A plataforma de investimentos offshore Avenue está acrescentando mais uma classe de ativos a sua prateleira. Depois de atuar com ações, ADRs, Reits, ETFs, fundos de investimentos e bonds, a corretora está colocando os seus pés no segmento de fundos voltados exclusivamente ao mercado privado, como os de private equity e private debt.
Neste primeiro momento, a Avenue irá disponibilizar 10 fundos de investimento. Entre os nomes confirmados estão produtos da KKR, Apollo, Morgan Stanley, Blue Owl, BlackRock, Morgan Stanley e Goldman Sachs.
As estratégias abrangem diferentes teses, incluindo infraestrutura, crédito privado, real estate, fundos multiativos e private equity. “A ideia é começar com um pouco de cada produto em cada classe de ativo e, gradualmente, expandir a prateleira”, diz Lucas Santos, head de fundos da Avenue ao NeoFeed.
A intenção é dar ao investidor de varejo uma chance de se aproveitar do crescimento dos mercados privados, que tem permitido que muitas empresas se desenvolvam sem precisar abrir capital. Rodadas de captação envolvendo companhias de inteligência artificial, por exemplo, vêm mostrando que é possível alcançar valuations bilionários mesmo fora da bolsa.
Casos como o da OpenAI e da SpaceX ilustram esse movimento: avaliadas recentemente em US$ 500 bilhões e US$ 400 bilhões, respectivamente. Se fossem de capital aberto, ambas estariam entre as 30 maiores companhias do mundo.
A oferta da Avenue não deverá ser restrita a fundos com ativos somente nos Estados Unidos. O objetivo, segundo Santos, é dar acesso às melhores oportunidades no exterior, independentemente da geografia.
“Um exemplo são produtos da Goldman Sachs que investiram em crédito na Europa. Vão ter [fundos com] ativos na Europa, na Ásia. Vai muito de casa a casa e da oportunidade que o alocador está enxergando.”
Um exemplo dessa potencial exposição global está no fundo de infraestrutura da KKR, gestora americana com mais de US$ 600 bilhões em investimentos, sendo US$ 90 bilhões nessa estratégia. Essa cifra inclui participação em infraestrutura de fibra óptica da TIM, ativos de gasoduto no Oriente Médio em investimento na ADNOC e em redes elétricas da Austrália por meio da Spark Infrastructure.
É natural, no entanto, que grande parte desses investimentos estejam nos Estados Unidos, dado as oportunidades no país. O executivo da Avenue conta, por exemplo, que, por meio de um fundo da Blue Owl, os investidores poderão ter acesso a crédito atrelado à construção de data centers para grandes companhias, como Open AI e Oracle.
Os fundos estarão disponíveis para todos os investidores da plataforma, independentemente do patrimônio ou grau de qualificação. As únicas barreiras serão o suitability, já que os produtos são voltados a perfis mais arrojados, e o tíquete de entrada.
O aporte mínimo será de US$ 10 mil – valor que, embora represente um montante relevante para o varejo, está bem abaixo dos patamares tradicionalmente exigidos por esse tipo de fundo, que costumam passar de US$ 250 mil.
A Avenue já contava com cerca de 600 fundos em sua plataforma, mas até então nenhum deles era focado exclusivamente em ativos privados. Eram, em geral, estruturas voltadas à gestão de ativos públicos, com liquidez e estratégia mais próximas do mercado tradicional.
No primeiro semestre, a estrutura de fundos líquidos da Avenue passou a incluir também produtos de gestoras brasileiras com foco em ativos no exterior. Entre os nomes que já chegaram à prateleira estão Itaú, BTG Pactual e Verde Asset. Segundo Santos, as gestoras brasileiras também deverão reforçar, em breve, a grade da Avenue de fundos voltados para o mercado privado.
“Tem algumas casas com quem já estamos discutindo. São muitas, hoje, com presença no Brasil e participação relevante também no exterior. Acreditamos que pode haver muito apetite [do investidor]”, diz ele.
A oferta dos novos fundos na plataforma é viabilizada por estruturas do tipo fundos semi-líquidos e evergreen, modelo que cresce no mercado americano como forma de levar produtos alternativos ao varejo.
Esses formatos permitem que o fundo permaneça aberto continuamente a novos aportes e, ao mesmo tempo, ofereça condições de liquidez para o investidor. Os resgates são feitos em janelas trimestrais, com limite de retirada por período e possibilidade de penalidades em caso de saída antecipada, dependendo da gestora e do fundo.
Entre 2020 e 2024, o número de fundos semi-líquidos quase dobrou, de 238 para 455, segundo dados da Deloitte, com o montante sob gestão quase triplicando, de US$ 126 bilhões para US$ 349 bilhões. A projeção da Deloitte é de que o volume possa chegar a US$ 1 trilhão até 2030.
Santos explica que é comum nessas estruturas que a própria gestora estabeleça um limite de resgate permitido por trimestre e, em casos em que os resgates excedem o permitido, é feito um rateio.
“Pode ser que o investidor não consiga recuperar 100% do valor em uma única janela. Isso dá previsibilidade para o gestor organizar os fluxos, o que também ajuda a oferecer o fundo a um tíquete mais baixo”, afirma.
Essa maior alocação nos mercados privados nos Estados Unidos, inclusive, tem feito especialistas locais recomendarem uma proporção fixa do portfólio em ativos alternativos, alterando o tradicional 60% em ações e 40% em renda fixa.
O J.P. Morgan, por exemplo, defende que clientes sofisticados tenham até 30% em ativos ilíquidos, próximo do que da proporção tradicionalmente investida por endowments nesse segmento.
“É uma classe que ajuda a aumentar seu retorno e reduzir sua volatilidade do portfólio ao longo do tempo. Mas é preciso ter em mente que é um investimento de longo prazo”, diz o especialista.
A Avenue não abre dados de volume que tem sob gestão. Mas seu volume de captação tem crescido em 2025. Em julho deste ano, de acordo com reportagem do NeoFeed, a plataforma de investimentos offshore havia captado um total de R$ 2,5 bilhões em recursos, consolidando o maior volume mensal já registrado desde a sua fundação, em 2018