O Banco Pan anunciou recentemente a chegada do apresentador Luciano Huck como novo membro do conselho de administração ao mesmo tempo em que revelou ter batido recorde ao atingir 12,4 milhões de clientes. São fatos que saltam aos olhos. Mas é no chamado arroz com feijão que a instituição financeira continua se destacando.
Uma das áreas que chama atenção é a do crédito para a compra de veículos. Na apresentação de resultados do segundo trimestre deste ano, o Pan mostrou que essa carteira alcançou R$ 13,54 bilhões, uma alta de 7,9% em relação aos R$ 12,55 bilhões do primeiro trimestre deste ano e um salto de 43% se comparado aos R$ 9,45 bilhões reportados no segundo trimestre de 2020.
E, a julgar pelo seu mais recente movimento, o financiamento de veículos dará um grande salto. A companhia acaba de comprar 80% das ações da Mobiauto, uma plataforma digital B2C e B2B na área de veículos leves, como automóveis e motocicletas.
“A Mobiauto é muito complementar. O Pan tem uma atuação bem relevante em financiamento de veículos leves e motos e a Mobiauto tem produtos muito interessantes para o lojista, que é nosso parceiro”, diz Mauro Dutra, CFO do Banco Pan, ao NeoFeed.
O objetivo do Banco Pan é aumentar ainda mais os pontos de contato com revendedores e ter acesso a uma base enorme de clientes. São 4,6 milhões de acessos por mês, 10 mil lojistas conectados na plataforma de classificados online e 115 mil veículos anunciados. Trata-se da primeira aquisição desde que o BTG Pactual assumiu 100% do capital votante do Banco Pan.
O valor do negócio não foi revelado. Mas um dos principais ganhos com a transação é aumentar a participação do Pan no ecossistema de compra e venda de carros. Quando um cliente pesquisar um veículo, a ideia é o Banco Pan aparecer oferecendo a simulação e o financiamento do veículo. E até vender seguro. A aquisição da plataforma também aumenta o número de lojas que trabalham com o Pan.
Hoje, o Pan tem relacionamento com 19 mil lojistas e a Mobiauto com outros 10 mil lojistas. Da base do Pan, só 20% já trabalham com a Mobiauto. Além de classificados, a startup também oferece outros serviços para os lojistas. Ajuda com ferramentas de consultas automatizadas de estoque e com anúncio em outras plataformas. Para ter acesso a esse e outros serviços, os lojistas pagam mensalidades entre R$ 300,00 e até R$ 2 mil.
Outra modalidade que traz receita é o que a plataforma chama de Repasse, para auxiliar bancos, locadoras e seguradoras a venderem suas frotas de carros usados para lojistas. Neste caso, a Mobiauto ganha uma comissão ao redor de R$ 280,00 por veículo vendido.
“Faltava para a gente uma empresa como uma Mobiauto. Nossos concorrentes têm plataformas digitais”, diz Alex Sander Gonçalves, diretor comercial e de produtos do Banco Pan. “Se você quer ser relevante, tem que ter uma plataforma digital.”
O Santander, um dos mais fortes, com uma carteira de R$ 45 bilhões, é dono do Webmotors. O BV, com R$ 41,8 bilhões em financiamento de autos, tem muita presença física nas concessionárias e conta com a plataforma meucarronovo. O Itaú, por sua vez, tem uma carteira de crédito de R$ 25,8 bilhões e atua com a icarros.
Correndo por fora, startups como Creditas criaram braços voltados para a modalidade. A empresa do espanhol Sergio Furio, comprou a startup Volanty, incorporando na plataforma Creditas Auto e também investiu na fabricante de motos elétricas Voltz.
A startup mexicana Kavak também quer um pedaço considerável desse filão. Para isso, a companhia, que tem entre seus investidores os fundos Softbank e Kaszek (os mesmos da Creditas), desembarcou recentemente no Brasil e anunciou um investimento de R$ 2,5 bilhões na operação local.
Lição de casa
Nos últimos anos, fazendo a lição de casa internamente, o Banco Pan ficou fora do radar. Enquanto fintechs como Nubank e Inter brilhavam à medida em que aportes e follow-ons chegavam e os milhões de clientes aterrissavam, o Pan foi construindo sua trilha silenciosamente. E, é bom frisar, com a força do BTG Pactual por trás.
Em abril, o banco de André Esteves comprou a participação da Caixa no Pan por R$ 3,7 bilhões. Com isso, o BTG, que já era acionista, ficou com 100% do capital votante nas mãos e abriu uma grande avenida para atuar junto ao management e focar em verticais que trazem dinheiro.
“O Banco Pan é um negócio de banco tradicional que está trazendo a digitalização para a comodidade dos clientes e para fidelizar a base”, diz Carlos Daltozo, head de research da casa de análises Eleven. “Eles sabem atuar nos negócios que dão dinheiro. O Pan tem DNA de banco e de crédito”, afirma.
No segundo trimestre, o Pan apresentou uma carteira de crédito de R$ 32,4 bilhões, um patrimônio líquido de R$ 5,6 bilhões, um ROE de 14,7% e reportou um lucro líquido de R$ 202 milhões, o que representa 20,3% a mais do que no primeiro trimestre deste ano.
“O banco digital manteve o ritmo acelerado de crescimento visto no trimestre passado, mostrando uma adição de cerca de 40 mil contas por dia útil no 2T21 vs. 30 mil do banco Inter, o que deve sustentar o crescimento esperado da carteira de crédito”, escreveram Daltozo e o analista Raul Grego, da Eleven.
“Além da monetização tradicional através do crédito, o crescimento da base de clientes abre espaço para uma possível diversificação de receitas, como o lançamento de produtos relacionados à adquirência, marketplace e investimentos”, complementaram os analistas.
Dutra, do Pan, reforça essa visão. “O Pan está crescendo muito e temos o foco muito grande no uso de tecnologia para atender bem os nossos clientes e na ampliação do que temos em produtos e serviços”, diz. E prossegue. “A nossa oferta de crédito é completa, mas a nossa jornada com o cliente vai além do crédito: temos banking, seguros, o nosso negócio de adquirência, investimentos, saúde.”
Com um valor de mercado de R$ 18,99 bilhões e uma ação que, na sexta-feira, 10 de setembro, fechou cotada em R$ 15,76, os analistas da Eleven estipularam um preço-alvo para o papel de R$ 29,00 em 2022. No ano, as ações do Banco Pan sobem 64,6%.