Depois de cinco anos conturbados, em que a crise do Fies se misturou à pandemia de Covid-19 e à disparada da inflação, criando uma tempestade perfeita no setor de educação privado, a administração da Ânima não quer ficar mais dependente das condições externas.
Ainda que o novo governo indique a possibilidade da retomada do programa de financiamento estudantil e as projeções dos economistas apontem para um arrefecimento da inflação, abrindo caminho para corte de juros, o grupo educacional se mostrou focado em melhorar suas operações e perfil financeiro.
“Como não temos controle do cenário macroeconômico, estamos focados em fazer a nossa parte”, disse André Tavares, diretor financeiro da Ânima, em teleconferência nesta segunda-feira, 14 de novembro, para tratar dos resultados do terceiro trimestre. “Com o cenário macroeconômico melhorando, estaremos prontos para que os números tenham melhorias significativas.”
Os investidores têm demonstrado otimismo quanto à possibilidade de o Fies ser retomado, após declarações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que “vai ter ProUni outra vez, vai ter Fies, vai ter Reuni, vai ter Pronate”. As declarações levaram a um rali das ações de educação nos últimos pregões.
Já a diretoria da Ânima adotou um tom mais sóbrio quanto à volta do programa, que ajudou a empresa a atingir o atual tamanho, com valor de mercado de R$ 2 bilhões. Para eles, é preciso esperar ver a estrutura do programa, que chegou a bater 700 mil financiamento no auge, em 2014, mas deixou um rastro de endividamento dos estudantes e prejuízos financeiros para empresas que dependiam dos alunos ligados ao programa.
Segundo Marcus Vinicius Cuiabano Peixoto, diretor de relações com investidores da Ânima, embora seja positivo ter um programa de financiamento público, ele precisa ser melhor desenhado, para que não onere os alunos e seja adequado à situação fiscal do País. “Um Fies mal desenhado é pior do que não ter um Fies”, afirmou.
Enquanto isso, a companhia vêm trabalhando para ser mais eficiente e rentável internamente. Os executivos destacaram os ajustes realizados na Ânima Core, que agrega as operações presenciais, exceto os cursos de medicina, e responsável por 63% da receita consolidada.
Com queda de 4,3% na base de aluno, em relação ao terceiro trimestre de 2021, a unidade registrou um aumento de 4% na receita líquida, com um reajuste de 10,7% do tíquete médio, puxado pelos ajustes sendo feitos nas unidades vindas da Laureate, adquiridas em 2020.
Segundo Tavares, a medida, por enquanto bem aceita pelos alunos, permite à Ânima manter a rentabilidade e sustentabilidade das operações, enquanto aguarda as condições do País melhorarem para aumentar a captação de alunos.
“Com o macro melhorando, vamos estar prontos para que os números [de alunos] tenham melhoras significativas e teremos os preços nos patamares adequados”, afirmou Tavares.
Outro ponto destacado pelos executivos na teleconferência foi o foco na redução da alavancagem financeira. No terceiro trimestre, a relação entre a dívida líquida e o Ebitda ajustado chegou a 3,8 vezes, aumento de 0,4 vez em relação ao registrado no segundo trimestre deste ano.
Admitindo que a alavancagem financeira ainda está elevada, os executivos ressaltaram que a base de comparação anual do Ebitda está prejudicada, com o valor apurado no mesmo período de 2021 beneficiado por alguns efeitos positivos. Além disso, citaram que a dívida líquida foi prejudicada pelos efeitos da alta da Selic em 12 meses.
Segundo Peixoto, a desalavancagem continua sendo tema prioritário e será tratada de forma orgânica, buscando eficiência na gestão dos ativos físicos e ganhos em termos de despesas gerais e administrativas.
“Vamos buscar aumentar a geração de caixa”, afirmou Peixoto. “Podemos também nos desalavancar com venda de ativos, mas isso depende de termos interlocutores. Podemos até tentar vender imóveis, mas com a Selic no nível que está fica muito difícil.”
No terceiro trimestre, a Ânima registrou um lucro líquido ajustado de R$ 12,8 milhões, queda de 87,3% em relação ao mesmo período de 2021.
A receita aumentou 10,8%, na mesma base de comparação, para R$ 905,2 milhões, enquanto o Ebitda ajustado caiu 17,9%, para R$ 282,7 milhões.
Por volta das 13h52, as ações da Ânima recuavam 4,90%, a R$ 5,43. No ano, elas acumulam queda de 35,3%.