Dona das redes Raia e Drogasil e principal nome do varejo farmacêutico, a RD Saúde se acostumou a figurar como um porto seguro para os investidores não apenas no setor, mas entre todas as varejistas listadas na B3.
Esse status foi abalado, porém, há duas semanas, quando o grupo divulgou seus números do primeiro trimestre de 2025. A queda expressiva em linhas como lucro líquido e Ebitda trouxe uma dose cavalar de desconfiança no mercado, que se refletiu, desde então, em uma queda de 23,6% no preço de suas ações.
Diante desse cenário, o BTG Pactual buscou entender as tendências temporárias e estruturais observadas nos últimos resultado da RD. E, nesse balanço entre o que chama de fraquezas operacionais de curto prazo e fundamentos de longo prazo, elegeu o principal ponto de alerta para o grupo.
“A ameaça mais estrutural ao modelo da RD reside em HPC (higiene pessoal, perfumaria e cosméticos), onde Amazon, Mercado Livre e outros players de e-commerce continuam capturando participação por meio de preços e escala agressivos”, escrevem os analistas do BTG.
Essa concorrência mais acirrada com os marketplaces em HPC, e, em menor escala em medicamentos sem prescrição (OTC), é um dos três fatores avaliados pelo banco. Os outros dois componentes são a desaceleração do crescimento em lojas maduras e a pressão sobre a margem operacional.
Para reforçar parte desse avanço dos players digitais nessa prateleira, os analistas citam uma projeção de que, no Mercado Livre, a categoria de HPC já representa cerca de 6% das vendas totais. E estimam que ela vem crescendo a níveis próximos de 15% nos últimos trimestres.
O banco projeta que um terço das vendas da RD tem sobreposição com categorias expostas a esses rivais. E ressalta que HPC segue sendo o maior desafio no top line, em função da crescente pressão das promoções realizadas no online, algo que pode seguir comprimindo as margens no segmento.
“Embora as vendas de medicamentos (50% da receita) sigam resilientes, HPC e OTC estão sob pressão, afetando o crescimento da receita e a margem bruta. A RD está adotando medidas para mitigar isso. Mas, dada sua avaliação premium, as expectativas são altas”, pontuam os analistas.
Nessa equação, eles estimam que, para cada queda de 100 base points na margem bruta da categoria de HPC, devido a ações promocionais, há um efeito negativo de 25 base points na margem bruta consolidada do grupo.
O banco também ressalta mais reflexos dessa concorrência no outro ponto analisado pela lupa do seu relatório. É o caso do crescimento abaixo do esperado nas vendas mesmas lojas de unidades mais maduras da rede.
Para o BTG, esse desempenho mais fraco também pode ser associado ao ganho de participação de marketplace e players de e-commerce em HPC e OTC. Além da recuperação de redes regionais do setor, como Panvel e Pague Menos. Aqui, porém, o banco faz uma ressalva.
“Embora o curto prazo pareça desafiador para a RD, com o crescimento das vendas mesmas lojas sob pressão, a produtividade das lojas da rede ainda é muito superior à de seus concorrentes, bem como sua presença nacional”, aponta outro trecho do relatório.
No balanço entre ameaças e vantagens competitivas no curto e no longo prazo, os analistas destacam, porém, que, para uma tese que sempre foi negociada com prêmio em relação a outros varejistas, não há espaço para “decepções” no balcão da RD.
“Por um lado, pode-se argumentar que a RD segue sendo uma história de qualidade”, escrevem os analistas. “Mas também é verdade que a perspectiva de crescimento na competição, mesmo que afete apenas um terço do mix, torna o crescimento futuro e a expansão da margem mais arriscados que no passado.”
As ações da RD estavam sendo negociadas com queda de 4,85% por volta das 12h50, cotadas a R$ 14,13, dando à empresa um valor de mercado de R$ 24,2 bilhões. No ano, os papéis registram uma desvalorização de 35,7%.