Há exatamente um ano, Marcos Magalhães assumia o comando do BS2, banco digital da família Pentagna Guimarães, com a tarefa de mudar completamente o foco da instituição financeira. Leia-se: deixar o competitivo mercado de contas para pessoas físicas para centrar suas atenções no mundo dos PJs. Desde então, Magalhães vem liderando um processo de desinvestimento.
Em pouco tempo, vendeu a operação da Bit55, plataforma de processamento de cartões de débito e crédito, para a Magalu; iniciou a transferência dos 700 mil clientes PFs para o banco digital Next; vendeu a sua DTVM para a Galapagos Capital; e, nas próximas semanas, conclui a venda de sua Asset para a Faros Investimentos. “Agora, vamos respirar 100% a nossa agenda de PJ”, diz Magalhães ao NeoFeed.
Mais do que respirar, o banco da família mineira Pentagna Guimarães acaba de dar um passo que poderá dobrar a sua base atual de 200 mil clientes PJ e, de quebra, trazer a Algar Telecom para o seu quadro de acionistas. A instituição financeira será o motor por trás de uma solução de banking para pequenas e médias empresas atendidas pela operadora de telefonia mineira com presença em 16 estados mais o Distrito Federal (DF).
Trata-se de um universo de 200 mil empresas com faturamento entre R$ 1 milhão e R$ 300 milhões. Pelo acertado entre as partes, será ofertada aos clientes da Algar Telecom uma conta bancária com a cara da empresa de telefonia “powered by BS2”. As duas companhias dividirão as receitas geradas por esses clientes. E a Algar Telecom terá a opção de converter isso em participação acionária do banco.
O contrato tem duração de 10 anos e essa decisão sobre a conversão será tomada ao longo do tempo em comum acordo. “Estamos esperançosos de que essa parceria evolua para essa expectativa de participação acionária. Mas vamos decidir quando estivermos operando”, diz Zaima Milazzo, diretora de inovação da Algar Telecom, ao NeoFeed. O banco e a Algar ainda não definiram um piso e nem um teto de quanto seria a participação.
Nos últimos tempos, grandes operadoras passaram a criar joint ventures com outras companhias para otimizar a enorme base de clientes e oferecer outros serviços. A Vivo, por exemplo, tem uma parceria com a Ânima na área de educação. A TIM, por sua vez, tem com a Cogna nessa mesma área e uma outra com o C6 Bank no setor financeiro.
A do C6 Bank com a operadora de telefonia italiana é, inclusive, alvo de uma disputa entre ambas em uma câmara de arbitragem. Em 2020, as duas empresas definiram que os clientes da TIM que abrem conta no banco digital ganham bônus em pacote de dados. Em troca, a operadora teria o direito de subscrever ações do C6.
Nesse formato, a operadora teria levado 3 milhões de clientes para o C6 Bank até o fim do ano passado. Mas o banco, que recebeu um investimento bilionário do J.P.Morgan, quer encerrar a parceria. Já a TIM não quer saber disso. Indagada sobre riscos como esse, Zaima é sucinta. “Estudamos todos os casos de parcerias que existem no mercado”, diz.
Atualmente, a Algar já oferece outros serviços além de fibra e telefonia para a base de clientes PJ. Vende soluções de TI, de RH e até de marketing digital. Ao pesquisar as dores dos clientes, percebeu que uma das dificuldades era o acesso ao crédito. Foi aí que a companhia começou a buscar um parceiro de banking. As conversas foram iniciadas há um ano e meio.
“Temos uma estratégia de ampliar cada vez mais a oferta de serviços para esse segmento”, diz Zaima. “O acesso a crédito é uma dor muito latente para esse público e precisávamos de um parceiro que pudesse nos complementar com um portfólio de serviços financeiros que resolvesse isso.”
A Algar Telecom vai fazer toda a ponte com os clientes e o BS2 vai prover toda a experiência bancária e oferta de serviços. “Vamos acompanhar esses clientes conjuntamente”, diz Zaima. Magalhães complementa. “De seguros a adquirência, de crédito a conta digital, esses clientes terão acesso a tudo. Além disso, criaremos produtos sob medida para eles.”
Atualmente, o BS2, com R$ 13,5 bilhões em ativos, conta com uma carteira de crédito e antecipação de recebíveis de cartões de R$ 4,5 bilhões. “Olhando para frente, queremos reduzir a antecipação de recebíveis do banco e manter isso na operação de adquirência”, diz Magalhães. No caso das contas PJs, a ideia é fortalecer a área de crédito tradicional. “Temos condições de operar uma carteira pura de crédito entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões”, afirma.