A decisão da Amazon de seguir o mesmo caminho do Mercado Livre e da Shopee, estabelecendo em R$ 19 o valor mínimo para o frete grátis, recoloca a companhia na acirrada disputa do e-commerce brasileiro. A plataforma de Jeff Bezos, no entanto, ainda precisa avançar para ameaçar a liderança da empresa argentina.
Segundo levantamento do Bank of America (BofA), o corte no preço do frete, somado à isenção de tarifas do serviço de fulfillment e das taxas sobre pedidos de novos sellers anunciadas em agosto, permitiu à Amazon reverter a perda de participação no tráfego no início de outubro.
Esses fatores, combinados com o Amazon Mega Oferta — evento de descontos exclusivos para usuários Prime — impulsionou a métrica de usuários diários ativos (DAU, na sigla em inglês), com a média móvel de sete dias registrando alta de 12% até 9 de outubro.
O aumento é comparado a 20 de maio, quando o Mercado Livre iniciou cortes nos custos logísticos para os sellers, reduzindo taxas de envio de produtos de até 30 quilos. O frete grátis para consumidores foi anunciado pela plataforma argentina em 6 de junho.
A expectativa é que a Amazon continue pressionando o Mercado Livre e a Shopee, diante dos novos anúncios envolvendo frete grátis, segundo o Itaú BBA. Ontem, 15 de outubro, a empresa reduziu o valor mínimo para entregas no mesmo dia para assinantes Prime, de R$ 99 para R$ 19, igualando a oferta do Mercado Livre para membros do Meli+.
A Amazon já oferecia frete grátis sem valor mínimo para membros Prime, mas não com entrega no mesmo dia. O corte anunciado em agosto previa entrega em até três dias para compras entre R$ 19 e R$ 79, e em um dia para compras acima de R$ 79.
“A paridade de R$ 19 reduz a vantagem do Mercado Livre em preço e velocidade de aplicação, já que consegue ampliar os subsídios de frete e deslocar o mix para uma cesta de menor valor”, aponta o relatório do Itaú BBA.
Com essas medidas, a Amazon se aproxima da Shopee, cujo DAU subiu 12,9% até a primeira semana de outubro. Ainda assim, está distante de ameaçar o Mercado Livre, que lidera com alta de 33% no DAU no mesmo período.
Em termos mensais, a participação do Mercado Livre entre os usuários ativos de plataformas de e-commerce atingiu 20,1% em setembro, aumento de 1,8 ponto percentual em relação ao ano anterior, segundo o BofA. A Shopee aparece em segundo lugar, com 19,5%, e a Amazon em terceiro, com 15,5%.
Para os analistas do Itaú BBA, a Amazon conseguiu igualar as condições de entrega, mas o valor médio dos produtos da plataforma ainda é superior ao do Mercado Livre e da Shopee.
“Acreditamos que o ASP [preço médio de venda] da Amazon está acima do Mercado Livre, então a participação do GMV na faixa de R$ 19 a R$ 79 é provavelmente menor para a Amazon”, diz o relatório.
O corte nos custos para os vendedores pode ampliar as opções na plataforma da Amazon, assim como os investimentos logísticos que a companhia vem realizando.
“Embora o frete grátis a partir de R$ 19 aumente a concorrência no curto prazo, a extensão do fulfillment do Mercado Livre, sua rede de agências e a densidade do Flex [serviço que permite ao vendedor realizar entregas rápidas com logística própria ou de terceiros] continuam sendo vantagens estruturais. O Mercado Livre ainda lidera em variedade e níveis de serviço fora das áreas metropolitanas”, conclui o relatório do Itaú BBA.