Em meio à queda dos juros e à estabilização da economia no Brasil, mais a perspectiva de relaxamento monetário nos Estados Unidos, uma das principais perguntas dos investidores é quando o mercado voltará a ver IPOs.
Para o BTG Pactual, essa é a grande dúvida para este ano. Enquanto os segmentos de dívida e M&A devem manter o bom desempenho visto principalmente no segundo semestre de 2023, a parte voltada para emissões ainda deve demorar para ganhar tração, fator que deve pesar sobre os resultados da área do investment banking (IB).
“A grande dúvida é o mercado de ações, que precisa dar uma melhoradinha para ganhar tração”, disse Renato Cohn, CFO do BTG Pactual, nesta segunda-feira, 5 de fevereiro, em entrevista coletiva para tratar dos resultados do quarto trimestre do ano passado. “Acho que ainda falta um pouco para termos uma melhora no mercado de emissão de ações.”
Segundo ele, existe uma série de empresas prontas para abrir o capital, mas que estão esperando a melhora do mercado para seguirem adiante. Considerando o tempo necessário para colocar de pé uma operação, a expectativa é de que os primeiros IPOs aconteçam no segundo trimestre.
“Tenho dúvidas se vamos conseguir fazer algo no primeiro trimestre”, disse Cohn. “Tem algumas operações anunciadas e se o mercado acelerar, essas operações devem ser mais para o segundo trimestre.”
A falta de um fluxo mais intenso de operações pesou sobre o desempenho do investment banking (IB) do BTG Pactual no ano passado. A área fechou 2023 com uma receita de R$ 1,6 bilhão, queda de 12,2% em relação a 2022. No quarto trimestre, a receita somou R$ 464 milhões, baixa de 21,3% na comparação trimestral e de 4,3% na anual.
A área de Equity Capital Market (ECM), responsável por IPOs e follow ons, registrou apenas três transações nos últimos três meses do ano passado, número igual ao mesmo período de 2022. No terceiro trimestre, o banco realizou nove transações, aproveitando um período de melhores condições no mercado.
O que ajudou a área de IB do BTG Pactual foi a parte de emissão de dívidas. O banco registrou no quarto trimestre um total de 49 transações, contra 25 no terceiro trimestre e 32 no quarto trimestre de 2022, se recuperando dos efeitos da crise da Americanas no começo de 2023.
“O mercado de DCM (Debt Capital Market) está muito forte, mantendo o desenvolvimento visto nos últimos três, quatro anos”, disse Cohn, esperando que 2024 seja igual ou melhor nesta frente.
Outra área que deve manter tração neste ano é a parte de fusões e aquisições (M&A), com Cohn dizendo que o banco está com um pipeline robusto. O número de transações somou 21 ao fim de 2023, acima das 11 registradas no terceiro trimestre e das seis operações no quarto trimestre de 2022.
Com a retomada da economia, a expectativa é de que o IB volte a ter efeitos positivos sobre os resultados do BTG Pactual, acompanhando as outras áreas, que apresentaram receita em alta. O banco se mostra otimista com as perspectivas para 2024, com as dificuldades enfrentadas em 2023 ficando no retrovisor.
“As expectativas para este ano são de continuidade do ganho da alavancagem operacional, com a receita crescendo acima das despesas”, afirmou Cohn. “A gente espera ROAE superior ao que atingimos este ano, que foi de 22,7% em 2023 [em 2022, foi de 20,8%].”
O BTG Pactual fechou o quarto trimestre com lucro líquido ajustado de R$ 2,8 bilhões, alta de 61,1%. No ano, ele registrou um ganho de R$ 10,4 bilhões, alta de 25,4%. O ROAE anualizado no quarto trimestre chegou a 23,4%.
A receita total cresceu 56% em relação ao quarto trimestre de 2022, para R$ 5,6 bilhões, enquanto a receita no acumulado de 2023 foi de R$ 21,5 bilhões, aumento de 25%. O banco registrou um total de R$ 41 bilhões em net new money, abaixo dos R$ 59 bilhões do terceiro trimestre. Sobre este ponto, Cohn disse que o resultado é positivo, considerando que o mercado enfrentou muitos resgates ao longo de 2023.
O patrimônio líquido somou R$ 49,4 bilhões, alta de 16,5%, e o Índice de Basileia passou de 15,1% no quarto trimestre de 2022 para 17,5% nos últimos três meses de 2023.
Por volta das 17h17, as units do BTG Pactual subiam 0,49%, a R$ 36,85. No ano, elas acumulam queda de 2%, com o valor de mercado somando R$ 124,1 bilhões.