demanda superior a R$ 1 bilhão, o que representa 1,94 vez o booking.
Os recursos que entram para o caixa da Alloha Fibra aumentam o duration de sua dívida, que está em R$ 2,1 bilhões, de 1,9 ano para 2,7 anos e permitem que o ISP possa voltar aos M&As, uma característica da companhia desde sua origem em 2018.
“O nosso objetivo era ter tranquilidade para fazer a gestão e evitar qualquer tipo de risco e de liquidez nos próximos anos”, diz Lorival Luz, CEO da Alloha Fibra, ao NeoFeed. “Não temos a necessidade de acessar o mercado nos próximos dois anos.”
A primeira tranche captou R$ 213,7 milhões, com prazo de 10 anos, com cupom semestral, taxa de IPCA + 8,10% e amortizações a partir do 8º, 9º e 10º ano. A segunda, de R$ 336,2 milhões, também com cupom semestral, tem taxa de IPCA + 7,75% e amortizações no 6º e 7º ano. O Itaú BBA foi o coordenador líder da emissão.
“Essa captação atraiu tanto a atenção do investidor pessoa física como de fundos institucionais e especializados em infraestrutura, que tiveram um apetite imenso”, afirma Guilherme Maranhão, diretor de distribuição do Itaú BBA.
A emissão das debêntures se junta a um financiamento de R$ 148 milhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que será usado para a expansão da rede de internet no Maranhão e Pará.
Presente em 860 cidades, de 22 estados brasileiros, a Alloha Fibra tem 1,6 milhão de assinantes e construiu uma rede de 170 mil quilômetros que passam por 7,8 milhões de domicílios no Brasil (esse é potencial máximo de clientes que o ISP pode ter a partir de sua própria rede).
Luz, que assumiu a Alloha Fibra em julho do ano passado, chegou com a missão de arrumar a casa, depois de quase 20 M&As no período de 2018 a 2022, como as aquisições de Sumicity, Mob Telecom, Wirelink, Vip, Click, Univox, Ligue e Niufibra, que deram a musculatura atual para o provedor de internet de banda larga.
A principal tarefa de Luz, nesse período, foi unificar diversas marcas em um trabalho de integração. Ele encontrou uma companhia com nove marcas. Agora, no varejo, todas elas estão reunidas sob o nome de Giga +. Havia 89 sistemas, que foram reduzidos para 17. E, dos 19 CNPJs, três deles ainda são mantidos. “Foi uma integração completa que permitiu à companhia ter ganhos de margem e alavancar suas sinergias”, diz Luz, que foi ex-CEO da BRF.
Com essa reestruturação, a Alloha Fibra, enfim, conseguiu se tornar lucrativa. Nos seis primeiros meses de 2024, o lucro foi de R$ 17,8 milhões, revertendo um prejuízo de R$ 4,3 milhões no mesmo período do ano passado. A receita operacional líquida chegou a R$ 830,4 milhões, alta de 4%.
Mas tingir o balanço de azul teve um custo no crescimento da companhia, que reduziu sua expansão, em um mercado altamente competitivo que tem, de um lado, as operadoras de telefonia incumbentes (como Vivo, Claro e Oi); e, de outro, ISPs independentes, como Vero, Brisanet, Desktop e Unifique.
De janeiro a junho deste ano, a Alloha conseguiu adicionar 22 mil novos clientes a sua base, segundo dados da Teleco, consultoria independente de telecomunicações. Seus rivais cresceram mais. A Brisanet conquistou 69 mil assinantes neste período. A Desktop, 61 mil. E a Unifique, 42 mil. Só a Vero ficou atrás da empresa da eB Capital entre os ISPs independentes, com 2 mil de novos clientes.
“A casa está agora arrumada, temos a estruturada adequada e funding de longo prazo. Estamos prontos para voltar a crescer”, diz Luz. “E o crescimento inorgânico tem se mostrado mais adequado. O ganho de sinergia é maior. E o meu custo de entrada é menor.”
O CEO da Alloha Fibra, no entanto, não diz quais os mercados são prioritários para a companhia nesse retorno aos M&As. Mas alega que é mais fácil crescer onde já tem uma infraestrutura pronta, indicando que novas localidades não devem fazer parte do plano de expansão da companhia.
O mercado de provedores de internet que usam fibra óptica para fornecer banda larga de alta velocidade é altamente pulverizado. De acordo com dados da Teleco, existem 35 milhões de conexões.
Mas só quatro empresas tem mais de 1 milhão de clientes. Segundo as contas da Alloha Fibra, 40% das operações têm menos de 100 mil assinantes. “Tem um espaço enorme para a consolidação”, diz Luz. “E queremos ser protagonistas para atrair essas empresas menores.”
Mas esse é um mercado em que as incumbentes estão de olho – o que pode fazer da Alloha um alvo. A Vivo, por exemplo, chegou a ter conversas avançadas para a compra da Desktop, que tem mais de 1 milhão de clientes no interior de São Paulo. As negociações não se concretizaram, segundo apurou o NeoFeed, por conta do preço.
A Oi, em recuperação judicial, está vendendo sua área de internet de banda larga, que tem 4,3 milhões de clientes - um negócio que deve parar nas mãos da V.tal, provedor de rede neutra do BTG. Segundo apurou o NeoFeed, o plano é criar uma empresa nova para competir no mercado.
E, mesmo entre os independentes, Vero e Americanet anunciaram uma fusão, em julho do ano passado, cujo objetivo era ganhar escala para se tornarem mais competitivas – as duas eram investidas de Vinci e Warburg Pincus, respectivamente.